Estávamos na sala de armas e os idiotas estavam a fazer tiro ao alvo uns com os outros, no caso, tentando não acertar. O Valério disparou uma de suas facas acertando em cima da cabeça da Melissa, a segunda do lado do seu pescoço e a última ao pé da sua orelha.
-Erraste todas. -Digo em um tom de deboche.
-Queres tentar? -Ele esticou-me duas sacas que agarrei prontamente.
No entanto, a piranha fugiu do alvo e ninguém se chegou à frente.
-Maninho, fazes as honras? -Ele sorriu e posicionou-se à frente do alvo. Sorri e lancei a primeira faca que ficou rente à sua bochecha.
-Só isso?
Sorri e fechei os olhos mirando às cegas.
-Morgan! -Ouvi o grito do meu pai, mas não abri os olhos e com um movimento rápido lancei a faca. Quando abri os olhos observei o pequeno fio de sangue que escorria da sua orelha. O meu pai puxou-me o ombro para o encarar. -Perdeste o juízo de vez? Sabes que é proibido esse tipo de brincadeiras, podias tê-lo matado!
-Mas não matei, e se não tivesses gritado nem lhe teria tocado. -Ripostei.
-Foi culpa minha, não a culpe. -O Valério apressou-se a vir na nossa direção.
O Helion encarou o filho hesitando por um segundo e depois voltou-se para mim. Sei que ele quis culpar o Valério pelo meu erro, mas como chefe e pai, ele precisava dar o exemplo tentando ao máximo não fazer distinção entre nós. Embora todos soubéssemos que ele fazia.
-Foi ele que colocou a faca na tua mão e a lançou? -O seu olhar era pura raiva.
-Ensinou-nos a nunca ter medo, pois bem, aqui estamos. -Confrontei.
Há vários anos que lhe tinha perdido o medo.
-Serás punida pela tua insolência!
-Não sou mais uma criança!
-Então não te portes como uma! -O Helion agarrou-me o pulso e arrastou-me para uma sala escura. Onde fui trancada.
Ao longo da minha vida, vinha a ser fechada naquela maldita sala vezes e vezes sem conta. Desde criança sempre tive medo do escuro e espaços fechados, então inicialmente eu chorava o tempo todo, mas depois o Valério contou-me sobre uma passagem secreta que ele e os nossos irmãos encontraram em crianças. A passagem dava para o sótão, onde havia uma claraboia para o telhado. Então sempre que estou lá dentro, eu fujo por ela e vou para o telhado da casa, onde à rede e o meu irmão pode mandar-me uma mensagem quando acha que o meu pai vai a caminho.
Deitei-me a admirar o pôr do sol, e quando recebi a bendita da mensagem desci. O Helion abriu a porta quase de seguida deixando-me livre para sair.
-Não voltes a testar-me, ouviste? -Avisou agarrando-me pelo braço.
-Sim pai. -Ele saiu e o Valério aproximou-se.
-Como estava o pôr do sol?
-Deslumbrante. -Gargalhamos e fomos para o meu quarto.
-Como está a tua orelha? -Perguntei
-Inteira.
Joguei-me na cama enquanto ele encostou-se à parede.
-Preciso de um favor.
-Tudo pelo meu herói. -Disse num tom de troça.
-Não vou jantar hoje, preciso que encubras-me e à Mel esta noite.
-Sério!? -Ele sorriu.
-Vá lá, maninha... sabes que adoro-te. -Revirei os olhos.
-Tudo bem, vou ver o que posso fazer.
-Brigada. -Ele virou-se e saiu.
-A ti, não a ela... opss... acho que já foste.
***
O Hunter bateu nas nossas portas anunciando a hora do jantar, descemos em silêncio e seguimos para a sala de refeições onde o nosso pai já nos esperava sentado na cabeceira da mesa. Eu ocupei o lugar ao seu lado direito, a Âmbar ao meu lado e a Kim logo a seguir com o Davi de frente, o Lorenzo ficou ao lado do irmão, deixando a cadeira livre à minha frente que pertencia à Melissa e a na outra cabeceira para o Valério. O Helion encarou as cadeiras disponíveis e fez sinal ao Hunter que se aproximasse.
-Onde estão os meus filhos?
-Não os encontrei, senhor.
-O Valério disse-me que estava indisposto. -Menti.
-Alguém sabe da Melissa? -Os quatro negaram. -Hunter, traga a minha filha. -Ordenou com uma voz gelada.
O Hunter saiu e voltou com Melissa de pijama e uma expressão de ódio.
-Ela estava no quarto, senhor. -Informou Hunter. Todos sabíamos que era mentira.
O Helion encarou a filha e depois disse com a voz mais gelada que já dirigiu a qualquer um de nós.
-Onde estavas?
-No quarto...
-Mentira! Vou perguntar outra vez, onde estavas? -Os olhos dela deslizaram para mim, uma súplica. Bebi um gole de água e encarei-a com uma expressão felina. Eu estava a adorar.
-No quarto...
-Última oportunidade, onde estavas? -Um silêncio instalou-se. -Muito bem. Vou ficar com as minhas ideias, e serás castigada por isso e pela mentira. -Ela gemeu quando o nosso pai se levantou e agarrou o seu braço com força.
-Ela não mentiu. -Disse com voz calma. -Ela estava no quarto, só não era o dela. -A Âmbar deu-me um pontapé por baixo da mesa, mas continuei a falar. -Ela estava no quarto do Val.
-Morgan! -Repreendeu a Âmbar num murmurio.
-Cuidado! -Sibilou Melissa. Olhei em volta e vi as caras expectantes dos meus irmãos. Como eu adorava fazer suspense.
-O quê? Não posso dizer que a Mel estava a cuidar do Val!? Porque ele estava maldisposto, e ela ofereceu-se para passar o jantar e ficar a cuidar do nosso irmão até o Hunter terminar os seus afazeres e poder ir cuidar dele. -O Helion olhou para o Hunter que assentiu com a cabeça. Ele devia-me uns favores, além disso sabia do que o meu pai era capaz se descobrisse a verdade.
-Hunter vá cuidar do meu filho, Melissa senta-te. -Ordenou pouco acreditado em toda aquela farsa. A piranha puxou a cadeira e sentou-se lançando-me um olhar mortal.
-Porque fizeste isso? As vossas guerrinhas são uma coisa, mas isto! Sabes o que o pai podia ter-lhe feito!? -Sussurrou Âmbar.
-Não quero saber dela, só disse isso para proteger o meu irmão. Por mim, ela poderia arder no fogo que eu não a ajudaria. -Sussurrei de volta.
-Que idiota.
Não foi a primeira vez que ouvi aquele insulto, da Âmbar sim, mas de outras pessoas não. Então não me magoou tanto assim.
Depois do jantar arrastei-me para a cama sem forças. O Val, e a Melissa certamente estavam a odiar-me neste momento, mas vala! Quantas vezes posso ver aquela expressão desesperada no rosto da Melissa? Não estava arrependida, mas amanhã ia ter de aguentar a desilusão estampada no rosto de todos eles... arrr, por uma vez gostava de ter alguém que entendesse o que eu sinto!...
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Filhos da Máfia- Uma família fora do normal.
Teen FictionGêmeos separados à nascença por cinco anos. Um erro marca o coração da protagonista e assombra-a para sempre. Ela volta para casa; uma casa um pouco diferente. Lá ela conhece o seu pai, dono da máfia, o seu gêmeo e mais cinco crianças adotadas...