Demônios e lealdades - Vic

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Notas:
Capítulo com gatilhos, se for sensível a violência física e psicológica, por favor não leia.

*

Por algum motivo, Kenneth não deixa ninguém entrar no quarto do Travis, e talvez, seja por causa dos gritos que temos escutado ultimamente.

— Fizeram alguma coisa com ele — sussurro, enquanto caminho pelo corredor.

Todas saíram com a minha tia para algum lugar, não sei quando irão voltar, por isso, estou aproveitando para finalmente vestir algo confortável. Pego um dos vestidos que guardo na minha mala, ele é verde com algumas flores cor-de-rosa.

Vestindo isso, me sinto mais eu. É bom. Faz muito tempo desde que vesti qualquer um dessa mala.

Tomo um susto quando a porta do quarto é aberta, e lá estava, Karin, uma das freiras que deveria ter ido com a minha tia.

— Vic? É você? Nossa! Como você está linda! — Ela exclama, Karin é uma das noviças desse ano, ela é quatro anos mais nova do que eu.

— Karin, eu te peço, não conta isso pra ninguém! — digo.

— Eu não vou. Fugi daquela reunião chata, prefiro ficar aqui, com você. — Algo me diz que ela está me cantando.

— Oh, certo. — É a única coisa que eu consigo dizer.

— Você tem outro? Faz muito tempo que não uso uma roupa comum. — Ela diz, tirando algumas das minhas roupas da mala. — Nossa, gostei dessa, posso usar?

É o vestido da minha mãe, o primeiro que eu usei. Não sei se quero dizer não, mas também não quero dizer sim.

— P-pode, mas tenha cuidado. Ele é o meu preferido — respondo.

— Certo. Eu não vou estragar, pode ter certeza — falou, começando a tirar as roupas e vestindo a que ela pegou. — E então? Como eu fiquei?

— Parece que foi feito pra você — respondo, ela está linda.

Karin sorri, e caminha lentamente até mim, segurando minha cintura.

— Sabe Vic, vim pra essa igreja velha por causa da minha mãe. Nunca pensei que eu poderia achar algo de interessante aqui, mas parece que encontrei, achei você. — Sem mesmo um aviso prévio, Karin me puxa para um beijo. — Vamos embora daqui Vic, vamos juntas... — sussurra no meu ouvido.

Afasto ela de mim com um leve empurrão. O que essa garota tá dizendo?!

— E-eu não posso. Mal te conheço, e, tem uma razão para eu estar aqui, algo que eu prometi proteger com a minha própria vida! — respondo, sem pensar duas vezes, corro para o quarto de Travis.

Ele precisa de mim.

Ele precisa.

Bato na porta com força várias vezes, e já sem paciência, a arroubo e adentro o quarto. Lá está ele, no fundo do quarto, encolhido. As paredes estão cheias de rabiscos, e ele não para de sussurrar palavras estranhas, tampando os ouvidos com força.

— Travis — chamo, ele olha de relance pra mim e então, vem rastejando no chão.

— Me mata, por favor! Me mata, me mata! Eles estão aqui, estão aqui e não querem ir embora! Por favor! — diz, puxando a ponta do meu vestido, como se fosse rasgá-lo.

— Q-quem está aqui Travis? Quem fez isso com você? — Me agacho ao seu lado, um pouco hesitante.

— As sombras, Vic. Elas não querem me deixar em paz... — disse, lágrimas começam a escorrer por seu rosto.

Ele... Não parece o mesmo. Parece louco pelas coisas que diz, está magro e com os olhos vermelhos. O que eles fizeram com ele? Sua pele está toda arranhada, as roupas rasgadas e ele tem ferimentos abertos...

— Desculpa Travis... eu... não pude te proteger — digo, o abraçando.

Meu único trabalho, era protege-lo, ficar ao seu lado, mas... eu falhei.

A Cor do Pecado é AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora