CAPITULO 4 - OYÁ

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A CHEGADA À ALDEIA FOI UMA FESTA, todos eles sendo sendo aclamados como heróis, traziam comida o suficiente para quase um mês e essa é uma diferença grande entre morrer e viver: comer era uma esperança. Olodurecê procurou sua esposa ansiosamente em meio à multidão e não a encontrou. Seus amigos e vizinhos estavam todos ali exclamando honras aos Odés (Caçadores), exaltando suas qualidades e a aventura vivida por eles.

Ficou apreensivo sobre o motivo do fato, mas junto com seus amigos levou as carnes para serem preparadas para o consumo e para conservação, pegou os dois grandes chifres, seus poucos apetrechos de caça e caminhou em direção a sua casa, entre a pequena multidão que o parabenizava.

Seu rosto demonstrava o cansaço da tarefa e a tristeza da perda de um amigo, um companheiro de infância. Atravessou as taperas simples que eram a marca de todos em Jebba e teve que passar pela área central, onde todos se reuniam para comemorar e também onde ocorriam reuniões do Conselho dos Anciãos, viu as pedras onde eles sentavam-se e continuou rápido seu caminho, até que distinguiu seu lar junto a outros três que formavam um conjunto bem próximo umas das outras, o Apaoká (Jaqueira) enorme que servia de sombra para todos ali. A construção à direita era a sua. Era de sapê, de uns seis metros quadrados, possuía dois cômodos apenas, um onde dormiam ele e sua esposa e o outro onde guardavam suas coisas, era arejado, por incrível que possa parecer, por duas janelas recortadas na parede, enfeitadas cada uma por uma palha de dendê desfiada para espantar os maus espíritos, um telhado baixo de capim, onde três tochas estavam acesas em pontos das paredes. Na frente da casa notou o ajudante do Babalawô da aldeia, Imojé sentado ao lado da entrada; perguntou-se o que poderia estaria acontecendo. O jovem levantou-se quando o viu chegando, o saudou sorrindo, sem resposta. Oludorecê irrompeu como uma enchente em seu lar e viu que o velho sacerdote Ifagbayn estava ajoelhado ao lado de sua esposa, numa esteira fina de palha trançada que forrava o chão de terra batido, ela segurava a menina nos braços, o velho jogava o seu oráculo. Suspirou levemente aliviado, seus ombros relaxaram-se.

Aproximou-se cauteloso, olhando do rosto tenso de Iyalorim, sua esposa e examinando o da criança que estava em seus braços, parecia uma menina forte com feições finas, mas saudáveis e imediatamente lhe veio à memória a imagem da feiticeira, seus olhos fechados mas que viam tudo, até o seu medo e temeu por todos ali. Sentiu-se só e fraco e o pior: sem segurança.

Sua entrada mesmo silenciosa, não passou despercebida ao olhar de sua esposa, tão acostumada quanto ele aos mínimos barulhos e movimentos, afinal ela era esposa de um Mestre Caçador, ele então dirigiu-se primeiro ao velho sábio Ifagbayn e tocou o chão com sua mão direita e levou-a a sua testa e o homem lhe estendeu sua mão grossa e grande, a qual ele respeitosamente beijou e então o abraçou primeiro do lado esquerdo e depois do lado esquerdo falando:

- Mojubá Babá! - E Ifagbayn lhe respondeu: - Mojubaxé caçador!

Em seguida, convidou Olodurecê a sentar-se na esteira forrada no chão, junto a eles, onde a tábua do Opelê Ifá estava coberta com o pó branco do Efum (Caulim) que formava desenhos estranhos na superfície da sua tábua, que ele sabia continham a fórmula para o destino dos homens.

Olodurecê olhou sua esposa carinhosamente, ela assentiu ainda tensa, o caçador acariciou seu cabelo e logo após pegou carinhosamente a mão fria de sua Iyalonni e acomodou-se a seu lado. A criança agitada imediatamente aquietou-se. O Babalawô notou o ocorrido e sorriu.

- Meu amigo de tantos anos Olodurecê, dentre todos os mais importantes chefes do Conselho, você me chama para se aconselhar sobre as coisas mais interessantes que acontecem em nossa aldeia, mas, sinceramente, não consigo imaginar quais aventuras o fez trazer essa criança até o nosso convívio. - Começou a falar o velho de compleição frágil de idade indefinida, que aconselhava a todos desde que Olodurecê se conhecia por gente. - Sua vida é como uma sombra e não consegui ler nenhum Odú que corresponda ao seu destino, só esse fato já me faria temer por ela, pois nenhum ser vivo escapa aos Odús (Marcas do destino) de Ifá. Conte-me como a encontrou!

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora