"Filho" não existe no dicionário de Kenneth - Travis

818 88 96
                                    

Para. Eu não gosto disso.
Doi. Machuca.
Papai, por favor.
Faz eles pararem.

(...)

- Fraco... - Eles dizem do lado de fora.

- Papai, tem monstros me encarando pela janela! - exclamei, eu estava com medo, mas, você não se importou com isso.

- Olha Travis, você já tem seis anos. Deveria saber, que monstros não existem. - Você respondeu, com aquele olhar reprovador.

Pai, você se enganou, os monstros existem, sempre existiram, e eles fazem parte de mim agora.

(...)

- Travis... Travis... - Alguém me chama. Quem quer que seja, está chorando.

Abro os olhos, bem devagar para me acostumar com a luz forte do ambiente. Assim que enfim meu cérebro, conseguiu acordar, observo o lugar ao meu redor.

- Que lugar é esse? - pergunto.

Eles demoram a responder, mas acho que sei onde estou; em um hospital. Sal está sentado na ponta da cama - onde estou deitado -, com o rosto virado para a porta. Larry parece aliviado, assim como o restante do grupo.

O que aconteceu?

- Como... Você se sente? - Larry perguntou, tenso.

- Me sinto bem - respondo, me sentando na cama, sinto uma pressão no corpo, semelhante a falta de ar, mas não tão forte. - Er... o que houve?

- Encontrei você, caído - diz Larry, percebo que os outros olham para ele com reprovação, mas finjo não notar.

Desvio o olhar para Sal, que até agora não falou nada.

- Ei, você tá legal, Sal? - pergunto, tocando seu ombro. Ele se assusta, e todos se assustam junto. - Na real, todos vocês estão bem? Achei que eu fosse o doente aqui.

Eles começam a rir, e não respondem minhas perguntas. Me sinto vulnerável, não sei porquê. Sem notar, meu corpo volta a deitar na cama sem meu consentimento. Tudo gira.

- S-seu pai quer falar com você. Nós já vamos. - diz Larry.

Por que ele está tão aéreo?

Eles saiem do quarto, Sal olha para um lado e para outro e me dá um beijo na testa, saindo de fininho. Logo meu pai entra.

- Travi o que aconteceu? - "Travi", faz tanto tempo que ele não me chama assim.

- Estou bem pai, só foi um susto - respondo, dando um sorriso, eu acho.

- Me fala filho - pediu, segurando minhas mãos fortemente -, me fala o que que você andou vendo ultimamente. Conta pro seu pai - olhou de um lado para outro, se certificando de que estávamos sozinhos: - Quem é aquele garoto de cabelo azul?

Ah, eu já devia suspeitar, a palavra "filho" não existe no dicionário de Kenneth Phelps, no lugar dela, existe "cobaia". Ele só que saber se sua cobaia está bem e onde ela está indo, para poder colocar os freios.

- O nome dele é Sal, ele é um fiel que tem vindo a nossa igreja aos sábados - respondo, simplista.

Ele conserta a postura, ficando ereto:

- Filho, por favor, fique longe dele. Ele é má influência. A forma que ele se veste... - suspirou. - Uma pessoa assim não deveria estar na igreja.

É o sujo falando do mal lavado, pensei.

- O Sal, é exatamente o conceito de boa influência - sorriu.

A Cor do Pecado é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora