CAPÍTULO 40 - UMA ENTREGA E UMA BUSCA

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NA CONCEPÇÃO AFRICANA TANTO DO UNIVERSO QUANTO DO SER HUMANO, O PENSAMENTO DIVINO CAUSAL É SINCRÔNICO COM O VISÍVEL, QUE SERIA UMA MANIFESTAÇÃO DO INVISÍVEL. PARA ALÉM DE TODAS AS APARÊNCIAS, DOS OLHARES INTERNOS E EXTERNOS, ENCONTRA-SE A CHAMADA REALIDADE, NO SENTIDO EM QUE A ENTENDEMOS, O "SER" QUE ATRAVÉS DESSAS APARÊNCIAS SE MANIFESTA EM SUA TOTALIDADE.

Acima de toda manifestação viva, encontramos uma força vital que preenche tudo, sem um único ponto vazio, neutra, da compreensão de um Deus único a menor partícula de um grão de areia, o universo para o africano não possui costura e nem remendos. Tudo é Uno. Todas as matérias, dimensões de correspondências, analogias e interações, onde o homem e todos os demais seres vivos, os mortos, as divindades chamadas de Irunmolés (Criadores), seus descendente, os Eborás, todos sem exceção, constituem uma única teia interligada de forças. Tem sido assim desde a Criação.

O sagrado está em todos os setores e aspectos da vida africana, cada momento do cotidiano está representado de tal forma que se torna impossível realizar uma distinção formal entre o que seja sagrado e o que seja secular, entre o espiritual e o material nas atividades do cotidiano. Uma energia, poder ou força permeia tudo, em cada carne, fluído, grão, partícula, átomo, alma. Essa força não é exclusivamente física ou corporal e sim uma força do ser total, emanada de Olodumaré, o Deus Único, sendo Ele. Desse jeito, que sua expressão inclui os progressos de ordem material, espiritual e o prestígio social. Felicidade plena é possuir muita força, estar preenchido dela e infelicidade é estar privado dela. Toda doença, flagelo, fracasso, obstáculos e adversidade são expressões da ausência de força. Prole numerosa é uma das expressões de força. A força é adquirível, transmissível, pode aumentar e diminuir até o esgotamento total. A essa força dá-se o nome de axé.

Para o povo iorubá, os Irunmolés e os Ébora, também conhecidos como Orixás são antes de tudo potestades cósmicas que regem os poderes dos elementos da natureza com autonomia, zelam pelas expressões de vida manifestadas no Aiyê (Terra). São eles que sendo uma infinita parte e outorgados por Olodumaré, distribuem entre toda a Criação essa energia vital – o axé. De uma forma geral esses governantes são designados de òrìsà (ori e osà = orixá é uma força vital pura, imaterial aos sentidos humanos, que atuam em várias dimensões e se torna perceptível ao ser humano em alguns momentos especiais. São os regentes das energias do universo e do planeta, orquestrando as leis primevas que estão em curso desde a Criação dos espaços vibracionais e para entrar ou sair de qualquer um desse plano, ir e vir do Aiyê (Terra) é preciso a autorização deles.

Eles adotam os seres humanos quando suas almas estão prontas para encarnar na Terra e os protegem vigilantes durante toda a existência.

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A mulher vestida de fogo apareceu instantes depois do seu desenlace, materializou-se em um redemoinho de vento e fogo, empunhava uma alfanje (espada pequena) e rasgou o ar em frente a estátua do homem que empunha um arco e flecha. O tecido vivo da dimensão pulsava ecoando suas ondas pelo Aiyê. As roupas eram flamejantes como se uma aura encobrisse seu corpo negro pintado com o pó branco Efun (caulim), o que lhe dava um aspecto cadavérico, caso fosse vista por alguém. Uma aparência digna de meter pavor a qualquer um.

Oyá sente o axé do caçador preso dentro da rocha, ela vibra como uma tempestade elétrica querendo sair e acaricia a pedra fria e áspera. Seu toque desprende fagulhas que incendeiam a superfície dela, que pipocam devido a grande concentração de energia que foi desencadeada pelas emoções que o homem vivenciou em seus momentos finais.

Oxossi agora era uma energia aglutinada, mas sem forma, sua consciência estava dormindo para que o trânsito pudesse ser feito sem problemas e Oyá clamou por forças e de sua boca o seu próprio axé (força/poder) relampejou em forma de raios azuis, que perfurou a terra, chamuscando a grama ao redor e faz aflorar um olho d'água cristalino.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora