35 - Ei, baby girl

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AMORA

*Conteúdo sensível

A boate estava lotada! Olhar para a entrada daquele lugar dava a impressão de que alguém sairia voando pela janela. E era exatamente por isso que aquele lugar era perfeito para espairecer a mente. Eu precisava dançar, extravasar e nada como pessoas bêbadas e aleatórias dançando ao meu redor para isso.

Ficamos durante alguns minutos na fila, aguardando. Assim que chegou nossa vez, Ava reconheceu o segurança. Era o ex-namorado de seu pai. Resumindo: conseguimos entrar de forma gratuita, o que foi um alivio, porque o ingresso estava extremamente caro naquele dia, devido a atração principal.

Eu estava desde manhã sem trocar sequer uma palavra com Elioth, e, ao que parecia, ele não fazia questão de entrar em contato, pois, desde a mensagem que mandou ao sair de meu apartamento, não falou mais nada. Mas foda-se, eu não vivia para o nosso relacionamento. Se ele não quisesse me dar atenção, sem duvidas alguém daria.

Não, eu não pretendia trair meu namorado. Isso é completamente contrário aos meus princípios, principalmente depois de ver como minha mãe ficou depois das atitudes de meu pai. Mas isso não mudava o fato de gostar de ser admirada e cativada por conta da minha beleza. Aquilo aumentava minha autoestima de uma maneira surreal, e era exatamente disso que eu estava precisando.

Aquela havia sido a primeira vez que Elioth saiu sem me dar um beijo de despedida. Sempre tínhamos em mente que poderia ser nosso último contato, afinal, a vida é inconstante, e nunca sabemos o que pode acontecer em seguida. Acidentes de carro, balas perdidas... Como já dizia Pitty, "não deixe nada para semana que vem, porque semana que vem, pode nem chegar". Era algo que não abríamos mão, desde o início de nosso relacionamento. Mas pelo visto, a presença da mascotinha realmente mexeu muito com sua cabeça.

Mas foda-se. Eu estava em um lugar animado, cheio de corpos se misturando e com um puta show de funk prestes a acontecer. Bom, não fazia ideia de quem era o tal "MC Mike". Só sei que era famoso, e nada além disso. Na verdade, apenas tinha duas certezas naquela noite: encheria a cara e arrumaria alguma forma de dançar no palco.

Arrumamos um canto próximo ao bar da boate, o que foi uma grande sorte. Ava estava rebolando como se não houvesse amanhã, e isso me empolgava de uma forma surreal.

Minha colega tinha cabelos loiros ondulados, era alta como eu, só que bem mais magra. Ela não fazia questão de praticar esportes, tampouco de ser saudável. A filha da puta não engordava, então acabou se abraçando a realidade de fast food dia sim, dia não. Mas isso não é problema meu.

Antes de acompanha-la nos movimentos, fiz questão de tomar algumas bebidas para esquentar o copo. Eis que enquanto estou colocando uma dose de tequila para dentro, sou abordada por um cara que tinha uma pequena cruz tatuada ao lado do olho esquerdo e prótese de ouro nos dentes de baixo. Admito que aquela figura era no mínimo interessante, e fiquei levemente (muito) tentada em provocá-lo, apenas para elevar minha confiança. Sim, sei que é errado, mas foda-se! Meu relacionamento estava passando por uma crise fodida e o cara que me fez sofrer como uma cachorra estava morando no apartamento ao lado do meu, e pior... namorando.

- E aí, baby girl - Diz o cara, sorrindo. Se ele soubesse como aquela frase era broxante, jamais teria sequer pensado em falar.

- Chamar uma garota de baby girl consegue ser pior do que chamar de "moça" - debocho, jogo a tequila para dentro e chupo um limão.

Ele me encara e ri, levando aquela frase como algum tipo de provocação.

- O que uma mulher como você está fazendo sozinha aqui? Não tem namorado? - Se apoia ao meu lado. Ele usava uma blusa larga de algum jogador de basquete e uma bermuda bege.

- Estou passando por uma puta crise no relacionamento! - dou um sorriso, pego a segunda tequila que havia comprado, jogo para dentro e faço careta.

- Ei, gata, vai com calma - ele sorri e afasta a última tequila que tinha comprado.

- Gata é menos pior que baby girl - sorrio com deboche -, mas o que você está querendo aqui? Não tem nada de mais interessante para fazer?

Estávamos em um lugar isolado do bar da boate e, por mais que tudo estivesse lotado, aquele canto parecia não ser notado por ninguém.

- Só mais tarde - ele sorri, me encarando de cima a baixo.

- Entendi. Mas será que posso ficar sozinha?

- Você não sabe quem eu sou? - Ele me encara, confuso. Acho que estava aguardando algum reconhecimento, ou algo do tipo. Ótimo, era só o que me faltava.

- Já estudamos juntos? - Pergunto, arqueando uma das sobrancelhas e puxando a tequila que ele havia afastado.

Ele dá uma gargalhada gostosa. O timbre da sua voz era bom, e dava vontade de ficar o ouvindo falar durante horas. A risada era mais ainda.

- Qual o seu nome, princesa?

- Ué?! Se você não me conhece, por que eu te conheceria?

Ele me encara de cima a baixo mais uma vez e aproxima o rosto de meu ouvido.

- Eu sou o MC Mike, princesa.

Dou uma risada e o encaro, debochada.

- Se você é mesmo o tal do MC Mike, o que está fazendo fora do camarim? Pelo que fiquei sabendo, ele é famoso, e não tem ninguém em cima de você.

- Gata, não sei se você reparou, mas meus seguranças estão nos cercando - ele aponta.

Olho ao redor e observo homens altos de terno próximos às nossas cadeiras, o que me deixa extremamente envergonhada. Algumas pessoas tentavam ultrapassar seus corpos, mas em vão.

- Meu Deus, tem uma pessoa famosa falando comigo! - Falei alto. Já estava bêbada, o que me fazia falar um pouco arrastado.

MC Mike sorri e me encara.

- Me fala mais sobre você. E esse relacionamento, tem jeito ou pode vir até o camarim comigo?

Olho para ele e não consigo segurar o riso.

- Está achando que sou o que, em? Alguma fã maluca que viraria o mundo ao avesso para ir à cama com você? Pelo amor de Deus, me poupe.

- Uou, eu gostei dessa sua personalidade - sorri, se aproximando ainda mais.

- Olha - sorrio - não sei se meu relacionamento tem jeito. A ex-namorada de infância voltou ao Brasil e isso fodeu com a cabeça dele. Mas isso não significa que vá para o camarim com você - dou de ombros.

- Então vamos fazer o seguinte... Meu show vai começar daqui a cinco minutos. Você vem no palco comigo e depois tomamos um drink.

- E por um acaso você sabe se sei dançar? Posso muito bem te fazer passar uma puta vergonha  - arqueio a sobrancelha.

- Vou correr o risco - ele sorri.

- Eu vou aceitar só porque estou com muita vontade de dançar no palco.

Ele sorri, pega minha mão e me puxa em direção aos seus seguranças. Solto-me dele e corro até Ava, que estava sarrando em um garoto aleatório.

- AMIGA! - Grito para que pudesse me ouvir - JÁ VOLTO!

- O QUE VOCÊ VAI FAZER? - Ela pergunta, preocupada. Ava não sabia exatamente o que tinha acontecido, mas tinha noção de que meu relacionamento estava passando por uma crise fodida.

- FICA TRANQUILA - dou um sorrisinho cínico - VOCÊ VAI VER.

Ela me fuzila com os olhos, mas cede e sorri - CUIDADO!

Vou correndo em direção a MC Mike, que me esperava ao lado dos homens de preto. Não, eu não planejava ter nada com ele, mas queria DEMAIS rebolar a bunda naquele palco. Seria a forma perfeita de espairecer de toda aquela merda.

Doce como Amora ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora