A volta de Kenneth pt.1

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“— Por que você não vai na casa dele? — Foi o que Vic disse, ao ver pela milésima vez o padre suspirar.”

Fazia muito tempo que Sal não ia a igreja, e esse mesmo tempo, era o qual Travis não ia a casa dele. Mas ali estava ele agora: na porta de Sal, pensando o que diria depois que alguém abrisse a porta.

— Pois não? — Pronto, era ele, e nem havia dado tempo de ensaiar. 

— Oi — falou, acenando.

— Ah, padre é só o senhor! — exclamou o mascarado, não se dando conta do que disse. — Vem, entra.

Travis estava destruído, acabara de ser referido como só pelo garoto azul. Isso é que é ser uma pessoa inconveniente. 

— Onde estão seus amigos? — Travis perguntou, vendo que a casa estava vazia.

— Larry, tá com o meu pai. Neil e Todd saíram, provavelmente para ficarem à sós; Gizmo, meu gato, tá dormindo no porão e Ashley, a namorada de Larry, tá na “oficina” — explicou, Travis pensou o porquê dele ter citado até o gato.

— Nossa, mora tanta gente aqui?

— Sim, mas todo mundo se aperta onde dá. Fica mais fácil quando a maioria tem alguém. Eu sou a vela da casa, ah! Junto ao Gizmo.

 — Vela? Você é engraçado — riu.

Sal olhou confuso para o outro: 

— Como assim? É verdade, não namoro ninguém.

(...)

— Então,  por que veio aqui? — Sal perguntou.

— Hum? Ah, eu... eu... — Travis não poderia dizer que foi simplesmente para vê-lo, ou que ficou com saudade. — Eu queria conversar, só isso.

— Sério? Mas, tem muita gente pra conversar na igreja, não?

— Todas são mulheres, conversar  com um homem faz falta.

— Hum... padre, o senhor, realmente queria trabalhar nesse ramo? — Sal perguntou. — Veja bem, o senhor é jovem, poderia ser o que quisesse, por que não fez?

Pela primeira vez, Travis se sentiu confortável em dizer isso para alguém. Para alguém que não fosse algo inanimado ou, Luka. 

— Meu pai... — disse, baixo. — Meu pai sempre quis que eu seguisse seus passos.

— Então, você faz isso por... ele? Por quê?

— Porque eu quero ser o filho que ele sempre quis! Quero ser o orgulho dele! A pessoa que ele fala com graça! — Travis exclamou. — Ele sempre falou mal de mim, me desprezava e quando ele me viu... — Parou, estava começando a chorar. — Quando ele me viu com meu primeiro companheiro, gritou pra mim que eu era uma praga, algo que não valia seu esforço. E-eu tomei vergonha, fiz o que ele quis: fui estudar para ser padre e tomo conta da igreja dele.

— Travis, eu... eu sinto muito. — Sal disse, se agachando ao lado do padre.

— T-tá tudo bem. Eu vou... voltar pra igreja, muito obrigado Sal.

— De nada. Bem, se cuida.

(...)

Ao chegar na igreja, Travis foi recebido pela madre e as freiras com gritos de alegria.

— Padre, padre — chamou a madre, com um grande sorriso.

— Oh, o que houve? Está havendo alguma comemoração e eu não sabia? — perguntou ele, rindo.

— Seu pai, ele estará de volta amanhã.

A Cor do Pecado é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora