Calafrio

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Eu desceria as escadas em meia-hora. Para dissipar os pensamentos do estranho que conversara com Carlisle, li alguns poemas e frases de um livro de autores anônimos.

“Eu sei que a vida não é fácil,

Mas é possível sorrir.

Destranque o seu coração,

Deixe-o sentir.”

Assim que terminei de ler aquele trecho, fechei o maldito livro que me lembrara do passado. Era impossível não lembrar.

“Claramente é melhor ficar com uma curiosidade atual do que com um passado doloroso.”

-Quem é Billy? –questionei em sussurro, olhando para a parede de vidro, ao lado da porta feita do mesmo material.

-Billy Black?

“Essa voz eu reconheceria em qualquer lugar.” Ainda de costas para ele, senti um calafrio passar pelo meu corpo, como um choque pela surpresa. Logo disfarcei o calafrio e virei-me para o rapaz que me analisava.

-Olá. –disse com a intenção de lembrar ele da formalidade inicial, na pretensão de leva-lo a esquecer do que eu havia dito.

-Perdão por eu ter chegado de repente. Prazer em conhecer você. Sou Edward Cullen. –disse já estendendo a mão direita para um cumprimento.

Por um segundo não quis tocá-lo. Seria diferente da última vez em que nos vimos. Não seria a pessoa que eu havia conhecido. Mas o cumprimento era parte do disfarce e eu não deixaria dúvidas pendentes nos pensamentos dele. Dúvidas que poderiam me revelar estavam fora de cogitação.

-Igualmente, Anne Wheeler.

Frio, rígido, sem circulação sanguínea, sem batimentos cardíacos. Esse era o Edward que estava na minha frente naquele momento.

No instante em que o toquei, não pude evitar saber o que estava pensando. Primeiro ele notou as batidas fracas do meu coração. Depois tentou ler meus pensamentos, ficando curioso e frustrado por não ter conseguido o suficiente e foi nesse instante em que eu levei outro choque. Ele havia me pegado desprevenida do bloqueio de pensamentos, quando ainda lia o último poema do livro de frases e poesias. Não viu a primeira parte deles, mas a que viu, mesmo que incompleta, foi o suficiente para me alarmar. Ele não iria entrar no meu novo cantinho clássico, mas enquanto passava pelo corredor da escada que levava até minha porta, ouviu Esme falando da nova integrante do sótão, o que logo direcionou seus pensamentos a mim, mesmo não sabendo se eu realmente estaria ali naquele momento, e se viu deitado na cama de um hospital que lhe era familiar. Ele viu o meu último olhar a ele.

Por dentro eu me condenava por meu deslize e por fora transparecia estar em plena harmonia.

Edward logo se prendeu ao que conseguiu ver em minha mente, mas também parecia pleno. Porém, por dentro, se enchia de dúvidas.

-Seja bem vinda.

-Obrigada.

Ele estava em dúvida se me questionava ou não sobre o que vira em minha mente. Por um segundo pensei que perguntaria, mas desistiu assim que Renesmee apareceu na porta do sótão.

Ela era uma jovem adulta linda de cabelos ondulados e olhos com cor de caramelo. No início ficou com receio de entrar assim que me viu. Sua pele era clara como a neve, mas nas bochechas aparentava certo rubor. Era uma meia-humana. Podia sentir o cheiro do seu sangue e me controlava por isso. Eu havia pesquisado praticamente tudo sobre os Cullen, o que incluía Renesmee Carlie Cullen. Era o fato mais interessante para mim, seguido do pai e o amor incondicionalmente forte do mesmo por Isabella Marie Swan, agora Cullen. Era certo que todos estes três pontos se interligavam profundamente.

-Renesmee, esta é a Anne Wheeler. –Edward falou, logo direcionando todos os seus pensamentos a sua adorada filha. Certamente ele se encontrara também analisando o perigo da proximidade dela a mim.

Nessie, como era seu apelido, logo se apressou em me cumprimentar, gentilmente. Senti-me curiosa ao saber que, ao contrário de mim, os batimentos cardíacos dela eram mais rápidos, um pouco até mais rápidos do que de um total humano. Também senti que sua temperatura era mais quente do que o habitual e nisso era igual a mim.

Assim que passou a apresentação, nós três descemos para a sala, onde estariam os outros membros da família. Foi minha jogada rápida que evitaria a revelação.

Assim que chegamos, todos os outros já estavam conversando, sendo Emmett o mais empolgado.

-Nossa convidada de honra chegou! –falou Alice, animada, já me abraçando.

Em seguida, Alice começou a me apresentar a cada membro Cullen. Todos foram muito cordiais. Não pude evitar analisar Bella, assim que foi apresentada. Era um desafio para as minhas habilidades, mas, como já esperava, o perdi. Isabella possuía uma beleza surpreendente, embora não tanto quanto a de Rosalie. A afeição que Edward e Bella possuíam um pelo outro era exorbitante. Ainda mais era a que ambos possuíam pela filha e a mesma pelos pais. O casal, sem questionamentos, havia nascido um para o outro e era meu dever reconhecer tal privilégio.

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