~Especial Paris- 5~

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Sentei-me no sofá, com o vinho tinto a girar no copo entre os meus dedos. O Davi ocupou o espaço ao meu lado, e brindou comigo, deixando o tilintar dos copos preencher o ar. Vi-o levar o copo aos lábios, e soltar um gemido abafado de apreciação. Sorri, satisfeita por aquele momento de descompressão, mesmo que efêmero.

-Regras difíceis? -Perguntei.

De cada vez que o meu irmão aparecia, era impossível não notar o quanto o tempo e as responsabilidades começavam a pesar sobre os seus ombros. O seu rosto, outrora vibrante e cheio de energia, agora mostrava sinais claros de exaustão. As olheiras profundas e a expressão abatida revelavam noites mal dormidas e dias rigorosos. E a sua necessidade por coisas simples, como um café ou uma taça de vinho, começavam a deixar-me preocupada.

Desde sempre, vi o Davi e a Kim agirem como se fossem pessoas normais. Claro que nas missões eles executavam corretamente os seus serviços, mas, tirando isso, era como se fossem apenas dois adolescentes normais, numa família normal.

Eu costumava invejar isso; agora preocupo-me, já que, num determinado momento, eles vão precisar encarar a realidade. E algo está a dizer-me que isso acontecerá mais cedo do que aquilo que eles pensavam.

-Estão a torturar-me. -Respondeu o Davi, encostando-se para trás no sofá com a voz carregada de tensão. Percebi as palavras que ele não disse, nem precisou; era óbvio para mim que a Kim ainda não lhe tinha saído do pensamento. Na verdade, era algo que partilhávamos. -E tu?

-Eu o quê? -Soltei com um sorrisinho nervoso, pousando o copo em cima da mesa de centro.

-Da última vez que estive aqui, parecias preocupada... não te sinto tão preocupada agora.

A verdade era que eu estava exausta. As últimas semanas tinham sido um turbilhão de emoções. Estava preocupada com o Teodoro, com a possibilidade de ter de casar-me em breve, e de como seria que a minha família iria reagir a essa notícia. Dormi com um rapaz que mal conheço, e descobri que é irmão da Melissa. Depois fomos conhecer a mãe da Melissa e descobrimos uma intriga familiar.

Eu só queria umas férias antes de rebentar a bomba, mas parece que a cada segundo que passa, uma bomba nova rebentar bem à nossa frente.

-Diz-me só que está tudo bem. E que não te meteste em problemas. -Pediu o Davi com uma expressão preocupada.

-Não posso dizer isso. Há anos que não o posso fazer.

Ele segurou-me o braço quando tentei levantar-me, puxando-me de volta para o sofá. Encarei-o, notando o seu olhar levemente mais firme, como se quisesse que eu acreditasse fielmente nas palavras que proferiu em seguida:

-Não precisas reagir dessa forma sempre que outra pessoa demonstra preocupação contigo. Podes não acreditar, mas existem pessoas que gostam de ti e preocupam-se.

Desviei o olhar para um ponto qualquer no chão.

-Eu não sou a Kim. Não tentes procurar a tua melhor amiga em mim. -Soltei-me do seu aperto, notando o seu olhar magoado pelas minhas palavras.

-Posso não ser o teu melhor amigo, mas sou teu irmão, e tudo o que eu queria era que não me afastasses para variar.

O Davi bateu a porta com força quando saiu, deixando o baque seco substituir o tilintar anterior dos copos. Suspirei cansada e bebi outro gole de vinho.

-Coitado, até eu fiquei com pena. -Comentou a Âmbar sentando-se ao meu lado.

-Como é que está a Melissa? -Mudei de assunto.

-A ter uma crise. Ela pensava que era Francesa, afinal nasceu em Chicago. Pensava que a mãe a tinha rejeitado por não querer uma filha, afinal foi por causa do pai. Pai cujo ela pensava que era um Richard, só que não. E ela não faz ideia de quem é o verdadeiro. -Sentou-se no sofá ao meu lado, roubando-me o copo para dar um grande gole. -Sabes, tens uma pontaria para homens melhor que a minha.

Filhos da Máfia- Uma família fora do normal.Onde histórias criam vida. Descubra agora