Sobre pontos perdidos e amizades de para-quedas

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14 anos atrás - Colégio Interno Santa Maria

— Luka! — A madre chamou a atenção. — Você poderia pelo menos não dormir nesta aula?

— A madre sempre pega leve com o Luka, isso porque ele é sobrinho dela — contou um dos garotos para um pequeno grupo.

— Ela também é bastante piedosa com Travis, mas isso todos sabem o porque: ele é filho do acer bispo — disse o outro.

— Dizem por aí,  que Luka e Travis, estão juntos. Eu não duvido — comentou um outro rapaz, dando um risinho.

— Patric, Raphael e Dylan! Por favor, façam silêncio — ordenou a madre.

— Não podemos negar que se parece um fato — provocou Patric, fazendo os outros dois rirem.

— Já chega! Estão fora da sala!

(...)

Ao final da aula, Luka e Travis se encontraram para voltarem ao quarto. 

— Eu odeio aqueles babacas, eles não largam do meu pé! — Luka suspirou, chateado.

— Se continuarmos a ignorar talvez eles vão embora. — Travis disse, diferente de Luka, ele estava neutro. — Vem cá — chamou, puxando Luka pela cintura. — Tem muita gente passando aí, você pode esbarrar em uma delas.

— O-obrigado.

Os dois chegaram no quarto, sem muita demora.

— Eu vou tomar banho, você pode esperar aqui — disse Travis, tirando uma toalha de dentro do armário.

— C-certo.

Luka sabia que o que ele sentia por Travis, nunca seria dado de volta por ele, mas pelo menos o garoto se sentia feliz de ter sua companhia e sua amizade. Travis, era bastante quieto nas aulas e sempre bastante distante de tudo, porém com Luka era diferente, ele podia mostrar quem realmente era: um garoto que só queria ser um orgulho para seu pai, queria que ele o notasse e só por isso, estava ali, naquele internato.

— Terminei, você pode entrar agora. — Travis disse, secando os cabelos.

— Tá. Err... Travinho, você pode me ajudar mais tarde? Com a lição.

— Posso — sorriu. — Mas não se esqueça: eu vou querer um pagamento.

(...)

Era madrugada, mas Travis e Luka ainda estavam acordados, por causa dos pesadelos e os sons dos animais noturnos.

— Luka. — Travis chamou e o amigo apenas fez um som com a boca. — Eu já sei o que eu vou querer de pagamento.

— E o que seria? 

— Seus olhos — disse, se debruçando sobre Luka. — Eu quero viver olhando para eles...

3 anos depois

Travis estava no pátio conversando com seu pai, e Luka estava no quarto, experimentando um vestido velho da sua amada mãe. Ele costumava fazer isso quando estava sozinho.

— Eu... sou assim?... — Se perguntou, encarando seu reflexo no espelho. O vestido, era azul, com detalhes cor-de-rosa e babados.

— Luka, voltei — Travis anunciou, entrando no quarto. Luka se assustou quando o viu. — Me desculpe. O que está fazendo? E que vestido é esse?

— E-era da minha mãe,  por favor, não conta pra ninguém que eu tenho ele! — Luka pediu, ansioso. Estava quase em prantos pelo nervoso.

— Eu não vou, cada um de nós temos nossos segredos, não é? — confortou, abraçando o amigo. — E não vou jugá-lo por isso.

— Obrigado...

(...)

— Luka, eu... eu vou sair do internato. Ano que vem. — Travis contou, cabisbaixo.

— O que? Mas por quê? — perguntou, guardando o vestido em uma mala.

— Meu pai vai fazer uma viagem, e eu vou com ele, não acho que vou voltar pra cá. Ele quer me colocar pra trabalhar em uma igreja.

— Não! Eu não vou deixar! — exclamou, segurando nas mãos de Travis — Você é meu amigo, não quero ficar longe de você! — Ele estava começando a chorar.

— Também não quero, mas... é meu pai Luka! — Também estava começando a chorar. — E-eu não quero decepcioná-lo, não de novo...

— Entendo. Então, me prometa, que quando você se tornar padre, eu vou poder estar do seu lado!

— Eu prometo, Luka.

2 anos depois

— L-Luka, o que você está usando?! — Era a madre, ela estava em pé na porta do quarto. — Isso... isso é batom? — disse, arrancando o objeto das mãos do sobrinho. — Seu pai teria vergonha de você!

— Eu sei que ele teria! Minha mãe sempre foi mais compreensiva do que ele! — Ele gritou, com um olhar feroz, o qual quase estava se desmanchando em lágrimas. — Eu odeio a senhora por ter dado essa ideia absurda sobre o internato! Eu não queria estar aqui!

— Sei disso, mas você poderia ser mais grato, Luka!

— Para de me chamar assim! Eu não gosto desse nome!

A madre respirou fundo, o segurou pelos cabelos, arrastando-o até o banheiro.

— Você é um garoto! E eu vou fazer você entender isso! — A madre gritou, rasgou as roupas de Luka e o colocou ajoelhando no chão debaixo do chuveiro, ligou-o na água fria e esfregou o corpo do sobrinho violentamente.  — Vou tirar toda essa impureza!

(...)

— Sabe Luka, se você quer tanto ser uma garota assim... — disse a madre, enquanto penteava os cabelos dele.

— O quê?

— Vou te ajudar, mas você vai ter que virar uma freira, Vic.

A Cor do Pecado é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora