~Sozinhos em casa- 2~

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No dia seguinte, a manhã pareceu menos enevoada. Fui a primeira a levantar-me, e quando o Hunter foi à minha procura eu estava na sala de armas a treinar. Agarrei na bandeja de mármore, com o meu pequeno almoço, que ele carregava e fui para o quarto do Lorenzo que estava a tomar banho ainda, peguei num livro da sua estante e joguei-me na cama dele a ler enquanto esperava. Assim que ouvi a porta abrir, ergui os olhos do livro para vê-lo encarar-me só com uma toalha à frente da cintura.

-Podes ir vestir-te, eu espero. -Disse voltando para o livro.  

Notei-o revirar os olhos e ir para o Closet.

-Não sabes ficar longe da minha estante? -Perguntou voltando, tal como ontem, apenas com calças de fato de treino. 

-"Concentre-se em conhecer a si mesmo e no conhecimento do seu inimigo, e você nunca será derrotado. Conheça o terreno e as condições climáticas, e sua vitória será completa." -Levantei o olhar para ele. -Grifaste esta parte.

-É uma lição importante. -Ele tirou-me o livro das mãos. 

-Ei! -Sentei-me na cama enquanto ele guardava o livro, intitulado "A Arte da Guerra", de novo na estante. -Pensei em comermos juntos. 

-Gosto da ideia. -Sorri e ele retribuiu. -Ontem ouvi-te a andar pelos corredores e depois a voz assustada de Hunter... -Comentou com uma cara preocupada. -Segui-vos até à cozinha e ouvi-o falar da tua mãe. Está tudo bem? 

-Tive um pesadelo e ele contou-me que ela também costumava ter.

-Não sabia que ele a conhecia.

-Nem eu. -Levei o croissant à boca. -Parece que foram amigos.

-Alguma notícia do Val? -Mudou de assunto.

-Não, mas o Davi publicou uma foto dele com a Kim, e uma Âmbar bem aborrecida, a beber chocolate quente numa cafetaria.

-Coitada da Âmbar, tomar conta daqueles dois não deve ser fácil. -Brincou.

-Ah, desde que lhes forneça uma boa quantidade de vinho, eles não devem dar assim tanto trabalho. -O Lorenzo gargalhou. 

-Meninos. -O Hunter bateu na porta aberta. -Sabem a rotina.

-Vamos já. -Respondeu o Lorenzo.

Acabamos de comer e fomos para a sala de armas. Esta manhã dava para sentir que o ar estava mais elétrico. Hunter sentou-se numa cadeira a observar-nos, mas tudo o que eu consegui ver era o Lorenzo, o rapaz com quem eu podia falar e brincar, o rapaz mais gato da casa, e o que eu mais queria beijar.

-Treinamos com os bastões? -Perguntou.

-Prefiro as mãos. -Respondi e assumimos as posições. 

Fui a primeira a atacar, mas ele defendeu.

A cada golpe não conseguia parar de pensar no seu calor, na sua pele exposta, no seu rosto concentrado. E foi aí que apercebi-me que o desejava de facto, que queria aquele rapaz mais do que queria respirar, que precisava mais do seu toque do que alguma vez precisei de outra coisa. O Hunter levantou-se quando o seu telemóvel começou a tocar e deixou-nos sozinhos. Assim que a silhueta dele se perdeu nos corredores, o Lorenzo mudou a sua postura, e como uma fera, avançou com golpes rápidos e letais. Afastei-me até a distância entre mim e a parede ser mínima.

-Vences-te, não tenho mais para onde fugir. -Parei a luta, mas ele continuou a avançar, só que agora apenas a andar. Recuei até sentir a parede atrás de mim.

-Agora, é que já não tens para onde fugir. -Ele encostou o braço à parede ao lado do meu pescoço e com a outra mão agarrou a minha cintura, fazendo-me arregalar os olhos. -Sou um ótimo mentiroso, não achas?

Filhos da Máfia- Uma família fora do normal.Onde histórias criam vida. Descubra agora