Acordei com o som da porta do meu quarto a ser aberta, o sol ainda nem tinha nascido, então não conseguia ver nada além de relevos. Instintivamente levei a minha mão para debaixo da almofada onde havia uma faca escondida, o frio da lâmina contra minha pele fez-me despertar completamente. O meu coração batia descompassado no peito, e a escuridão do quarto parecia mais densa do que nunca.
Quem ousaria invadir o meu quarto a esta hora da madrugada? Na teórica todas as pessoas da casa já deviam estar recolhidas nas suas camas. Até mesmo os notívagos dos meus irmãos que por vezes borlavam a hora de deitar.
A escuridão era uma aliada perfeita para quem preferia operar nas sombras, nem mesmo os meus olhos treinados conseguiam distinguir quem se esgueirava para dentro do meu quarto. Cada passo ecoava como um tambor em minha mente, e eu segurei a faca com firmeza, pronta para me defender.
A figura aproximou-se, silenciosa como um fantasma. Eu não podia ver seu rosto, mas sentia sua presença. Com um movimento rápido, empurrei a lâmina contra a sua garganta. Ele recuou, surpreso, e então ouvi a sua voz rouca e baixa:
-Apunhalas-me pelas costas e agora tentas cortar-me o pescoço?
Valério...
-O que queres, ainda nem acordei... -Guardei a faca e liguei o telemóvel. -São quatro da madrugada, estúpido.
-Estás de mau humor porque acordei-te, foi? Imagina eu quando o Hunter invadiu o meu quarto! -Tentei esconder um sorriso e ele suspirou exasperado. -Vais pelo menos dizer que estás arrependida?
-Não.
-Sério? Depois de tudo o que fiz por ti?
Alguma coisa caiu e apercebi-me que havia outra pessoa no quarto, liguei o candeeiro ao meu lado e vi a Melissa vestida toda de preto a mexer nas minhas joias. Tirei a faca debaixo da almofada outra vez e joguei-lha. A faca ficou cravada na parede ao seu lado. Ela arrancou-a e encarou-me com ela na mão.
-Até onde achas que vai essa postura de intocável? A "menina do papá". Quando tu cometeres "o" erro, aquele que o vai levar ao limite, e eu sei que vais cometer... ele vai substituir-te e aí eu vou acabar contigo.
Ri-me com deboche.
-Achas? Eu sou a sua herdeira, ao contrário de ti. -A Melissa cravou a faca na madeira da minha penteadeira e saiu.
-Ela tem razão, és uma miúda mimada... é nestes momentos em que pergunto-me se és mesmo a minha gêmea. -Ele olhou-me com desprezo. -Já foste uma pessoa boa Morgan, já foste a minha melhor amiga.
Queria ir atrás dele e pedir desculpas, mas o meu ego não permitiu.
E daí que eu tenha arruinado a noite de ambos?
Eu tive de viver com a relação deles por anos. Suportei todos os olhares melosos, todos os toques indiscretos e ainda os encobri. Porra! Estou cansada de ser a vela/guarda pessoal, não sou o Cérebro que guarda os portões do inferno. Sou uma pessoa.
Ainda assim, Valério tinha dito as palavras mágicas "já foste"...
Um suspiro escapou dos meus lábios enquanto voltava a enroscar-me nas mantas, incapaz de encontrar o sono novamente. A escuridão do quarto parecia abraçar os meus pensamentos, e o tempo esticava-se como um elástico. Duas horas arrastaram-se, preenchidas com reflexões e inquietações.
Foi então que o som de um punho a bater na porta me trouxe de volta à realidade.
Hunter... o dia havia começado...
Com esforço, ergui-me da cama. Os músculos do meu corpo protestaram contra o movimento, exaustos do esforço físico de ontem. A luz do dia esgueirou-se pelas frestas da porta e da janela, revelando o contorno das coisas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Filhos da Máfia- Uma família fora do normal.
Teen FictionGêmeos separados à nascença por cinco anos. Um erro marca o coração da protagonista e assombra-a para sempre. Ela volta para casa; uma casa um pouco diferente. Lá ela conhece o seu pai, dono da máfia, o seu gêmeo e mais cinco crianças adotadas...