Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)

CAPÍTULO 44 - RECONHECIMENTOS

REINAR SOBRE UMA CIDADE É A MESMA COISA QUE REINAR SOBRE O DESTINO DE HOMENS E MULHERES INDISTINTAMENTE, SE VOCÊ É UM BOM REI OU RAINHA, SEU POVO IRÁ DEMONSTRAR SEU CONTENTAMENTO E IDOLATRÁ-LO, COMO UM DEUS. QUANDO DE SUA MORTE, E VOCÊ TORNAR-SE-Á UM ANCESTRAL RESPEITADO, SENDO INVOCADO PARA DAR SEU PARECER SOBRE QUALQUER ASSUNTO, NOS MAIS VARIADOS ASPECTOS DA VIDA DE SEUS SÚDITOS, EXTENSÃO DE SUA FAMÍLIA E PARTE DE SUA FORÇA E AXÉ. MUITOS REIS, RAINHAS E HERÓIS TRANSCENDEM ISSO, TORNAM-SE ORIXÁS E TEM SEU AXÉ VINCULADO DE FORMA ESSENCIAL AO LOCAL DE SUA VIDA.

Irê era uma extensão de Ogum, um apêndice, um membro, não existiam um sem o outro. Através da força de Ogum, a arte de moldar o metal foi difundida pelo Reino inteiro, quem possuía uma arma, uma ferramenta, por menor que fosse, tinha uma parte do axé de Ogum. Irê era próspera e sua desenvoltura como administrador e guerreiro era invejada. Seu nome, mesmo em vida, era exaltado e cantado por onde caminhasse, ele assumia em forma humana, o status mais próximo de um Eborá que um humano, naquela época poderia vislumbrar, já que os Irunmolés estavam distantes da carne e da humanidade.

Nesse dia, Ogum preparava-se para sair e visitar alguns agricultores e criadores de caprinos, pois os mesmos estavam reclamando que algumas cabeças vinham sumindo e estavam com medo que algum felino estivesse atacando seu rebanho. Ele já tinha solicitado que Odés e alguns soldados fizessem uma ronda durante um período para evitar novos ataques. A colheita seria realizada daqui a uma semana e as Geledés seriam as principais artistas da comemoração que viria a ser realizada no festival próximo. Uma grande comemoração iria ser erigida para toda a população agradecer as bênçãos por essa grande colheita.

Seu Babalawô, bem como o Balogum, esperavam-no. Além disso, mais à tarde, quando retornasse, fora informado, alguns de seus súditos estavam precisando que ele decidisse sobre uma herança que era disputada por duas viúvas. O dia ainda seguiria monótono, até que ele entrasse na fundição e usasse de sua raiva e frustração na confecção de armas e ferramentas. O calor e o empenho em criar esses objetos do metal duro e frio e molda-los nos mais variados objetos o acalmava. No mais, ele sentia-se ansioso quando seu pensamento era dirigido a Oyá, o que o deprimia. Ogum não era homem de conversar ou de sentir-se rejeitado por muito tempo, como ela estava fazendo. Sua paciência estava atingindo um limite perigoso.

Era um homem e como tal sentia falta do corpo de uma mulher e ela era sua esposa. Olhou para seu leito e lembrou-se da noite quente que tivera com uma de suas amantes. Ela já tinha saído a muito tempo, não gostava de acordar e encontrar outra mulher ali que não sua esposa. Devia isso a ela. Breve ela voltaria a dormir com ele e já estava na hora de sua esposa lhe dar um filho.

Pensando nela, encaminhou-se distraído para a porta, quando Oyá irrompeu através dela, correndo distraída e trombaram, um de frente para o outro. Oyá soltou um grito surpreso e bateu no corpo duro de seu marido, caindo de costas no chão. Ogum ficou surpreso e correu para ajudá-la a levantar-se.

_ Obrigado meu senhor! Não olhei por onde ia. – Oyá segurou suas mãos e ele a apoio colocando-a sentada em sua cama, bastava um toque seu, mais cálido do que uma febre para lhe inflamar. Ela notou que seu leito estava desarrumado e sentiu o perfume de lavanda de alguma outra mulher. Estranhamente não sentiu ciúmes ou raiva dele, apenas pena, pois sabia agora que não sentia mais nada por ele, nem mesmo desejo.

_ Oyá! Desculpe-me! Eu não a vi. Fico contente por ter vindo aqui minha esposa. Mas ... posso ajudá-la em alguma coisa? Parece nervosa! – Falou olhando-a ansioso, notando que seu rosto estava crispado, viu sua têmpora latejar.

_ Desculpe! Eu ... Não! Não era nada. Estava de saída Ogum? - Balançou sua cabeça. Estranhamente sentia-se desconfortável, olhou nos olhos de seu esposo e soube que não era o momento para conversarem ainda. Uma coisa era o que queríamos, outra coisa o que fazemos.