Monstro - Karin

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Notas:
A partir daqui, as coisas realmente ficam confusas.

*

Vic chegou no quarto chorando, pegou umas roupas e objetos,  os frascos de hormônios e colocou tudo em malas e então gritou pra mim:

— Pegue as suas coisas, nós vamos dar o fora daqui.

Eu a obedeci. Peguei tudo o que precisava, troquei minhas roupas e ela trocou as dela. Saímos pela janela do quarto. Ela estava enfim aceitando a ideia de fugirmos? No meio do caminho, ela puxou meu braço e me deu um beijo, ficou minutos apenas olhando o meu rosto.

— Eu te amo. — Foi o que ela disse e então voltamos a andar.

O que estava acontecendo? Por que ela estava tão nervosa?

Chegamos em uma casinha, a entrada era bem delicada: uma varanda. Vic bateu na porta e um homem de máscara e cabelos azuis atendeu.

— Como... posso ajudar?... — Ele perguntou, parecendo confuso em nos ver.

— Sal, sou eu, Vic. O padre...está?

O padre Travis? Então era ali que ele se escondia?

— E-está no meu quarto, consertando uma estante... — disse Sal, liberando espaço para nós passarmos. — O que houve? Você... nunca veio aqui.

— Tenho um assunto a tratar com o Travis... algo... que eu descobri recentemente... — As mãos dela tremiam enquanto falava, aquilo estava começando a me apavorar.

— Sal, sua estante está novinha em folha! — exclamou Travis, surgindo na sala. — Vic?

— Oi — cumprimentou, e então, as lágrimas de antes voltaram a tona.

— Ei, o que houve? — Travis perguntou, indo até ela.

— Eu... eu fui chamada na sala do seu pai e... e... a madre me contou uma coisa... — Ela começou. 

— O que a madre lhe disse? — O padre perguntou, erguendo o rosto de Vic.

— Que... ela é a minha mãe e que eu e você... somos irmãos... Kenneth confirmou. — Finalizou, e Travis paralisou. O silêncio rodeou a casa.

— C-como assim? — Ele perguntou, mas provavelmente fora para si próprio. 

— A minha mãe... a minha mãe não é ela, não é? A minha mãe era a minha mãe, não?... — Vic tornou a chorar, agora entre soluços. — Não tem como ela ser a minha mãe! Não tem...

— Vic... por favor... se acalma... — O padre pediu, sorrindo, mas seus ombros tremiam.

— Travis...

[...]

— Nós vamos a igreja — contou Vic.

— O que?! Não! — gritei. — Você não vai! Eu quero você perto de mim...

— Karin, nós precisamos ir... Não sabemos o que Kenneth está planejando, temos que ir. — Ela me explicou.

— Então eu vou com vocês! — Temei e Sal balançou a cabeça em um sim.

— Não, vocês ficam aqui. — Foi a vez de Travis se pronunciar. — Se algo acontecer, vocês podem agir.

E então, após dizer aquilo, o padre e a Vic saíram. 

[...]

— Eles... estão demorando demais... —
— Eu disse, batendo o pé já impaciente. 

— Será que aconteceu alguma coisa? — Sal perguntou.

— Eu que não vou ficar aqui! — Me levantei, apenas escutando os gritos do mascarado para que eu voltasse e esperasse por eles. Até parece.

O céu nublado começou a engolir Nockfell e uma brisa congelante tomou posse do meu corpo, um som assutador ermegiou no ar e sem que eu podesse controlar, lágrimas desceram pelo meu rosto e uma chuva densa as acompanhou junto a um grito de desespero; que não era meu.

— Vic! — gritou o padre, seu corpo desabou e ele também começou a chorar: — Você é um monstro!

Me escondi e tapei minha boca, impedindo dos sons de agonia saírem.

— Kenneth... — disse a madre, que abraçava o corpo sangrento de minha amada. — Por que fez isso?! Por que?! Ela era a minha filha, minha! Você não tinha esse direito!

— Eu tenho, e eu fiz. Agora, Travis para dentro! — O mais velho disse, de forma amarga. — Antes que eu mate você e essa mulher também.

— Não vou entrar mais naquele lugar... se quer me matar, que faça! Por essa mulher... eu não me importo, nunca foi minha mãe... se fosse, não teria me deixado com o senhor.

— Então... essas são as suas últimas palavras? — Kenneth perguntou, prensando a arma contra a cabeça do filho.

— Acho que são... — Travis se rendeu.

— Eu não vou deixar que faça isso Kenneth! — disse a madre, ficando do lado do filho. — Eu não vou deixar você matá-lo, ele é a minha cria!

Kenneth riu: "— ua cria? Só poderia ser uma cadela mesmo! Quer morrer primeiro? É isso? Então vamos lá! — gritou e então atirou. 

O corpo da madre caiu no chão; frio. 

— Agora é a sua vez Travi."

O padre correu, e Kenneth atirou atingindo a perna. Travis gritou e caiu, mas voltou a correr, e Kenneth foi atrás. Assim que o Acer bispo saiu, fui até o primeiro corpo; o corpo de Vic. Ela parecia tranquila, apesar de estar tão machucada: havia um corte fino e raso no pescoço, e o tiro, havia sido no peito.

— Amor... — chamei, mesmo sabendo que ela não iria responder. Abracei-a e me deixei chorar, aos poucos, freiras começaram a vir na minha direção, elas tentaram me tirar de perto de Vic a todo custo. — Me larguem!

De repente, uma forte dor de cabeça me atingiu e tudo ficou escuro.

A Cor do Pecado é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora