A volta de Kenneth pt. 3

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Notas:
Itálico: pensamentos.
Itálico entre aspas: flashback
Negrito: demônios

**

Ali estava ele, bem a sua frente. Kenneth Phelps, seu amado “papai”.

— Travis! Meu filho! Faz tanto tempo! — Ele exclamou, abraçando o padre fortemente. — Como você cresceu! Está um homem, quase na meia idade.

— Oi papai, é um prazer vê-lo novamente. O senhor não mudou nada.

— Infelizmente não posso dizer o mesmo de você, Travis. Olha pra você! Não é mais o meu garotinho — disse Kenneth. 

— Você deve estar cansado. Vamos entrar. — Travis chamou, puxando o pai na direção da igreja.

— A igreja está diferente. Vocês... reformaram? — perguntou o Acer bispo. 

— Não. Deve ser por causa da decoração. — Travis respondeu como se tivesse falando com alguém desconhecido.

— Filho, você não estar feliz em me ver? — perguntou o mais velho, vendo o desánimo de Travis.

Flash back's começaram a surgir diante de Travis. Lembranças que ele achou ter esquecido. Muitas e muitas ruins.

“ — Abra a porta Travis! Precisamos conversar! —Kenneth gritou do corredor.

Travis sabia que se abrisse a porta, seu pai bateria nele novamente. Falaria um mar de palavrões, e apontaria o dedo na sua cara, como sempre fez. Por isso, não disse uma palavra, apenas se encolheu mais no canto do quarto.

Ei! O que foi aquilo que eu vi na sua escola?! — perguntou seu pai, nervoso. — Eu não acredito que você beijou um garoto, Travis! Não criei você pra ser um gay inútil! 

(...)

Não estar feliz em me ver?” Como ele tem coragem de dizer isso?, Travis se perguntou. 

Já era noite, e havia sido mandado para o quarto. Mesmo que tivesse 100 anos, nunca iria desobedecer uma ordem de seu pai. Sabia as consequências disso.

— Sim! Claro que estou feliz! Você é o meu pai!Foi a resposta mais falsa que ele já deu na vida.

— Ah! Esquece isso Travis! —exclamou para o teto, abraçando forte seu travesseiro, como um adolescente.  — Pensa em algo feliz que aconteceu hoje... Sal e você... hum... ele é muito fofo!

Travis, Você não vai fugir da gente dessa vez...

Isso... Não tem para onde fugir...

Agora Nós podemos entrar no seu quarto...

Ele está aqui agora. Ele é o nosso supremo.

Ele dá as ordens e Nós obedecemos.

Você é nosso agora!

As vozes iam ecoando na sua cabeça, elas apareciam nos momentos de paz.

(...)

Sal acordou assustado. Mais um de seus pesadelos, mas fazia tempo que um daquele não aparecia. A morte de sua mãe.

Sentou-se na cama, olhou para o despertador, e confirmou sua derrota: 4:05.

— Ótimo, e o que eu faço nesse meio tempo? — Se perguntou, levantando.

Colocou seu casaco e uma toca, foi em direção a porta e saiu. Caminhou até um parque velho e suspirou, os brinquedos estavam piores do que ele. Foi até o escorregador e deitou de cabeça para baixo, tendo suas pernas jogadas na pequena escada. E ali, ficou observando o céu acinzentado da cidade.

— Você não deveria fazer isso, o sangue vai subir para sua cabeça — comentou Travis, que chegara de repente e ficou a encarar o azulado. — Por um acaso, você quer ser o Batman?

Sal riu, bem baixinho: — Talvez, seria divertido.

— Não tem medo de ficar preso assim? — perguntou o loiro.

— Sou magro. Nem se eu quisesse me prender aqui, eu ficava. — Sal respondeu.

— Hum... corro risco de ser atropelado por você, se eu me sentar nessa ponta? — perguntou.

— Sim, é provável — riu. — Vou escorregar e bater de frente com você!

— Ah... Então vou me sentar naquele balanço. Só vou torcer para não cair.

Travis se sentou em um balanço mais próximo do escorregador, e ficou desenhando na areia.

— Você... Não deveria estar na igreja? Com o seu pai?— Sal perguntou, depois de um tempo de silêncio. 

— Acho que sim. Mas eu não consegui dormir hoje, então decide dar um passeio antes deles acordarem. — Travis explicou.

— Hum... hoje dormi apenas três horas. Provavelmente.

— Nunca tive dificuldades para dormir. Não, eu estaria mentindo se afirmasse isso. Tirando as épocas de prova no internato, eu não conseguia dormir na minha casa.

— É? Por que? — Sal indagou.

— Ah, não sei — suspirou. — Talvez por causa das coisas do outro lado da janela...




A Cor do Pecado é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora