~Entre mundos -4~

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A noite, com a sua quietude e sombras, é um refúgio para muitos. As almas inquietas encontram consolo na escuridão, onde não há olhos críticos a observar. É um momento de introspeção, quando podemos desabar sozinhos ou perder-nos em histórias escritas por outros.

No entanto, para mim, a noite era um vazio doloroso. A minha alma não era barulhenta, mas sim ferida. Na escuridão, os pensamentos mais sombrios apoderavam-se de mim. Era como se a noite amplificasse as minhas angústias, tornando-as sufocantes. Quase como se estivesse a afogar-me numa piscina cheia do meu próprio sangue.

Por isso, preferia dormir, visto que, apesar dos pesadelos que desapareciam ao acordar, não havia nada que pudesse magoar-me enquanto eu dormia.

No entanto a madrugada trazia consigo um desafio. Quando acordava, o mundo real invadia o meu refúgio noturno. Tal como naquela noite específica, quando um telefonema interrompeu o meu sono. Eram apenas três da manhã, mas o meu coração já antecipava o que vinha por aí.

Atendi sem ver quem era e ouvi uma voz baixa, rouca e angustiada do outro lado da linha.

" -Estou?

-Morgan... -O Carl sussurrou o meu nome com uma leve hesitação, e eu soube que algo estava errado. Sentei-me direita na cama com as mãos a tremer e forcei a voz a sair.

-Carl... o Teodoro... -Não conseguia continuar a pergunta, as palavras desvaneceram-se como sangue na minha boca.

-Ele vai...

-Como? -Perguntei com a minha voz trémula.

A resposta de Carl foi um golpe no peito: -O pai dele vai desligar as máquinas amanhã.

-Ele não pode fazer isso! -Exclamei, a raiva e o desespero a misturarem-se dentro de mim.

-Pode, e vai. Ele nunca gostou do filho, surpreendi-me por ele tê-lo deixado viver tanto tempo. -A mesma raiva que eu sentia, era nítida nas suas palavras.

-Carl, não podes deixar! -Eu estava a tremer, senti-a que todo o ar do mundo não era suficiente.

-Eu não posso fazer nada, ele é o pai, se eu for contra ele acabamos os dois mortos... Eu só te queria avisar... Lamento. "

E com essas palavras, ele desligou antes que eu pudesse protestar de novo.

A notícia de que o Teodoro estava prestes a partir atingiu-me como um soco no estômago. Amanhã, ele não estaria mais aqui, e essa ideia era insuportável. Tão insuportável que eu não consegui mais conter a onda angústia que começava a formar-se no centro do meu peito.

O meu grito ecoou pelo quarto, numa mistura de raiva, tristeza e impotência. As lágrimas vieram sem pedir licença, e eu abracei-me a mim mesma, como se pudesse conter a dor que ameaçava consumir-me.

A primeira pessoa a entrar no meu quarto foi a Âmbar, que mal me viu assim não pensou duas vezes antes de abraçar-me. Ela puxou-me com tanta força contra si que consegui ouvir o seu coração acelerado.

A seguir dela entrou o Val que parou à frente da minha cama, os seus olhos percorram-me de alto a baixo. Ao ver que eu não estava magoada, suspirou aliviado, mas a confusão ainda estava estampada no seu rosto. A Melissa entrou em seguida, parando ao lado dele, os seus olhos percorreram o quarto como se procurassem respostas nas sombras das paredes.

O meu pai e o Hunter entraram logo a seguir e encaram-me preocupados.

-O que é que aconteceu? -Perguntou o Davi com a voz carregada de apreensão.

-Estás bem? -Acrescentou a Kim, entrando logo a seguir.

-Claro que ela não está bem! -Ralhou a Melissa. -Estão cegos por acaso? Não conseguem ver o sofrimento estampado no seu rosto? -Ninguém disse nada, mas através das lágrimas vi os olhos do Valério passarem de mim para a namorada e então caírem para o chão.

Filhos da Máfia- Uma família fora do normal.Onde histórias criam vida. Descubra agora