Estávamos dentro dos túneis que nos levariam até a presença dos três grandes vampiros soberanos. As passagens subterrâneas eram mal iluminadas e os odores presentes não eram mais agradáveis do que os de carne apodrecida, esgoto e baratas.
Eu pensava atenciosamente no que faria, quando estivesse cara a cara com a minha sentença. Para Aro, o mais ardiloso, eu era uma influência a uma raça poderosa que poderia acabar com a ordem natural. Mesmo que meu argumento para permanecer viva fosse muito bom, ele poderia facilmente convencer os outros de que era necessária minha eliminação. E tinha consciência de que minha habilidade de aprimoramento era um fator excelente em minha defesa, porém minha parte mágica deveria ser morta.
Ao sairmos dos túneis, entramos em uma área com decorações que eu podia qualificar como uma “elegância fúnebre” em tons vermelhos, pretos e dourados, espalhados por cada canto, de forma simétrica.
“As tradições são levadas mesmo em consideração.”
O frio também era constante. Não tão forte para me fazer tremer por fora, mas o bastante para desenvolver tremores interiores. Os maus odores foram trocados por um leve e conhecido aroma docemente metalizado: sangue humano. Ele estava envernizado em cada centímetro a nossa volta, marcando o grande número de vítimas mortas por aquele clã.
De súbito, se pôs a nossa frente um homem alto e fácil de reconhecer.
-Aro está se alimentando no momento e acredita que vocês três gostariam de acompanhá-lo. Deixem às visitas comigo. -a voz de Félix era forte e um pouco rouca, o que combinava perfeitamente com sua aparência física alta e musculosa.
Jane, Alec e Demetri logo sumiram pelos corredores e eu e Ethan continuamos andando com Félix. Este último nos levou para um corredor estreito, com portas a cada dois metros, dos dois lados.
Assim que paramos à frente de uma porta, localizada no lado esquerdo do corredor, Félix olhou fixamente em meus olhos.
-Aro quer que fiquem aqui, por enquanto.
-Nós dois em um único quarto? -foi uma pergunta que saiu de forma automática, da qual eu logo me arrependi assim que vi um pequeno sorriso malicioso brotar nos lábios do grande vampiro de olhos vermelhos, a nossa frente.
Félix não respondeu e então pôs-se ao lado da porta, como um guarda, o que não me surpreendeu. Era fato que eles ficariam seguros de que eu e Ethan estivéssemos no "castelo" dos soberanos, sem fugas.
Eu não prestei atenção a detalhes do quarto assim que entrei no mesmo. Ele tinha uma cama e era apenas disso que eu precisava. Não esperei Ethan comentar sobre qualquer coisa, depois que ele fechou a porta atrás de nós. Apenas fui com minha mochila a outra passagem, dentro do cômodo, a qual eu pensava dar acesso ao banheiro e assim que a abri, bufei.
-Que ótimo! Um armário! -falei enquanto bati a porta do mesmo e fui à outra que, desta vez, era a que eu queria.
Tomei um banho, escovei meus dentes e depois penteei meus cabelos. Me vesti e fui em direção a cama. Ethan seguiu meu olhar e, ao mesmo tempo que eu, deitou-se comigo, logo me abraçando, e apoiei minha cabeça em seu peito. Ethan era a calma e a segurança mais próxima. Era indispensável naquele momento em que minha mente me forçava e me concentrar no que viria a acontecer dali a pouco tempo. Sendo assim, com Ethan, eu dormi as duas horas e meia que faltava, quase instantaneamente.
Sem sonhos e nem pesadelos, como sempre ocorreu depois que fui transformada. Apenas um descanso merecido e curiosamente confortável. Não era certo dizer que não me lembrava da última vez que dormira abraçada com alguém. Eu me lembrava, e muito, bem havia 249 anos, mas não procurei pensar no passado. Estava levando a sério a questão sobre viver o presente.
-Temos que sair daqui. -Ethan estava pensando muito sobre isso.
Fazia meia hora que eu havia acordado. Ethan sentava-se na beirada da cama e eu estava a sua frente, afastada uns dois metros, escorada em uma parede.
-Como? Me dê um bom plano e fugimos. Mas já falamos sobre isso há menos de dez minutos. Não é possível. Estamos cercados de seguidores de Aro e eu odeio isso tanto quanto você...
- Vocês sabe o que irão fazer. Duvido que aqueles três, principalmente Caius, irá deixar essa passar, como com os Cullen. Precisamos...
Eu entendia Ethan. Tinha perfeito conhecimento das possíveis consequências se continuássemos ali, até sermos chamados por Aro. Porém, com todos os recentes acontecimentos, eu estava cansada de fugir. Faria um último esforço se realmente tivesse a possibilidade de sair daquela prisão soberana, mas minhas chances eram mínimas. Havia vampiros por todos os lados. E como se a quantidade não bastasse, a maioria deles era muito talentosa. Os soberanos escolhiam bem seus súditos.
-Não... Eu não tenho chance, mas você tem.
Ethan me olhou pensativo. Assim que me entendeu, sua feição de dúvida transformou-se em incredulidade.
-Acha que eu...
-Vamos ser racionais, Ethan. Suas habilidades de discrição te deixariam passar facilmente por todos esses sanguessugas, sem ser notado. Você tem chances de fugir e eu...
-Não.
-Eu posso matar o lobo dentro de mim... Assim deixaria de ser uma ameaça.
A expressão do vampiro a minha frente me dizia que ele estava procurando palavras para debater contra minha proposta de salvação.
-Ethan, você sabe que essa sempre foi a única opção plausível para tirar os Volturi da minha vida e da vida de qualquer um que eu pense em me aproximar. É um sacrifício necessário...
-Escuta. Eu sei que isso parece uma opção, mas não é. Eu vi como você interagiu com os Quileutes. Aquilo é parte da sua felicidade agora. Você sabe disso.
-Você realmente me seguiu. -as palavras saíram antes que eu percebesse a entonação que dei a elas, então tentei contorna-las. -Sim, eu me senti extraordinariamente feliz com os lobos. Sim, eu gosto muito da minha parte humana e animal. Eu fiquei encantada com as histórias da tribo e me diverti demais com os Quileutes. Eu adoro a liberdade que eu sinto também, quando me transformo. Caramba! Eu adoro meu lado lobo tanto quanto o vampiro! Mas agora eu também sei que os Cullen e os Quileutes estão em perigo, depois de terem conquistado a paz com muito esforço, por minha culpa!... Livra-los disso é o mínimo que eu posso fazer.
-Mas você não acha que se matar este seu lado lobo, esta parte de sua felicidade que encontrou lá, eles não irão se sentir culpados? Todos sabem pelo que você passou, tudo que sacrificou, as escolhas difíceis que teve que fazer, principalmente o Edward. E ele vai saber que fez mais isso por ele também. –e assim Ethan me lançou uma nova perspectiva –Escuta... Eu só estou pensando em você. No seu melhor. Sou seu amigo, eu acho, e quero ajudar. E se para isso eu tenha que te mostrar todas as consequências desastrosas da sua decisão, eu vou fazer. A gente pode pensar em algo melhor, um ponto fraco da soberania, algum argumento bom. Você lê mentes. Entre na mente deles e ache algo fora da lei, que eles mesmos tenham feito. Só não faça mais esse sacrifício... Eu só estou pensando em você... E eu preciso, eu quero e peço para que você pense em si, por favor.
Eu queria perguntar por que o vampiro a minha frente se importava tanto com o meu bem estar, mas minha mente vagava sobre as palavras que ele acabara de dizer, sobre a perspectiva que me dera. Ethan tinha razão. Culpa era algo que eu definitivamente não queria que acompanhasse os lobos e os Cullen, principalmente Edward. Então o que eu proporcionaria as famílias que me abrigaram? Medo ou culpa? Mais do que tudo, eu queria lhes dar paz. Porém logo comecei a me dar conta de que sacrificar o meu lobo era uma alternativa segura de sucesso. Consequentemente, comecei a procurar meios menos seguros de me livrar dos Volturi, mas que não abalassem a paz dos Cullen e Quileutes.
![](https://img.wattpad.com/cover/277754860-288-k709239.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Where I Go?
Fanfiction"But where I stand, well, I don't know" Aconteceu tudo tão de repente. Em um momento eu estava caindo, olhando para o céu inconvencionalmente limpo, num azul claro tão profundo e envolvente. Seria o lugar perfeito. Depois senti a água me acolher e n...