CAPITULO 7 - O JULGAMENTO

1K 137 22
                                    


DEPOIS QUE OYÁ ACOMODOU-SE NO LOCAL INDICADO, Yeyê Leke sentou-se na pedra que ficou vaga e que pertencia ao seu pai quando ele participava das reuniões do Conselho, seu semblante era calmo, o de uma avó que escutava a travessura de uma neta. A menina visivelmente constrangida por ser o centro das atenções olhou para pai que estava em pé na frente do Conselho dos Anciões reunidos para decidirem o futuro de ambos na aldeia. Depois de tudo que aconteceu nas últimas horas, ela sentia-se deslocada por estar ali e sentir-se à mercê dos outros, sem destino certo, sentiu falta de sua mãe, mesmo sabendo-se não amada por Iyalonni, era ela que sentia como sua mãe.

Lembrou da criatura que falou usando o corpo de sua mãe e estremeceu com medo. Oyá sentiu o ódio da feiticeira em todas as palavras dela, mesmo quando ela se referiu a ela como lhe pertencendo. Não compreendia o que eram elas, só o que as outras crianças e alguns adultos sussurravam a voz pequena, num terror sussurrado. Olhou para seu pai e o viu diferente do pai a que se acostumara a ver: mirrado, encurvado, assustado e quis abraçá-lo e confortá-lo, mas não podia. Tentou ser forte e ergueu o queixo e seu rosto afilado e com olhos grandes e lábios cheios reluziu de encontro ao Sol

- Filha, por favor volte a casa de seu padrinho e volte a descansar. Você ainda está fraca. Venha meu Sol, eu lhe acompanho até lá. - Pediu gentilmente seu pai.

- Se a menina quiser ficar entre nós, ela pode permanecer meu amigo, ela é mais forte do que aparenta e para Oyá é importante estar aqui pois estamos falando sobre seu futuro. O que me diz minha filha? - Sugeriu Yeyê Leke.

A menina olhava séria e assentiu devagar.

- Eu quero ficar aqui e escutar o que os senhores e a senhora falarem, isso se houver algo contra minha presença aqui. - Falou Oyá.

- Bem, creio que não existe nenhuma objeção por parte de nós. - Odelayo falou depois de olhar para seus companheiros e ver os mesmos assentirem.

Com o desconforto pela presença de Oyá, quem lançou-se a falar foi Oxossixola que olhou duro para Olodurecê, ansiando cada segundo de dor de seu desafeto:

- Olumbi me falou toda a verdade sobre o "nascimento de sua filha meu caro! - Falou cinicamente - De como acharam a carcaça do búfalo que tinha dado luz à sua filha e de como esse fato antinatural selou o destino de Kwé e o seu Olodurecê. O que pensava afinal? Em ter um filho de qualquer jeito, nem que para isso passasse por cima de tudo e todos? Essa criança não deveria existir e você trouxe a morte e a calamidade ao seio de nosso povo, é só olhar em volta e ver o que essa criança amaldiçoada nos trouxe. - Declarou o homem incisivo, falando alto com boa inflexão na voz, tentando influenciar na decisão de todos.

Olodurecê empalideceu com as palavras de seu inimigo declarado e olhando para sua filha que ruborizava ante elas, deu um passo a frente num impulso, ao qual foi impedido por Ifagbayn, que o olhou severo. A muito custo ele tentou se acalmar e responder seu interlocutor

- Não somos amigos Oxossixola! Todos sabem disso. Somos apenas companheiros de Conselho que nos respeitamos cordialmente, mas sei que você está com sua razão e eu apenas fui movido pelo egoísmo e o desejo de ser pai, como você bem falou. Tenho certeza que você teria agido diferente e deixado a criança para morrer de fome ou até mesmo tê-la matado quando a encontrasse. Mas por Odé! Quem nunca aqui, por menor que seja, nunca se sentiu incompleto? Eu me sentia assim e só me completei quando fui pai de Oyá.

- Olodurecê meu amigo! Não quero julgá-lo mas está difícil não o fazer. Como você pensava em solucionar essa situação? - Perguntou zombeteiro Oxossixolá.

- Isso eu respondo por Olodurecê! - Ifagbayn se adiantou e falou: - Quando o bebê chegou ao nosso convívio, ele trouxe-a até mim para ver o que o oráculo falaria. Vendo que tinha a atenção do Conselho, o Babalawô continuou: - O opelê determinou uma série de oferendas que deveriam ser realizadas sempre perto da data em que Oyá foi encontrada, o que seu pai fez ano após ano, sem titubear, também Oyá foi iniciada pessoalmente por mim, para isso traz as marcas da iniciação no seu corpo, tudo foi feito para os deuses nos darem boa sorte

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora