32 - Caralho, o que está acontecendo comigo?

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NARRADOR

Elioth observava Amora dormir e sentia-se extremamente culpado por não conseguir tirar Daniele da cabeça. Vê-la, mesmo depois de tanto tempo, havia lhe provocado sentimentos que precisaram ser enterrados no mais fundo e sombrio canto de seu coração.

Seu relacionamento estava fluindo de uma forma agradável. Por mais que seu sogro não seja seu maior fã, Elioth sabia que uma hora o conquistaria. Afinal, não são todos que têm um carisma como o seu. De qualquer forma, ele gostava de desafios, e encarava aquela relação como um.

O dia tinha acabado de amanhecer, e tudo que ele queria fazer era correr atrás de sua ex-namorada e conversar sobre tudo que não tiveram tempo. O que estava acontecendo em sua vida? Como foi todo esse tempo no exterior? Como conheceu o tal do "Henrique"? Estão juntos?

O problema de seus questionamentos é que, principalmente o último, não são da sua conta. Beleza, agora ele cogitava um relacionamento intimo entre aqueles dois e seu estômago se revirava de raiva. "Caralho, o que está acontecendo comigo?", Elioth se questionava.

No fundo, ele sabia que tudo aquilo havia surgido por conta do baque da presença inesperada de Daniele. Seu verdadeiro amor é aquela que dorme nua ao seu lado, Amora. Eles tinham planos futuros juntos. Abririam uma firma, adotariam um cachorro de porte pequeno e teriam dois filhos. Seriam felizes para sempre. E era isso que ele queria para sua vida.

O problema é que quando ele fechava os olhos, o dia em que Dani partiu vinha em sua mente, e a vontade de chorar tomava conta de seu corpo. "Que inferno!", ele se lamentava.

Nada daquilo era justo. Ela não tinha o direito de retornar e lhe provocar esses sentimentos que há muito estavam adormecidos. Daniele partiu, e Elioth jurou espera-la, mas aos poucos os dois foram perdendo o contato e, quando perceberam, já não se falavam mais. A amizade de uma vida toda e um relacionamento de quase dez anos havia sido colocado na geladeira. Mas que se dane, a vida segue e as coisas mudam. E era nisso que ele gostava de focar. ESSA era a sua crença.

Elioth encarou o teto por mais alguns minutos e decidiu que precisava voltar para casa, onde teria como chorar em paz. Cuidadosamente se desvencilhou dos braços de sua namorada, deu um beijo em sua testa e foi atrás de suas roupas, que estavam jogadas pelo chão do apartamento. A cada peça que encontrava, era um sorriso que surgia em seus lábios. As memórias da noite anterior eram intensas, na verdade, o sexo com Amora era intenso.

Assim que juntou todas as suas coisas, enviou uma mensagem para o celular de Amora, dizendo que precisava voltar para casa para concluir uns documentos do trabalho, e foi embora. Não gostava de mentir, mas também não queria causar a impressão errada em sua namorada com os verdadeiros motivos de sua ida repentina.

Ele abre a porta cuidadosamente e, para sua surpresa e descontentamento, dá de cara com Henrique e Daniele bêbados, rindo como loucos, pelo corredor. Elioth não sentia raiva, e sim inveja. Ele tinha saudades desses momentos ao lado da ex-namorada, o que tornava sua mente ainda mais confusa com tudo que estava acontecendo. Elioth sentia-se sentimentalmente dividido entra duas mulheres, sendo uma sua namorada, e a outra sua ex, com quem tem uma longa história. Por mais que doesse admitir, ele ao menos sabia se Daniele tinha algum resquício de sentimento por ele. O pior de tudo é que, ele sentia raiva de si mesmo por ter esse tipo de pensamento. Precisava focar em Amora, que era a mulher com quem ele queria ter uma vida longa ao lado. Ela jamais o abandonaria como Dani fez.

Beleza, ele não tinha mais como retornar sem ser despercebido. O que o restava era encarar aquela situação extremamente desagradável, nem que precisasse fingir não se importar.

- Bom dia! - Ele encara os dois, que agora o observavam em silêncio. Elioth precisou se esforçar muito para soltar um meio sorriso.

- Bom dia, Eli - Dani sorri, expondo a covinha no lado direito de sua bochecha. Elioth adorava esse detalhe em seu rosto.

- A noite foi agradável, né? - debochou - Pelo visto a primeira madrugada no Brasil foi proveitosa!

Antes que Daniele abrisse a boca para falar algo, Henrique coloca-se em sua frente e continua a conversa.

- Muito, Elioth. Muito mesmo! Eu e minha namorada - puxa Daniele em direção ao seu corpo - aproveitamos bastante. Obrigado por se preocupar - dá um grande sorriso.

Elioth sentiu um arrepio alcançar a boca de seu estômago quando ouviu a palavra "namorada", mas tinha que aceitar. Da mesma forma que agora ele tinha um novo relacionamento, ela também tinha. Doía para um caralho, mas era a nova realidade.

Dani o encara, mas evita falar. Ela estava bêbada e, pelo que conhecia de sua ex-namorada, o álcool lhe torna mais sincera que o normal. Essa era uma das características que ele adorava nela, mas a garota odiava. Sempre se arrependia depois de sóbria.

- Que bom - Elioth força um sorriso - vou andando. Tenho... - ele encara Dani. A vontade que tinha era de abraça-la e não soltar mais. Todos percebem o clima, então ele se força a concluir a frase - que ir. Muita coisa de trabalho para resolver - coça a nuca - sabe como é, né?

Antes de sua saída, Daniele o encara e diz:

- Foi bom te ver, Eli - solta um sorriso sincero, e borboletas carnívoras atacam o estômago de Elioth. "Puta que pariu, pensa na Amora", ele pensa.

- Digo o mesmo! - Força um sorriso de boca fecha e sai, sem olhar para trás.

Elioth fica um pouco transtornado com a situação anterior, mas não tem muito o que fazer. Por mais que fosse difícil de aceitar, a vida tinha seguido. Era doloroso, mas já que ela estava feliz, ele também ficava. Quer dizer, tentava.

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