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Anahí Portilla, Point Of View

Não tinha ideia nenhuma de como havia pego no sono. Lembrava-me apenas de entrar no quarto após a briga com Alfonso, me jogar na cama e chorar até que se se tornou impossível derramar qualquer lágrima. E apesar de saber que já havia amanhecido, permaneci de olhos fechados.

Não queria despertar de verdade e perceber que as coisas ainda estavam daquele jeito, que o mundo estava literalmente desabando em minha cabeça, e que o lado oposto ao meu continuava vazio.

E foi então que ouvi o barulho da porta sendo destrancada, e logo uma claridade enorme tomar conta do quarto. Sem ter por onde escapar, abri finalmente os olhos, e os meus lábios separaram-se de forma surpresa ao ver a minha querida sogra afastando as cortinas, e abrindo as janelas como se estivesse realmente no direito de fazer aquilo. Ela usava um terno cinza sofisticado, um par de sandálias com saltos rasos, e os fios brancos do cabelo estavam presos em um coque delicado.

_ Ruth?.- Estreitei os olhos na direção da mulher que virou para me encarar, as duas mãos na cintura.- O que está acontecendo? O que a senhora está fazendo aqui?

_ Alguém tem que colocar ordem nessa casa.- Ela respondeu enquanto se aproximava da cama, e em seguida livrava-me das cobertas.- Anda levanta, precisa de um banho e ficar bonita para o seu marido.

_ Do que você está falando?.- Perguntei realmente confusa. Coloquei os pés para fora da cama com certa dificuldade por estarem ambos inchados, e também pelo peso da barriga, e cocei os olhos ainda meio sonolenta.- Eu não estou entendendo.- Murmurei entre bocejos.

_ Graças a minha neta, eu fiquei sabendo que as coisas entre você e o meu filho não estão na melhor fase.- Ruth explicou, e rapidamente dirigiu-se até ao meu closet, e regressou com roupas limpas e uma toalha branca.- O que eu achei uma autêntica bobagem. Vocês jovens, gostam de dificultar as coisas.

_ Você não precisava deixar as suas coisas por um motivo tão bobo.

_ Eu viria de qualquer jeito, Anahí. Os meus netos estão para nascer, e vocês irão precisar de toda ajuda possível.- Ela falou, e eu apenas maneei a cabeça positivamente. Talvez pelo sono, ou pela sensação de que não viria boa coisa daquela visita, que eu não consegui abrir a minha boca para mais nada.

Deixei-me ser levada com todo cuidado para o banheiro, e enquanto ela enxia a banheira com água quente e colocava sais de banho nela, aproveitei para escovar os dentes. Ruth ajudou-me a entrar na banheira, e deu banho em mim como se eu ainda fosse uma criança. Mas, apesar do constrangimento inicial, eu gostei de ter alguém cuidando de mim, como se fosse um cristal muito raro, e por um momento, um mísero momento, lembrei de Alfonso e os meus olhos arderam pelas lágrimas. Porque por mais que eu gritasse para quem quisesse ouvir que eu poderia e sabia cuidar perfeitamente de mim, eu amava o zelo e o carinho com que ele me tratava.

Eu sentia a falta dele!

A saudade estava literalmente impregnada em cada poro da minha pele.

_ Enquanto você se arruma, irei até a cozinha ver se a minha neta terminou de preparar o café da manhã.- Ruth depositou um beijo delicado em minha testa, e logo saiu do quarto.

Assim que vi-me novamente sozinha, sentei na poltrona que ficava perto da minha penteadeira, e soltei o ar que estava prendendo desde que os meus olhos enxergaram aquela mulher, e a certeza de que eu estava fazendo uma merda atrás da outra atingiu-me com força total. Enxuguei a primeira lágrima que caiu e balancei a cabeça de um lado para o outro em uma tentativa de afastar aquela angustia e o aperto no peito.

O vestido azul com estampas amarelas ficou relativamente justo na cintura, realçando perfeitamente a minha barriga. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo, e saí do quarto após verificar o meu semblante no espelho.

Destino? TalvezOnde histórias criam vida. Descubra agora