10 - NÃO ACONTECEU NADA ENTRE NÓS DOIS

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HENRIQUE

Lázaro me entupiu de questionamentos assim que Amora bateu a porta. Nunca quis tanto ser uma pessoa reclusa como naquele momento. Estávamos sentados à mesa da cozinha, bebendo algumas cervejas.

- Vou falar pela última vez: NÃO ACONTECEU NADA ENTRE NÓS DOIS. Entendeu?

- Não sei se fico puto ou parabenizo pela força de vontade - cai em gargalhada.

- Está de sacanagem? - pergunto, de sobrancelha arqueada e dou um gole na cerveja que está quase no fim.

- Convenhamos que a garota é um pedaço de mau caminho, né? Pelo amor de Deus, nunca pensei que Igor geraria uma mulher tão bonita.

O encaro, em silêncio. Percebi ali que, se fosse Lázaro em meu lugar, provavelmente já teria cedido às investidas de Amora. Não entendo o porquê, mas um sentimento extremamente desagradável alcança a boca de meu estômago.

Lázaro percebe meu silêncio repentino e da um tapa em meu ombro.

- Falei alguma mentira? - pergunta, rindo.

- Ela não é isso tudo - dou de ombros.

- Tu gosta de mulher? - pergunta Lázaro, espantado.

- Gosto, mas Amora mal saiu das fraldas. Como vou me atrair por alguém assim? - minto. Se que se pensasse daquela forma, minha vida seria muito mais fácil - Acho que cansei dessa vida de solteiro. Só sexo já não vale mais a pena.

- Quem não te conhece que te compre! - diz Lázaro, sem conseguir conter a gargalhada. Eu o encaro e rio junto. Sabemos que essa vida não é para mim.

- Ah, Lázaro. Ela é gostosinha sim, mas não faz meu tipo. Quer dizer, se não fosse filha do Igor... Mas é. Então, sem cogitações.

- Se você diz, eu acredito - sorri, dando uma longa e demorada golada na cerveja que havia colocado em uma de minhas canecas.

Conversamos durante algumas horas e, quando percebemos, o relógio estava prestas a bater duas da matina. Ótimo, era só o que faltava: além de estar com ressaca, teria que ir ao trabalhado praticamente virado.

***

Segundas-feiras são particularmente difíceis para mim. Lidar com a presença de todos os funcionários era algo um tanto quanto desagradável, afinal, gostava de estar sozinho com meus pensamentos. E agora que o bendito Baile de Gala tinha acontecido, teria que aguentar meus não tão queridos estagiários. Por mais que ajudassem na demanda de serviço, gostava bastante de trabalhar sozinho.

Falhei miseravelmente na missão de acordar no horário certo do expediente. A única parte boa de ser o chefe é que isso não importava tanto quanto se acontecesse com qualquer outro funcionário.

Inicialmente, meu turno começaria às 6h, mas só consegui chegar às 8h. Comecei a semana bem. Muito bem.

O ambiente que geralmente era silencioso estava tomado por um enorme falatório e risadas desinibidas. O comportamento continuou péssimo, mesmo com a minha chegada.

Quando me aproximei da entrada de minha sala, entendi o motivo daquilo tudo. Amora estava se acabando de rir com Roger, meu estagiário.

Roger era o típico padrãozinho adolescente. Olhos claros, cabelos loiros e porte físico de atleta. Até fiquei surpreso de não ter cogitado o envolvimento dos dois quando soube que trabalharia aqui. De qualquer forma, por mais que relacionamentos no ambiente de trabalho me desagradassem, aquilo seria positivo, afinal, não teria mais que lidar com Amora e seus feromônios.

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