Sentei-me no luxuoso assento de couro do jato privado, a olhar pela janela enquanto Paris desaparecia no horizonte. O brilho das luzes da cidade parecia um eco distante de uma vida que já me pertenceu.
Não que eu tivesse feito com que ela valesse a pena.
A única coisa que tinha conseguido nos últimos meses foi afastar o meu pai, e os meus irmãos. Acidentalmente despertar a ideia de casamento no cérbero do meu pai. Dormir com um rapaz aleatório, que pode estar ligado a um homem muito perigoso, que tentou raptar-me, e quase matou os meus irmãos. Sendo que o Davi ficou ferido com gravidade... enfim... nada de qualidade.
Fechei os olhos, tentando afastar a culpa que me consumia. Sempre senti que era um fardo na vida das pessoas, mas agora, mais do que nunca, essa sensação era esmagadora. Mas por sorte, ou azar, a única pessoa que nunca me fez sentir assim acabou de acordar do coma.
E eu mal conseguia esperar para voltar para casa.
***
Acordei quando senti alguém abanar-me.
-Senhorita, chegámos a Chicago. -Disse o piloto, com uma sua voz firme mas gentil, tirando-me do meu sono.
Levantei-me lentamente, e caminhei pelo corredor estreito, com os meus passos a ecoarem suavemente no silêncio que dominava o jato. Quando cheguei à porta, o comissário de bordo abriu-a, e uma lufada de ar fresco de Chicago invadiu o avião.
Terminei de descer a escada, e parei por um momento, a absorver a cena à minha frente. Três carros pretos estavam alinhados, com as suas superfícies a brilhar sob as luzes do aeroporto. Homens de ternos escuros estavam posicionados ao lado dos veículos, todos com expressões sérias e vigilantes.
-Senhorita Montenegro, estamos aqui a mando do Lorde das Sombras, para a levar até ele. -Olhei na direção da voz e vi o Lucas. Finalmente, uma cara conhecida.
A sua presença trouxe-me um pequeno alívio, mas também reforçou a gravidade da situação.
Eu estava nas mãos dos Lordes das Sombras... e em breve estaria casada com um deles...
-Até ao Teodoro? -Perguntei, mas ele negou com a cabeça.
-O Lorde das Sombras deseja vê-la antes.
-Depois levam-me ao Teodoro? -A minha voz saiu mais ansiosa do que eu gostaria.
-Sim. -Respondeu o Lucas com um aceno firme.
Assenti, tentando manter a compostura enquanto um dos homens se aproximava para pegar na minha mala. Observei-o por um momento, sentindo uma estranha desconexão da realidade. Tudo parecia surreal, como se estivesse a viver um pesadelo do qual não conseguia acordar.
A minha família nem fazia ideia de que eu estava a caminho da minha futura nova casa... afinal, o pai do Teodoro não permitiu sequer que eu me despedisse. Em vez disso, mandou um dos seus homens achar-me e trazer-me com ele de volta a Chicago. Por sorte, consegui convencê-lo a deixar-me fazer uma pequena mal antes de entrar no jato.
O Lucas abriu-me porta do carro, e eu entrei ainda atordoada, sentindo o conforto do assento de couro envolver-me. O carro começou a mover-se suavemente, e eu olhei pela janela, vendo as luzes de Chicago passarem rapidamente, sentindo uma leve sensação de lar. O silêncio dentro do carro era pesado, como eu já esperava.
Depois de alguns minutos, chegámos à mansão Blossom. E a casa estava como eu me lembrava, imponente, com a sua arquitetura clássica e jardins desprezados. No entanto, agora existia a presença de uma nova pessoa.
-Senhorita. -Cumprimentou-me a Clara, e eu olhei-a de cima a baixo. Ela estava vestida de empregada, e tinha olheiras, sem falar que parecia mais magra.
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Filhos da Máfia- Uma família fora do normal.
Genç KurguGêmeos separados à nascença por cinco anos. Um erro marca o coração da protagonista e assombra-a para sempre. Ela volta para casa; uma casa um pouco diferente. Lá ela conhece o seu pai, dono da máfia, o seu gêmeo e mais cinco crianças adotadas...