CAPÍTULO 27 - O MATADOR DE ELEFANTES E O SEU DESTINO

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A FLORESTA COM SEU RELEVO ACIDENTADO QUE DIFICULTAVA O ACESSO DE TODOS, CEDEU LUGAR A CAMINHOS MAIS AMENOS LOGO APÓS UNS DOIS DIAS DE VIAGEM, mas, nem por isso menos perigosos para um viajante sozinho, as estradas desbravavam o seio das florestas verdes, espraiando-se nas savanas levando a todos os lugares do mundo conhecido e além desse. Desde que partiu de Empe no território Tapa, Xangô sentia a ânsia de chegar logo ao seu destino em Irê, mas conforme prosseguia decidiu pegar outros caminhos em busca de aventuras, pois sem o julgo de seu preceptor, sentia-se livre para andar sem destino. Um fator que o levava adiante era sua curiosidade inata e ele tinha um instinto feroz no que tangia a encrenca. Parecia que ela o recebia de braços abertos durante sua vida.

As estradas eram abertas por caravanas de comerciantes, viajantes solitários como ele, manadas, antigas ou novas dependendo da rota que se queria seguir, muitas levavam a aldeias pequenas em que ele parava para descansar sua montaria, refrescar-se, alimentar-se, descansar e distribuir suas benesses, especialmente as mulheres, muitas se encantavam com aquele belo homem, tão diferente dos tipos comuns que conheciam que rendiam-se ao seu charme e lábia fácil e encantadora. Muitas vezes corria perseguido por homens casados que descobriam a traição de suas esposas. Para Xangô tudo era uma eterna brincadeira. Punha seus serviços à disposição dos nobres e aldeões que encontrava, que muitas vezes ficavam surpresos quando ele apresentava-se aos mesmos. Testava sua força, habilidade e estratégia lutando contra mercenários, ladrões, muitas vezes recebendo dinheiro, bebida, comida e hospedagem, quando lhe davam dinheiro, não se fazia de rogado e o aceitava de bom grado e satisfação.

Os sucessos foram se acumulando conforme ele saia combatendo esses obstáculos, mas mesmo com toda sua galhardia Xangô sentia-se insatisfeito, pois os obstáculos eram triviais para ele, pois como fora desde a mais tenra idade treinado nas artes de combate, além da coragem imensa que possuía, mesmo com toda sua inteligência, o jovem príncipe confiava demais em suas habilidades físicas e com armas.

Estava despedindo-se das pessoas que tinha encontrado numa caravana que vinha da capital de Tapa com um carregamento de algodão, tecidos e óleos perfumados e a qual prestou seus serviços de vigia, caminhavam já a uns treze dias quando soube da notícia de que o Rei Oduduwá havia falecido e de que seu pai Oranmyam tinha sido escolhido para ser o novo Obálufé. O fato o surpreendeu, pois a escolha de seu pai como o sucessor do seu avô foi inesperado, não que ele não fosse uma escolha boa. A idade de seu pai e sua precedência sobre os seus tios na linha de sucessão foi o que mais o deixou perplexo, principalmente em saber que o velho tinha-o escolhido pessoalmente. Realmente, uma notícia que teria desdobramentos futuros interessantes.

Gostaria de imaginar a cara de todos lá em Ilê-Ifé. Imaginar aquelas raposas velhas se comendo, as esposas do velho sem se entenderem, cada uma defendendo o seu filho, seria uma oportunidade rara, mas ao mesmo tempo em que seria engraçado ver isso de perto ele não queria contato com aquela história, deixasse-os matarem-se, porque depois ele mesmo teria a sua parte no quinhão do Império de seu avô paterno, com ou sem as bênçãos deles, Xangô sabia que seria rei algum dia, nascera para isso, fora treinado para esse momento e quando estivesse no seu trono ele seria notável, teria seu nome escrito na história e no tempo, tendo seus feitos repetidos de geração a geração e seria imortal.

Tinha ficado numa aldeia pequena no caminho para Edô onde conseguiu acolhida e alimento. Seus habitantes eram amistosos e à vista daquele homem montado em um cavalo branco e robusto era auspicioso, com certeza era um nobre e isso por si só bastava para abrir as portas de qualquer lar. Dormiu pensando nisso e sonhou com um trono de fogo de onde ele lançava chamas pela boca julgando as pessoas e dominando a terra. Acordou sorrindo estranhamente satisfeito e quando saia do casebre frágil de barro para comer, prestou atenção as palavras trôpegas que um homem assustado falava para uma plateia tão sobressaltada quanto ele.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora