47 - Ele vai voltar para os Estados Unidos

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AMORA

Já fazem dois meses que meu pai impede completamente meu contato com Henrique, o que é extremamente ridículo, principalmente se levando em consideração que sou maior de idade. Minha mãe diz que uma hora o estresse do senhor Igor vai amenizar, e que, a partir desse momento conseguiríamos construir um diálogo descente. Mas seu mau humor parecia interminável, e ele mal me olhava.

O problema disso tudo é que, por mais que morasse sozinha e fosse independente em muitas coisas, contava com sua ajuda para bancar a faculdade e, infelizmente, não podia me dar o luxo de abrir não disso, senão teria que trancar o curso.

Toda essa situação estava acabando comigo de uma forma surreal. Fiquei deprimida, perdi uns 8 quilos nesse meio tempo e mal conseguia comer. Além disso, não tinha paz comigo mesma. Não conseguia dormir sem ter pesadelos, e minha bexiga estava simplesmente me matando.

Até tentei entrar em contato com ele não redes sociais, mas meu pai percebeu e recolheu todos os meus aparelhos eletrônicos. Só conseguia acesso ao mundo na faculdade, onde era proibido acessar redes sociais. Caso precisasse ligar, usava um telefone antigo sem acesso à internet. Porra, parecia que estava vivendo em cativeiro! Uma hora a raiva ia passar e ele ia se arrepender, mas do jeito que era cabeça dura, talvez demorasse um pouco.

Para ser sincera, não o culpava pela reação. Se fosse eu em seu lugar, talvez fizesse pior. Não me orgulho disso, mas é a verdade.

Mahmoud entrava em contato todos os dias através de meu novo número, preocupado em saber como estava. Depois de tanto me martirizar, decidi passar uns dias no Rio de Janeiro, em seu apartamento. Tirei férias no estágio e realoquei minhas aulas temporariamente para o campus da Tijuca.

Por mais que a ideia desagradasse meu pai, eu e Mahmoud conseguimos convencê-lo de que Henrique não fazia sequer ideia de que eu sairia da cidade. Depois de muita insistência, conseguimos faze-lo concordar, desde ele e minha mãe viajassem também. A situação era ridícula, mas realmente estava precisando espairecer a mente fora daquela cidade.

Tivemos que ir de ônibus, já que o carro do meu pai estava no conserto. Passei mal a viagem toda, como de costume. Mas quando chegamos na rodoviária, uma tontura surreal me atingiu, e acabei desmaiando no meio de todo mundo.

Apenas acordei na cama do hospital, sem entender absolutamente nada. Assim que a enfermeira percebe meus olhos abertos, chama meus pais e Mahmoud, que estavam na recepção. Assim que chegam, os encaro confusa.

- O que está rolando? - pergunto, com uma leve dor de cabeça. Percebo que estou tomando soro na veia.

- Você está desnutrida, Amora - diz minha mãe, se aproximando para acariciar meus cabelos.

- Depressão é coisa séria! - respondo, encarando meu pai, que tinha a feição de vergonha. Ele se sentia culpado por aquilo. Acho que em fim percebeu que havia ido longe demais nessa sua super proteção psicótica.

- Agora que nossa bela adormecida acordou - a enfermeira sorri -, posso dar a ótima notícia?

- Que notícia, mulher? - Mahmoud pergunta, sedento por uma fofoca. Não o julgo, pois faria a mesma coisa.

- A senhorita está esperando um bebezinho! Parabéns!

PUTA QUE PARIU, CARALHO, PORRA, PORRA, PORRA!

Todos me encaram em silêncio, e antes que meu pai falasse alguma coisa, sento-me e solto verbo. O homem até abriu a boca, mas o interrompi no momento exato.

- Pelo amor de Deus, chega dessa merda! Eu AMO o Henrique, e essa porra de cárcere privado não vai funcionar! - respiro fundo - mesmo achando péssima a ideia de vocês dois - aponto para meus pais - reatarem o casamento, eu os apoiei incondicionalmente, porque os amo mais que tudo nessa vida! E o senhor, pai, deveria ser o primeiro a levar isso em consideração! Porque além de se tratar da felicidade da sua filha, também estamos falando sobre a do seu melhor amigo. E agora - coloco a mão na barriga - do seu neto também!

O silêncio toma conta do ambiente, até que meu pai começa a chorar.

- Porra, Amora! Você tem razão, minha filha! Me desculpa!

- Aleluia! - diz minha mãe - Pois eu acho esse relacionamento ótimo! Henrique é um cara direito, honesto e gente boa! Um ótimo partido para você!

- Ah, minha filha... - diz meu pai, soluçando - Eu pensava que era meteção, sabe? Mesmo você falando que o ama, jurava que isso ia passar... Você me perdoa?

- Claro que sim! Que bom que reconheceu essa merda, porque eu estava prestes a te sufocar de madrugada - dia um sorriso.

- Odeio interromper esse belo momento em família - diz Mahmoud, com um sorriso tímido - mas tenho uma informação que talvez interesse muito a todos aqui!

- Então fala, criatura! - Minha mãe diz, nervosa.

- É que, depois de tudo que aconteceu, ele se sentiu muito culpado... Culpado por amar Amora, por perder a amizade do Igor... Que acabou tomando uma decisão.

- Que decisão, Mahmoud?! - pergunta meu pai, nervoso. A ligação de amizade entre ele, Henrique e Lázaro era tão forte, que toda raiva se dissipou ali mesmo.

- Ele vai voltar para os Estados Unidos.

- Quando?! - Pergunta meu pai, aflito. Não queria que o amigo fosse embora sem fazer as pazes. Na verdade, ele não queria que Henrique fosse embora de forma alguma.

- Hoje. Pelo que Daniele me disse, ela, Elioth, Lázaro e Henrique devem estar no aeroporto agora.

- Puta merda, então vamos pra lá AGORA! - disse meu pai, pegando o celular e tentando ligar para o amigo - Enfermeira, tira esse soro dela! Nós precisamos sair daqui urgentemente!

- Vocês precisam assinar um termo de responsabilidade, senhor.

- Pode deixar que eu assino! - diz minha mãe - Enquanto isso, vocês três, arrumem as coisas e se aprontem para partir. O pai do meu neto não pode sair do país dessa maneira!

Nos arrumamos rapidamente e, em menos de quinze minutos, já estávamos no carro. Porra, vivi pelo momento em que eu e minha família correríamos atrás do homem da minha vida, que agora também é pai do meu filho, para impedi-lo de sair do país. Estava me sentindo em um filme americano.

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