NA MANHÃ SEGUINTE, COM OS RAIOS AINDA FRIOS, Oyá e seu pai saíram da aldeia com o pouco que conseguiam carregar. Alguma comida, água, apetrechos de caça, amarrados uma trouxa em suas costas. O mínimo para caminharem e encontrarem o ermitão que vivia no coração da selva e se instalarem. Como companhia nesse início de empreitada somente seu padrinho Ifagbayn, do qual despediram-se emocionados.
O caminho era difícil, o relevo era acidentado. Olodurecê tentava minimizar o esforço para sua filha, mas mesmo assim o percurso era longo, atravessaram o rio num barco pequeno, desembarcaram na sua margem posterior e seguiram entrando mundo a frente, chegaram ao seu destino quase no fim do terceiro dia de caminhada e mesmo assim ao divisarem a pequena clareira onde existia uma pequena cabana não avistaram a presença de ninguém.
O local era simples, como esperavam, não era de barro como as casas da aldeia, mas feita de paus amarrados e com uma grande coberta feita de palha que cobria o esqueleto de madeira.
Aproximaram-se devagar da cabana e observaram que existia um grande número de ervas secando amarradas por cordas finas de ráfia em montes individuais, além de ossos, sementes e animais secos. Olodurecê conhecia algumas e sabia de algumas propriedades de poucas plantas que estavam ali. Venenos, remédios, feitiços. O ermitão que vivia ali chamado Osanyn devia ser um feiticeiro, um grande conhecedor de ervas. Eram muitas e ele desconhecia o uso que era dado a grande maioria delas.
Depositaram seus pertences no chão poeirento e sentaram-se na frente da cabana de palha e esperaram. Mais hora, menos hora alguém iria aparecer. Olodurecê rezou para que fossem hospitaleiros e os aceitassem ali.
Oyá retirou um pouco de comida de sua trouxa e separou uma porção para ela e outra para seu pai, além do embornal de couro cheio de água que retirou de seus ombros. Sabia um pouco da vida de caçador, pois seu pai lhe respondia a qualquer coisa que ela perguntasse. A menina era esperta e em pouco tempo aplicava alguns dos conhecimentos que seu pai lhe passava. Era excelente rastreadora e atirava flechas muito bem.
Pensou em sua nova vida e momentaneamente ficou triste, pois tudo que conhecia, sua existência e seus amigos ficaram para trás, bem como sua antiga casa e sua mãe. Sem chances de voltar, sua vida mudara de uma forma estranha e irreversível. Seus olhos umedeceram-se por instantes e ela balançou sua cabeça querendo esquecer. Seu pai estava preocupado com ela e percebendo sua expressão melancólica pousou sua mão na dela confortando-a, Oyá olhou-o e sorriu de volta para ele, pelo menos tinham um ao outro, isso bastava.
- Fique tranquila minha filha ficaremos bem!
- Sim meu pai! Confio no senhor mas ... nada! Estamos juntos, vamos ficar bem!
Esperaram um longo tempo pelo ermitão, a tarde ia se abatendo rolando com o vento, trazendo a escuridão, até eles divisarem mais ao Sul, o vulto de dois homens ao longe se aproximando de onde estavam. Quando estavam perto o suficiente notaram que vinham carregando uma caça, talvez um porco do mato pequeno e ao verem Olodurecê e Oyá pararam por instantes, conversaram apontando-os e seguiram seu caminho em direção a cabana.
Pai e filha olharam uma dupla estranha de homens: um alto e esguio, vestindo um tecido verde enrolado em seu corpo que amarrava na cintura, o outro era muito pequeno e atarracado e vestia peles de animais, juntos carregavam a caça amarrada numa vara.
Olodurecê adiantou-se e os cumprimentou, ajudando o homem alto a carregar a caça até a parte de trás da cabana, ajudando-o a pendurá-la no lugar usado para estripar e limpar as caças.
-- Saudações Babá! Sou Olodurecê e a menina é minha filha Oyá. Somos de Jebba e a Conselheira Yeyê Lekê nos mandou procurar o Babá Osanyn.
-- Osanyn sou eu! Falou o homem mais alto e apontou para o anão e o apresentou: Esse aqui é meu amigo Aroni. Ele não fala muito, mas é confiável e amigo pessoal meu. Mas me conte como estão as coisas em sua aldeia? Por que estão aqui na floresta? Perguntou ele desconfiado. Osanyn era intimidador, seus olhos eram profundos e tinham uma tonalidade que se assemelhava ao verde das plantas e não tinha muito trato com outras pessoas, notava-se que ele era recluso por seus modos tímidos, por isso morava distante de tudo e de todos, já Aroni era o oposto dele, tinha a aparência simpática e um riso fácil, mas quando olhado com mais cuidado notava-se que ele tinha um ar de mistério, olhos vítreos e negros, um dele cego, era feio, corcunda e deformado.
Os olhos de Osanyn pousaram em Oyá e se estreitaram, a menina ficou intimidada com sua presença, mas os cumprimentou com igual respeito. Mesmo com uma aparência tão grotesca gostou imediatamente do anão Aroni
-- Senhores! Antes de falar nossa história eu tenho algo para lhe entregar. - Falou isso olhando para Oyá que pegou o pote e o entregou a seu pai que o repassou a Osanyn.
- Yeyê Lekê pediu-me para entregar-lhe esse pote Babá! Mas nossa história será um pouco demorada e queremos pedir aos senhores para pousarmos aqui hoje a noite e então contarei os fatos que nos trouxeram até aqui.
Aroni olhou para a menina com interesse e fez que sim com a cabeça, só restando a Osanyn aceitar. Olodurecê pediu para preparar a caça e foi com Osanyn para a parte de trás da cabana prepara-la. Aroni ajudou Oyá a colocar os pertences dela e de seu pai para dentro e ela pôs-se a fazer o fogo. O anão ficou olhando ela esfregar com destreza dois pedaços de madeira e em poucos momentos uma brasa foi avivada e se transformou numa fogueira, ela soprou-a e então o fogo ficou vivo, intenso. Como o espaço era limitado, ele estranhou o fato do vento levar a fumaça para fora e não os sufocar. Olhava com espanto o funil delicado de fumaça e tentava segurá-lo entre suas mãos.
Oyá sentiu o olhar do homem desviar-se e pousar sobre si e tentou falar com ele:
- Meu nome é Oyá! Agradeço em meu nome e no de meu pai por terem nos acolhido. Obrigado Babá!
Ele sorriu um sorriso com poucos dentes e soltou um som parecido com o de pássaros, ela olhou entre admirada e assustada e riu alto.
Seu pai e Osanyn escutaram seu riso e pela primeira vez Olodurecê sentiu que poderiam ter uma vida melhor. O ermitão ficou pensativo diante do que o caçador tinha lhe contado, das implicações e das personagens envolvidas e do som que seu amigo emitiu. Em todos os anos de convívio entre eles só escutou Aroni falar umas dez vezes e percebeu que a menina era mais especial do que conseguira sentir. O axé interior dela era intenso, caudaloso, sem limites e o anão também percebeu. Um dom tão ostensivo assim se caísse em mãos erradas poderia trazer sérios problemas.
Havia muito o que trabalhar. Olhou o caçador e admirou sua compleição forte, mesmo que a idade não transparecesse e pegou um sentimento a muito esquecido dentro de si: a familiaridade. Eram os dois solitários.
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Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)
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