~Sozinhos em casa- 4~

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Acordei meia hora antes das seis, o meu amado ainda dormia como um anjo. Deixei-o descansar e fui arrumar-me. O meu pai tinha-me deixado para trás para eu remediar a minha burrice, mas até agora só tinha criado outra ainda maior. Quando entrei na cozinha para ir fazer o meu pequeno almoço, o Hunter já lá estava.

-Menina... -Ergui a mão para silenciá-lo.

-Em que posso ajudar? -Ele pareceu surpreso.

-Os croissants já estão feitos, por isso... se quiser espremer as laranjas para o sumo, eu agradecia.

-É um prazer. -Pus mãos à obra. Agarrei numa laranja madura, cortei-a em duas e espremi-a para dentro de um jarro. -Ai! -Queixei-me quando uma gota espirrou para dentro do meu olho e vi o Hunter rir-se. -Ei! -Ele gargalhou contagiando-me com a síndrome do riso.

-É quase tão desajeitada como ela.- Comentou depois de recompor-se.

-Ela era desajeitada? -Parei a olhá-lo.

-Em algumas coisas, como segurar uma arma, assumir uma boa posição de luta ou até a tarefas como espremer fruta ou lavar o chão... A Pandora baldeava o balde da água sempre! O seu pai tem uma cicatriz por causa disso. -Respirou fundo com um sorriso enorme no rosto. -Ela encontrava sempre uma maneira de alegrar os nossos dias mais sombrios, mesmo que por acidente.

Voltou aos preparativos do pequeno almoço, mas agora com um sorriso de canto.

Sem dúvida ele era o único a conseguir falar da minha mãe e ficar ainda mais bem disposto do que antes. Também era a primeira pessoa com quem me sentia confortável para falar acerca dela, o que de certa forma era estranho. Era como se todas as perguntas e pensamentos que tive acerca dela nos últimos anos, e que empurrei para o fundo da alma, de repente ficassem todos entalados na minha garganta, implorando para que eu os deixasse sair.

-E quanto ao casino? -Preferi mudar de assunto.

-Os técnicos acham que devemos conseguir voltar a abrir para a semana.

-Isso é muito arriscado. Podemos perder muitos clientes e certamente vamos perder imenso dinheiro.

-Sim, mas infelizmente não há outra solução. O seu pai concordou. Vamos precisar trocar algumas coisas, mesas, máquinas... e ainda avaliar a razão do maldito cano ter-se partido...

-Partido? -Aquilo chamou a minha atenção.

Canos não se partem sem mais nem menos, não é?

-Sim, ao que parece não foi apenas um furo, ou um acidente. Alguém ou alguma coisa partiu o cano.

-Alguém como um Lorde das Sombras? -Por alguma razão aquele título arrepiou-me até aos cabelos.

O Hunter suspirou.

-Nem eu, nem o seu pai queremos acreditar nisso. O estrago aconteceu a meio da noite, depois de termos colocado todos os nossos melhores homens distribuídos entre a casa e o casino. A segurança era tão apertada que era quase impossível alguém entrar.

Quase... mas não impossível...

Debrucei-me na bancada. Eu tinha visto as medidas. Os vinte homens e dez mulheres eram de confiança, já tinham tido oportunidade de o provar. Eram fortes, inteligentes e rápidos. Era quase impossível passar por eles... na verdade era impossível do modo como estavam distribuídos... mas e se não fosse necessário passar?

A minha mente divagou até aquele rapaz, a maneira como ele estava sempre um passo à frente. Como é que ele poderia saber quando eu estava no casino? A não ser que ele tivesse um infiltrado, ele sempre aparecia depois de mim, quando eu estava sozinha e vulnerável.

Filhos da Máfia- Uma família fora do normal.Onde histórias criam vida. Descubra agora