21 - VOCÊ FALA QUE TEM SENTIMENTOS POR MIM E FODE COM PRIMEIRA QUE APARECE?!

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HENRIQUE

- Aí sim, em? Caralho, que orgulho! - diz Igor, dando um tapa no meu ombro.

Amora me encarou friamente, e pude observar algumas lágrimas se formarem em seus olhos. Senti meu corpo gelar por inteiro, acho que não seria capaz de vê-la chorar por minha culpa. Não me arrependia do sexo, mas sim de como tinha lidado com aquela situação. Ela não merecia isso.

- E aí, Igor... Quer entrar para tomar uma cerveja?

- Pô, cara, pior que nem dá. Tenho um jantar marcado com Larissa, Janna e Lázaro. Sabe como é, né? Encontro de casais - revira os olhos - mas deixa eu te falar... mandou bem, hein? - aproximou-se para que Amora não ouvisse - já comi essa aí e ela fode bem para um caralho. Se deu bem! - solta uma gargalhada.

- Pai, é melhor o senhor ir. Estou cansada, preciso de um banho e dormir - encara Igor, abatida. Aquelas feições estavam acabando comigo de uma forma inexplicável. Que vontade sentia de abraçá-la e pedir desculpas até não aguentar mais... Porra, eu sou um filho da puta mesmo.

- Tem razão - vira-se para ela - até amanhã, meu amor - beija o topo de sua cabeça.

Assim que Igor sai, Amora tem a única reação que imaginei que não teria. A garota vem em minha direção, entra no apartamento e para na sala, de braços cruzados.

- QUE PORRA É ESSA? ENTÃO QUER DIZER QUE VOCÊ FALA QUE TEM SENTIMENTOS POR MIM E NO MESMO DIA FODE COM PRIMEIRA QUE APARECE?! - vem em minha direção e dá alguns socos fortes em minha barriga - VOCÊ SÓ PODE ESTAR DE SACANAGEM! CARALHO, HENRIQUE!!! VOCÊ É UM FILHO DA PUTA.

- Amora, eu estava surtado! Pelo amor de Deus, calma, não precisa gritar assim! - tento afastá-la, sem sucesso. Ela estava disposta em me machucar. Talvez até merecesse, mas não gostava nem um pouco de sentir dor.

- Cara... - desiste e limpa uma lágrima que descia em seu rosto - só aparecem homens filhos da puta na minha vida. Lucas, você... Que dedo podre do caralho.

- Amora, me escute. - sento no sofá, e ela senta em seguida.

- Fala - enxuga as lágrimas que insistiam em cair.

- Se eu te falar que estou arrependido de ter feito o que fiz, estarei mentindo. Eu precisava colocar a cabeça no lugar para poder entender os meus sentimentos.

- E é assim que você entende seus sentimentos? Fodendo com uma qualquer? - fala entredentes. A tristeza que tomava conta de seu rosto desaparecia aos poucos, dando espaço à raiva.

- Não fale assim. Tanto ela quanto eu estamos passando por momentos turbulentos se tratando de sentimentos. Eu sinceramente não sei reagir a isso.

- Como assim, cara? Meu Deus, como é possível gostar de uma pessoa como você? Eu já sabia que não valia nada, mas admito que me surpreendeu com essa. Porra, é tão difícil ter responsabilidade emocional? - revira os olhos - Você é um babaca! E eu sou pior ainda por gostar tanto de ti.

- Porra Amora, pelo amor de Deus! Pare de ser infantil! - levanto-me e vou até a cozinha - Eu fui abandonado por minha esposa há alguns anos, e você sabe disso. SABE que eu aboli sentimentos da minha vida!

Ela me observa silenciosamente, esperando como aquele assunto iria terminar.

- Aí você aparece, me provocando da forma que fez..., até aí tudo bem, foi divertido. Mas aí, Amora, você se mostrou ser muito mais que uma mulher gostosa. Isso me deixou louco, porra!

- Daí você foi lá e fodeu com ela?

- Caralho, Amora! CARALHO! - abro a geladeira com mais força que deveria, pego uma latinha de refrigerante para ajudar na ressaca e fecho com ainda mais violência - EU GOSTO DE VOCÊ, ENTENDE? EU GOSTO! E PORRA, EU NÃO SEI GOSTAR DE ALGUÉM!

Amora levanta e cruza os braços. Dá para ver a mágoa em seus olhos.

- Você poderia ter falado algo, Henrique. Não saber gostar não justifica ser filho da puta. E eu te dei oportunidade para isso.

- Não, Amora... Você me pressionou. - abro o refrigerante - eu ainda estou completamente perdido dentro desse emaranhado de sentimentos, daí você ficou falando essas coisas e... sei lá, eu surtei. Acabei me auto sabotando, mas agora já aconteceu. Não tenho como voltar atrás.

- Olha, eu entendo o seu surto. Mas... desculpa, eu não consigo aceitar. As coisas poderiam ter sido resolvidas de outra forma e, por mais que você me chame de infantil, quem agiu e continua agindo dessa forma agora é você.

- Não precisa pedir desculpas. Eu não saber lidar com toda essa merda não tem nada a ver contigo... muito pelo contrário. É um problema única e exclusivamente meu. Mas e agora, como ficamos? - pergunto, segurando as lágrimas.

Sempre me disseram que meu corpo tatuado e a cara de "bad-boy" era apenas uma máscara de um manteiga derretida. Ali, pude ter certeza que a afirmação era mais certeira do que nunca.

Eu sabia que em certo momento acabaria gostando de alguém, e não aceitava muito bem essa ideia. Porra, eu sofri para um caralho com Ingrid. Para ter ideia, vez ou outra ainda pensava naquela filha da puta. Ela me abalou de uma forma que só Deus explica. Demorei para me reerguer e, durante uma época, até na cocaína me enfiei. Não conseguia esquecê-la, e aquilo me perturbava num grau perigoso.

Resumindo: foi difícil deixar o passado para trás, mas consegui. Vivi bem mantendo distância dessa merda até então, mas daí, aquela garota de 18 anos vem e desmonta meu castelo com suas provocações. Cara, se fosse qualquer outra mulher da mesma idade, seria menos pior, mas caralho, tinha que ter saído do meu melhor amigo? Isso ainda me deixava desnorteado. Não consigo entender como uma mulher tão maravilhosamente linda saiu daquele cara escroto e horroroso. Até que esse tipo de pensamento me divertia, mas não podia fugir da realidade. Precisava encarar as consequências de minhas ações.

- E você ainda pergunta? Porra, Henrique... - ela se aproxima de mim e para poucos centímetros do meu corpo - eu não quero mais te ver. O que a gente teve acabou a partir do momento em que você preferiu transar com aquela mulher antes de tentar conversar comigo para que procurássemos uma forma de agir juntos. Isso foi sujo... muito sujo - limpa uma lágrima que escorria no rosto.

- E o trabalho? - pergunto, segurando um grito que surgia na minha garganta. Eu me odiava por ter provocado tudo aquilo.

- Mudei de setor. Por favor, não me procure dentro da empresa. Eu realmente não quero mais te ver - sai, sem olhar para trás.

Puta que pariu, consegui afastar a única mulher por quem criei sentimentos depois de onze anos. Fui andando em sua direção, mas segurei o impulso de alcança-la. Ela precisava de tempo e, se não quisesse mais me ver, eu precisava respeitar. Odiava aquilo, mas pau no meu cu, eu que provoquei.

Respirei fundo e parei de frente à geladeira. Estava tomando um refrigerante antes, mas não estava mais a fim de evitar uma ressaca. Aquele momento merecia uma nova bebedeira, então, peguei uma garrafa de vodka em uma das gavetas e levei até a sala.

Sim, na minha geladeira tinha mais bebidas alcoólicas do que qualquer outra coisa, mas foda-se, não me importo. Esse era o estilo de vida que escolhi! Nesse aspecto, ser sozinho era uma delícia. Não devia nada a ninguém, e isso era bom. O lado ruim era que, quando passava uma merda dessa, minhas únicas companhias eram minhas garrafas. Mas foda-se, eu que arrume um gato e, mais uma vez, pau no meu cu.

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