CAPÍTULO 22 - O FORMIGUEIRO

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A VIDA FOI SE ACOMODANDO COMO POEIRA NO CAMINHO OU COMO O LIMO SE ABRAÇANDO ÀS PEDRAS DE UM RIO. Ogum e Oyá eram a imagem de um casal feliz e realizado. Ele nunca se sentiu tão completo como quando estava ou olhava para sua esposa e ela se assustava com a paixão que o Rei tirava de seu corpo, jamais havia considerado que entre homens e mulheres existisse semelhante prazer, mas não sentia pelo marido o mesmo tipo de sentimento que ele lhe devotava, devido principalmente a forma como que o mesmo lhe conquistou, pela armadilha que ele usou para conseguir casar com ela; mas, em razão da paz e do bem estar da cidade e de seu casamento, aceitava os mimos com que ele lhe enchia de bom grado, pois descobriu-se no seu papel como Rainha de Irê, sobrepujando inclusive as outras primeiras esposas do general, que agora estavam subordinadas ao seu julgamento e desejo, a Casa Real era dominada por ela.

A noite de núpcias deles durou duas semanas, Ogum não se cansava do corpo de sua esposa e ela cada vez mais se tornava uma amante desinibida e ardente. Deu ordens expressas para que lhe incomodassem o mínimo possível, comia junto com Oyá no quarto grande. Ele evitava ao máximo sair do quarto e como deixou o governo de sua cidade nas mãos do Conselho, sentia-se livre e disposto. Aos poucos a trouxe do quarto para os salões e daí para a vida fora do palácio, mostrando cada recôndito da cidade que governava. A cidade despontava enorme e em franco progresso devido ao governo do jovem Onirê. Onde iam eram tratados com deferência e respeito. Seu povo o amava e se o Rei amava-a, o povo também a amava. Ela era toda atenção e sorrisos para com as pessoas, prestava atenção aos pedidos, solicitações, bênçãos delas, respondia a alguns, firmava promessas quando julgava apropriado, e tímida a princípio dava sua bênção as mulheres e crianças, com quem ela sempre brincava carinhosa, sempre sobre o olhar atento de seu marido.

Depois de atender à população, despediram-se e por fim seguiram até o lado Leste da cidade onde uma casa recém erguida estava pintada de laranja e tinha um desenho na parede da frente que chamou a atenção de Oyá. Percebeu sinais de que talvez ali fosse um templo, como o que ficava na parte Norte dedicado aos Ancestrais e no Sul dedicado aos Irunmolés cultuados pela família de seu esposo.

- Meu Rei o que é aquela cabana? - perguntou apontando.

Ogum retesou-se momentaneamente, pois estavam passando pela sede do novo templo das Geledés que ele mandou construir na cidade, como promessa feita a elas. Pensou em mentir para ela, mas sabendo que Oyá era esperta e que logo descobriria a verdade, respondeu devagar: - É o Templo das Geledés. Como elas desrespeitaram as Instituições fomos forçados a desbaratar o seu culto. As que aceitaram nossas condições fizeram uma exigência: o direito de culto. Outras partiram e algumas desistiram da vida celibatária e constituíram famílias com alguns dos meus homens.

Oyá o olhou de soslaio, achando estranho o que ele contava e perguntou: - E Obá, a líder das mulheres, a amazona que nenhum homem venceu? (...)

Ogum já incomodado com o rumo da conversa, respondeu à contragosto: - Eu a venci e ela não aceitando sua derrota, partiu para destino ignorado por todos. Vamos temos que estar com o Conselho, pois eles precisam se certificar de seus dons e habilidades. A escolhi como minha esposa principal e isso tem um peso sobre suas atribuições.

Ele ainda seguiu uns metros a cavalo, olhando firmemente para frente quando notou que ela tinha parado. Ele estacou o cavalo e esperou. Oyá ainda olhava para a cabana quando sentiu a mão de seu marido lhe acarinhar as costas. Descontraiu ao seu toque e sorriu fracamente.

- O que foi minha Rainha, algo a incomoda? - Ogun a interrogou segurando seu queixo gentilmente.

- Nada meu esposo. Só curiosidade, pois como sabe fiz parte das fileiras das Geledés e por um tempo curto elas foram minha família, mas na verdade nunca fui aceita de verdade como uma delas. A líder delas, Obá é uma pessoa que respeito, embora tivéssemos nossas diferenças.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora