Sua Perda

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O Volturi parou de caminhar, enquanto me lançava um olhar de curiosidade.

-Sabe?... Como?

-Li os pensamentos de Aro.

-Ah bom... –Marcus tornou a andar pelo quarto, parecendo procurar as palavras certas. –Então deve saber que Aro a transformou, porque não aceitava a ideia da última de sua linhagem, mesmo que distante, sobrevivesse como uma de um dos clãs opostos. Ele desprezava ainda mais a ideia de você poder futuramente viver com outros que tivessem a mesma mágica. Assim a transformou, na esperança de você demonstrar habilidades úteis, como a do próprio Aro. E ele também acreditava que, ao ser transformada em uma imortal, seu lado lobo morreria juntamente com suas memórias humanas... Mas quando viu que estava errado, simplesmente deixou você sofrendo, até porque não conseguiria te matar com você tendo a força de uma recém-criada e ainda em sua forma transfigurada... Depois de um tempo, descobrimos que um ser com a mágica dos lobos compartilhada com o veneno dos vampiros, quase dizimou um vilarejo inteiro. –“Não foi apenas um”, lembrei com desgosto. –Sentindo uma culpa alarmante, Aro mandou que a procurassem e trouxessem você viva para Volterra, para um julgamento. Na verdade ele apenas pensava em algum jeito de suas habilidades híbridas fazerem parte dos Volturi, se tornando uma filha amada, como Jane.

Ouvi todas aquelas palavras de Marcus, lembrando-me do que havia visto na mente de Aro, quando li os pensamentos deste último pela primeira vez, há poucos dias.

-Eu sei... E isso foi bem egoísta... Ele deve confiar muito em você para lhe contar tudo isto.

-É sua forma de tentar trazer-me de volta.

Eu via a decepção nos olhos de Marcus. Sabia de suas intenções ao revelar todo aquele feito de Aro, para mim. Ele queria afastar o assunto de sua perda.

Sem mais um minuto de espera, aproveitei o momento para começar a ver suas lembranças com Didyme e elas me levaram para a mesma floresta em que a vira pela primeira vez. A mata não estava tão encantada, mas ainda sim era linda em cada detalhe. Marcus era um vampiro nômade, filósofo, romântico e infeliz por isso, por nunca ter encontrado sua “cara-metade” antes. Seu primeiro encontro com Didyme, foi em uma de suas aventuras pelo mundo. Assim que ele chegara próximo aonde caiam as águas de uma cachoeira de tamanho médio, viu Didyme se banhando. Quando os olhos dela se voltaram para Marcus, ele se apaixonou por ela, a primeira vista.

Não demorou muito para a irmã de Aro apresentar Marcus a seu irmão, tal qual simpatizou no mesmo momento. Então fora apresentado a Caius e Athenodora, esposa deste último.

Didyme tinha uma aura de felicidade como seu dom vampírico, o que não agradou muito a seu irmão, o qual esperava uma habilidade mais forte dela. Contudo Aro ainda podia usar os talentos da irmã.

A aura dela fazia com que várias pessoas se apaixonassem pela mesma. Porém Didyme só retribuiu o afeto de Marcus, que a amava verdadeiramente, longe ou perto.

Com o tempo, o casal fora perdendo interesse nas conquistas de poder que Aro realizava. Este último vinha dominando o Império Volturi e acreditava que a habilidade de Marcus era um fator importante em seus planos de governo. O amigo sabia disto, mas se esforçava em acreditar que seu cunhado estava apenas temendo perder a sua amizade. Aro tentou persuadir o Marcus a desistir da ideia de deixa-lo, mas ele o rejeitou. Ele e sua amada tinham planos de viajar o mundo, assim conhecendo novos lugares e –senti enorme piedade de Marcus quando vi isto em sua mente –Marcus pretendia fazer uma enorme surpresa assim que ambos chegassem à cachoeira em que se conheceram. Meses antes, aquele soberano havia construído uma casa próxima a onde havia conhecido a mulher da sua vida e ali seria o lar de ambos, assim que voltassem de suas aventuras. Um lugar para chamar de lar, além de um quarto num castelo, em Volterra.

Marcus, a princípio, não teve conhecimento de que fora Aro quem estava por trás do assassinato de sua própria irmã.

Quando ele soube da morte de Didyme, ficou louco tentando achar o autor da tragédia. Como via o falso sofrimento de Aro, acreditando ser verdade, ele nunca desconfiou do amigo. Depois de anos procurando respostas, Marcus começou a tomar conhecimento de que nunca saberia quem teria assassinado sua amada, o que o fez cogitar seriamente o suicídio. Quando estava à beira do colapso, no entanto, foi Charmion –uma vampira extremamente habilidosa por seu poder de interferir nos laços emocionais entre os outros, os fortalecendo ou desfazendo-os –a mando de Aro, que fez com que a lealdade de Marcus ao amigo fosse restabelecida, assim o impedindo de se matar. Ele também não soube deste último fato, à princípio.

Mesmo com a lealdade a Aro, Marcus praticamente transformou-se em um “zumbi”. Não via mais vida ao seu redor. Sentia seu coração petrificado, o que fez com que seu corpo padecesse ao sofrimento e sua força quase se esvaiu por completo. Ele ainda sentia a intensidade dos laços emocionais entre os outros, o que o levou a destacar o relacionamento de Bella e Edward como algo deveras poderoso, intenso. Depois da tentativa de suicídio, Marcus nunca tornou a falar uma palavra sequer, até aquele momento no jardim, quando eu o vi pela terceira vez, o que me surpreendeu.

Quando terminei de ler os pensamentos do grande vampiro próximo, vi que o mesmo estava observando a pintura de Didyme, com intensidade. Acariciava o retrato com as pontas de seus dedos, como se conseguisse atravessar as centenas de anos sem sua amada e tocá-la de novo. Reconhecia aquele gesto e sabia que se ele pudesse chorar, estaria assim fazendo naquele exato momento.

-Eu sinto muito, por ela. –falei com sinceridade.

Ele então voltou seu olhar para mim, aproximou-se rapidamente e segurou meus ombros com força.

-Não sinta! –foi um berro que me assustou. Fiquei estática, olhando nos olhos sofridos de Marcus. –Não pode trazê-la de volta!

Eu queria me soltar, mas era como se eu estivesse paralisada. A força que Marcus despejava sobre seus ombros era tão intensa que comecei a ouvir minha pele rígida de vampira, se rachar.

-Nem você. –as palavras saíram mais rápidas que o meu pensamento e apenas soube do meu erro quando vi fúria nos olhos negros de Marcus.

Um segundo depois, o soberano me arremessou pela janela do antigo quarto seu e de Didyme, e mais uma vez eu estava caindo, olhando para o céu num azul claro profundo e envolvente. Mas aquele, sem dúvidas, não era o lugar perfeito e não haveria água no fim da minha queda. Também tinha plena consciência de que Ethan não poderia me salvar, preso como estava. Porém, sabia que ali eu não precisava ser salva. Então logo me virei para ver onde cairia e, ao chegar ao chão, estava com os joelhos flexionados, um encostando-se ao solo, assim como minha mão direita, enquanto o outro eu usava para apoiar o meu punho esquerdo. Ao olhar ao meu redor, destaquei que havia caído em uma viela vazia de Volterra, para minha sorte, e que havia uma pequena cratera no local que eu havia aterrissado. Segundos depois eu já estava novamente dentro do castelo dos Volturi, andando pelos corredores que me levariam ao meu quarto. Eu precisava analisar hipóteses de como fazer com que Marcus Volturi vencesse sua perda.

Não. Eu não havia desistido. E não. Não era mais apenas por Ethan. Era por mim, por ele e pelo próprio Marcus.
















Alguém lembra que em Amanhecer(filme) parte 2, quando aqueles dois irmãos foram para matar o Marcus, ele disse "finalmente"?... Então...

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