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Narradora Point Of View

Existe um momento entre o sonho e a realidade, que você fica presa entre dois mundos completamente distintos. E era exatamente assim que Rosalie se sentia naquele momento, como se o seu corpo estivesse ali, sentado naquela cadeira, de frente para os pais que certamente lhe encaravam com preocupação, e sua mente estivesse em outra dimensão, perdida em um milhão de distintas realidades. 

Acabara de escutar com todas as letras que Robert era na verdade seu pai biológico, e não sabia exatamente como reagir. 

_ Rose...- Anahí chamou em voz baixa e em troca recebeu um olhar indecifrável.

_ Por que não contou para mim desde o primeiro momento?.- Perguntou, os olhos vermelhos, o semblante fechado, o coração batendo duas vezes bem mais rápido. Alfonso observava tudo no mais absoluto silêncio, apenas esperando o momento certo para intervir.- Foi por isso que a senhora passou mal aquele dia no restaurante? Por ter chegado a conclusão que o mesmo homem que esbarrou em mim naquele dia, era na verdade o meu...- Rosalie engoliu em seco assim  que tomou conhecimento do que estava prestes a dizer. Não parecia justo referir-se a Robert como seu pai, quando o mesmo nunca se comportou como tal; quando o único homem e pai que ela realmente conhecia estava sentado bem na sua frente.

_ Eu queria ter tido a coragem de contar a você muito antes.- A escritora falou sem deixar de encarar a filha.- Eu só...eu não queria que você desse um rosto ao homem que nos fez tanto mal.

_ E não passou pela sua cabeça que seria importante para mim ter noção de com quem eu estava lidando, mãe?

_ Pelo amor de Deus, Rosalie! Eu não tinha como saber desse seu interesse em querer conhecer aquele filho da puta, se desde o primeiro momento você se negou a falar sobre tudo que o envolvia.- Anahí rebateu já sem muita paciência, e logo sentiu um aperto mais forte no joelho, era Alfonso lhe pedindo para manter a calma.- Não venha agir como se eu fosse a vilã dessa história.- Avisou, o semblante frio.

_ Eu só...ok.- A menor suspirou, levando as duas mãos até a raiz do cabelo.- O que mudou agora? Eu não acredito que a senhora resolveu contar quem é o meu pai biológico por pura bondade.- Disse, o tom irónico praticamente escorrendo pela boca. Dava para sentir a tensão, o clima desconfortável e a apreensão de longe.

_ Mudou que agora você tem uma irmã que precisa de você.- A escritora resolveu abrir o jogo de uma só vez para poupar tempo e desgaste psicológico. Tentar procurar palavras bonitas para explicar aquela situação fodidamente confusa, não amenizaria em nada o sofrimento das duas, pelo contrário.- Ela está com uma doença degenerativa grave, e precisa fazer um transplante o quanto antes, aparentemente você é a nossa única esperança, caso seja compatível, claro.

Alfonso viu o exato momento em que uma lágrima solitária escorreu pelo rosto da filha, lágrima essa que ela tratou de enxugar rapidamente antes que originasse muitas outras, e pensou que aquilo estava sendo bem mais difícil de gerir do que realmente achou que seria. Rosalie sempre foi muito sensível, apesar de toda aquela pose de " eu sou durona e nada me afeta", ela era o tipo de pessoa que chorava as escondidas só para não demonstrar o quanto uma determinada situação a afetou. E vê-la naquele estado: olhos vermelhos, o semblante contorcido em uma careta desgostosa, a postura defensiva como se estivesse esperando o próximo ataque, partia-lhe o coração em diversos pedacinhos.

_ O que faz pensar que eu aceitaria me submeter a uma bateria de exames para tentar salvar uma pessoa que não conheço?.- Perguntou, a voz beirando a raiva e até mesmo confusão.- Eu posso me negar a isso e ninguém pode me obrigar a nada.

_ Realmente não podemos obriga-la a fazer nada que não queira.- Alfonso se pronunciou pela primeira vez, chamando a atenção da menor que baixou a cabeça para fitar o chão.- Mas, eu sei que apesar de toda confusão e raiva que esteja sentindo no momento, você não negaria ajuda a alguém que está precisando. Principalmente quando esse alguém não tem culpa de nada. Não foi assim que nós lhe educamos, filha.

Destino? TalvezOnde histórias criam vida. Descubra agora