27 - É, vou voltar para o Brasil

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HENRIQUE

Dois anos me separavam da vida que levava no Brasil. É engraçado lembrar como cheguei totalmente perdido em Nova Iorque. Para ser sincero, foi difícil me acostumar com essa nova vida. Chegar em um lugar novo sem conhecer ninguém é foda em um nível surreal. Para piorar, os estadunidenses tinham um puta preconceito com brasileiro, o que é uma situação no mínimo desagradável. Me fodi mais ainda por conta da quantidade de tatuagens que tenho espalhadas pelo corpo. O povo me marginalizava em um nível surreal.

Me senti perdido por muito tempo..., os primeiros meses realmente foram fodas. Mas, tudo mudou quando conheci Daniele. Não, não namoramos, tampouco temos algum tipo de relacionamento afetivo. Não nos enxergamos dessa forma, e pensar nessa possibilidade até me deixa um pouco enojado.

Ela é uma mulher baixa, não deve passar de 1,60m. Tem olhos castanhos e cabelo também. É magra e tem um sorriso extremamente simpático, com uma covinha na bochecha esquerda. Sua personalidade é cativante, por mais que faça questão de escondê-la da maioria das pessoas. Tinha um humor ácido, e, para ser sincero, talvez essa fosse minha parte favorita nela.

Quando a conheci, a garota estava trabalhando no Starbucks em frente a empresa, na Quinta Avenida. Estava morto de vontade de tomar um café com leite cremoso, mas me deparei com uma situação extremamente desconfortável. O chefe (agora ex, graças a Deus) de Daniele gritava com ela de uma forma extremamente agressiva, na frente de todos. Senti um frio na boca do estômago, e meu instinto de proteção aflorou a partir do momento em que aquele brutamontes resolveu levantar a mão para agredir seu rosto.

Meu sangue ferveu e, quando percebi, havia dado um soco na cara daquele gordo miserável. Desde então, comecei a trata-la como minha irmã mais nova. Pelo incrível que pareça, Daniele é brasileira, o que facilitou bastante nossa interação. Foi muito bom para mim ter com quem conversar, até porque tinham muitas questões mal resolvidas em minha mente.

Sentia-me muito culpado por ter "fugido" do Brasil da forma que "fugi". Porque não tem outro significado para o que fiz. Não que a mudança não tenha sido positiva, principalmente se tratando de minha carreira, afinal, hoje em dia sou um profissional reconhecido internacionalmente. A LHR ganhou vários prêmios fora do país, e me orgulho de estar a frente de quase todos. Mas a forma que aconteceu não foi nada saudável. Eu não precisava ter reagido daquela forma a um sentimento que inevitavelmente apareceria em algum momento de minha vida.

Acabou que contratei Daniele para ser minha secretária, e desde então nos tornamos inseparáveis. Ter sua amizade matava um pouco da saudade que sentia de Lázaro e Igor, mas, é impossível substitui-los. Nesse meio tempo, apenas consegui visita-los duas vezes, durante uma conferência de negócios, e não foi nem em nossa cidade natal. Apesar disso, nos comunicávamos todos os dias por transferência de vídeo.

O rumo que a vida de meus amigos havia tomado chegava a ser engraçado. Lázaro e Janna finalmente conseguiram engravidar, mas para o azar de meu amigo, sua esposa teve logo um casal de gêmeos. Eu era padrinho de Elisa, e Igor de Elias. Eram muito fofos e, sinceramente, não via a hora de conhecê-los pessoalmente. Amo crianças, desde que não sejam minhas filhas.

Já o desenrolar da vida de Igor não foi lá muito bom. Sempre nos perguntávamos como Larissa aguentava todas suas traições e não falava nada. Era muito estranho o fato daquela mulher ser completamente conformada com o fato de o marido ser um verdadeiro pau no cu. Pois bem, ela apenas estava arquitetando uma puta vingança.

Poucos meses depois que me mudei, Igor chegou em casa cansado, e percebeu a janela de seu quarto com luzes baixas, e logo pensou que sua esposa o esperava para uma noite especial. Meu Deus, só de lembrar disso eu dou uma gargalhada. Sim, eu vou para o inferno, mas não podemos negar que realmente merecia uma porrada da vida para entender que se continuasse desse jeito, iria acabar sozinho. Mas beleza.

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