Passei algum tempo entre vai e vem, a consciência oscilando como um barco à deriva, até finalmente conseguir abrir os olhos. A luz branca e intensa da sala fez-me piscar várias vezes, antes de conseguir manter os olhos abertos por tempo suficiente para analisar o lugar onde me encontrava. Estava deitada numa cama, numa sala onde o tema era branco. Desde as mantas que cobriam o meu corpo, até às paredes nuas e aos móveis minimalistas; tudo era branco e vazio... quase estéril.
A minha cabeça latejava com uma dor surda e constante, e mesmo com o leve zunido nos meus ouvidos, podia ouvir o bip rítmico de uma máquina a registar os meus batimentos cardíacos. O som era uma estranha mistura de conforto e inquietação.
Vendo-me acordada, o Teodoro saiu das sombras e aproximou-se. O seu rosto estava parcialmente iluminado pela luz fria, revelando uma expressão de preocupação que eu nunca tinha visto antes.
-O idiota fez-te um grande estrago... -Comentou, a voz baixa e carregada de raiva contida, enquanto tocava a ligadura em volta da minha cabeça com uma suavidade surpreendente. - Queres que peça algo para as dores?
Tentei falar, mas a minha garganta estava seca e áspera. Apenas consegui acenar levemente com a cabeça. O Teodoro virou-se e chamou por alguém do lado de fora da sala. Enquanto esperávamos, ele agarrou num copo de água que estava num móvel ao lado da minha cama e ajudou-me a bebericar um pouco.
-Onde é que eu estou? -Consegui finalmente perguntar, a voz rouca e fraca. Ele suspirou e desviou o olhar.
É claro que ele não ia dizer-me...
-Na parte hospitalar da minha base. -Pigarreou e voltou a olhar-me. -Ias morrer se eu te deixasse ali... a esvaíres-te em sangue...
-Pelo menos livravas-te de mim. -Ele deu de ombros puxando uma cadeira para sentar-se ao meu lado.
-Nunca vi ninguém fazer-me frente como tu... até o Hades achou que valias a pena... Deves merecer uma oportunidade. -A sua mão agarrou a minha. O seu toque quente era agradável na minha pele gelada.
-Ele... morreu? -Assentiu. -Lamento.
-Era só um cão, não tinha valor sentimental. -Apesar das suas palavras, consegui ver dor nos seus olhos.
-Quanto tempo estive inconsciente? -Tentei mexer-me, mas o Teodoro colocou uma mão firme no meu ombro, impedindo-me.
-Pelo menos, uma semana. O médico achou melhor deixar-te em coma induzido, visto a gravidade dos estragos.
A minha mente começou a correr, tentando processar a informação, despertando-me uma dor ainda maior. Levei a mão à cabeça com uma expressão de dor. O Teodoro tocou-me apressadamente para verificar a minha temperatura, mas eu afastei a sua mão.
-A minha família deve estar apavorada...
-Eles sabem que agora estás nas mãos dos Lordes das Sombras. -O seu sorriso matreiro vacilou por um segundo revelando a sombra da sua preocupação.
-E agora devem estar irritados. -A sua preocupação diminuiu ligeiramente ao ouvir a minha provocação.
-Isso é muita preocupação para com a família... principalmente vindo da rapariga que à pouco mais de um mês estava a perguntar se alguém iria preocupar-se com a sua morte. -Lembrei-me vagamente da nossa no parque.
-O teu pai sabe que estou aqui? -Ele fez uma careta por eu ter mudado de assunto.
-Não. Eu não sabia que serias tu a responsável pela entrega do caminhão. E talvez tenha esquecido de reportar esse detalhe... como também o facto de ter-te trazido comigo.
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Filhos da Máfia- Uma família fora do normal.
Teen FictionGêmeos separados à nascença por cinco anos. Um erro marca o coração da protagonista e assombra-a para sempre. Ela volta para casa; uma casa um pouco diferente. Lá ela conhece o seu pai, dono da máfia, o seu gêmeo e mais cinco crianças adotadas...