Epílogo

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Quando você fala e é como uma canção.
E assim todas as minhas paredes desabam.
É como uma piada que apenas nós dois sabemos o significado.
Eu me conecto com você naturalmente e todo mundo simplesmente desaparece.
Às vezes é difícil respirar, só de saber que você me encontrou.
[...]
Venha e me leve.
Amar você me salvará, como ninguém mais. Agora eu posso ser eu mesma com você.

             With You – Waxahatchee

          Point of view Dulce María

O tempo parecia ter parado e corrido ao mesmo tempo desde aquela tarde na praia. Duas semanas e meia. É estranho como a vida pode se transformar tão abruptamente, como se alguém simplesmente puxasse o tapete sob seus pés, deixando você no chão, tentando entender o que aconteceu. Desde aquele momento, tudo em mim mudou – e não apenas por dentro.

Quando a gravidez foi confirmada, a notícia explodiu em minha mente como um trovão. Alegria e medo se misturaram em uma tempestade que não parava. A certeza de que Christopher estaria ao meu lado me deu forças no início, mas, conforme os dias passavam, o peso dessa nova realidade parecia esmagar a mim e, inevitavelmente, a ele também.

Não demorou muito para que os primeiros sinais se tornassem impossíveis de ignorar. Os enjôos já não pareciam tímidos, como algo que poderia passar despercebido, na verdade rapidamente se tornou parte da minha rotina. Uma rotina dura e intensa. Tudo tinha cheiro, tudo parecia fora do lugar, e era difícil encontrar algo que o meu estômago realmente tolerasse. Por mais que eu tentasse disfarçar, sabia que minha mãe não era boba. Ela era observadora, atenta a cada detalhe, e a cada dia que passava, parecia mais desconfiada.

Não era apenas pelos enjôos. Meu corpo começava a mudar, ainda que de maneira quase imperceptível para os outros, mas não para mim. Meus seios estavam mais sensíveis, o sutiã parecia apertado, como se meu corpo quisesse me lembrar a cada segundo que algo estava diferente. À noite, no espelho, olhava para minha barriga, ainda plana, mas com algo... algo que só eu podia ver. Talvez fosse minha imaginação, talvez fosse real, mas para mim, o segredo parecia impossível de esconder.

Eu me esforçava para não ser paranoica, mas a ideia de minha mãe descobrir antes de eu estar pronta para contar me consumia. Eu conseguia quase ouvir sua voz em minha cabeça, questionando, julgando, impondo verdades que não eram minhas. Ela era o tipo de pessoa que via além das palavras, que entendia o que não era dito, e isso me apavorava.

E Christopher... Eu confiava nele. Sempre confiei. Ele fazia o possível para aliviar meu fardo, mas eu sabia que não era fácil para ele também. Ele tentava parecer calmo, mas eu via os momentos em que seu olhar ficava perdido, as noites em que ele demorava para dormir, pensando em como nos tirar daquela situação. Nós tínhamos combinado de esperar para contar às nossas famílias, ao menos até termos um lugar nosso. Ele estava certo, claro. Não dava para encarar minha mãe sem um plano concreto.

Só que, no fundo, eu sabia. Encontrar um apartamento que coubesse no orçamento dele não era fácil. Mesmo com a economia que ele tinha guardado, era uma possibilidade apertada. Aquela economia... Eu sabia para o que ela era destinada. Não precisava que ele dissesse. Christopher tinha sonhos, planos que ele adiou por mim, por nós, por essa família que estávamos construindo, mesmo que de forma inesperada.

Michigan. Eu nunca consegui dizer isso a ele, mas a ideia de ser parte do motivo pelo qual ele recusou aquela proposta me esmagava. Ele deveria estar lá agora, jogando futebol, vivendo o sonho que carregava desde o ensino médio. Mas, em vez disso, ele estava aqui, trabalhando mais do que deveria, usando o dinheiro que ele guardou com tanto cuidado para garantir um futuro que talvez ele nunca mais pudesse ter.

It's a Boy Girl ThingOnde histórias criam vida. Descubra agora