O TEMPO FIRMOU AS CARNES DE OYÁ, lhe fortalecendo os braços delgados de um negro uniforme e suas pernas delgadas, onde uma coxa musculosa e uma panturrilha imprimiam um ritmo lépido às suas corridas entre os ventos, quando pulava entre os galhos, escalando troncos grossos e ásperos, brincando entre as folhagens das copas.
A idade fez desabrochar uma mulher de feições alongadas, bochechas altas e lábios grossos bem desenhados, de riso fácil. Suas sobrancelhas eram espessas grossas e bem desenhadas, quase se tocando, suas orelhas eram perfuradas por brincos de cobre de vários tamanhos, um mimo que seu pai lhe trazia as vezes quando acompanhava a Osanyn em suas viagens para vender seus remédios nos mercados. Seu cabelo era trançado de forma elaborada, com desenhos assimétricos enfeitados com búzios, herança do bom gosto de sua mãe, que ela aprendera a copiar com perfeição. Seus olhos assumiram um castanho que quando atingido por emoções fortes assumia um tom quase acobreado, como se estrelas explodissem por sua retina.
Era de uma alegria contagiante e em pouco tempo sua presença mudou o ambiente masculino a sua volta, trazendo uma leveza para a vida dos ermitões que antes não existia. Oyá era adorada por Aroni que a tratava como uma filha e mesmo o desconfiado Osanyn deixou sua suscetibilidade natural em relação a filha de Olodurecê e passou a encara-la de forma mais amistosa. A amizade entre ele e o caçador pai de Oyá só aumentou e os dois saiam juntos sempre para a caça e para a colheita de ervas, as vezes passavam dois ou três dias fora de casa. A menina percebia o olhar de encantamento que Osanyn dirigia a seu pai, mas sempre vira a amizade entre os dois homens como uma coisa boa.
De vez em quando, eles saiam para vender os remédios que Osanyn fabricava nas aldeias vizinhas e algumas vezes levavam Oyá junto com eles, pois ela conseguia sempre vender suas mesinhas com esperteza, conseguindo um lucro que o médico não realizava, pois ele era na verdade um coração mole e muitas vezes frente ao sofrimento dos outros dava sem nada receber seus medicamentos. Oyá com seu jeito alegre e extrovertido conseguia convencer até quem não estava doente a comprar algo. Osanyn admirava essa sua habilidade e quando a trazia aos mercados, deixava-a com essa tarefa.
Assim a vida prosseguiu entre eles. A curiosidade de menina deu lugar a sagacidade da juventude, dessa vez com a certeza do olho, do ouvido e do tato. Não era uma crédula simplória, as coisas e os fatos tinham que ter lógica para ela. Sua educação era prioridade para todos, seu pai lhe ensinara e aprimorara as artes da caça com todos os apetrechos de que utilizava: arco e flecha, lança, redes de pesca, faca. Ela aprendia a tudo com uma rapidez que deixava o homem entusiasmado. À arte da caça ela acrescentou a habilidade de ficar invisível entre as folhagens, para preparar armadilhas para os animais que capturava, como ensinara-lhe Aroni.
Mesmo assim, o anão consistia um mistério que ela demorou seis meses para decifrar. Ela sempre o via fazer suas rondas sempre à noite, saia tão logo se alimentava, com uma lança fina, aljava com arco e flecha, uma faca, atados as suas costas por cipós que ele trabalhava para amaciar, dando-lhes flexibilidade e o mais estranho, era que ele montava um javali enorme que Oyá quase desmaiou de susto, quando o viu chegando numa manhã bem cedo. Uma noite em que seu pai estava caçando ela esperou até a hora em que Aroni saiu e o seguiu usando suas habilidades recém lapidada. Até hoje ela não sabe se conseguiu segui-lo por suas habilidades ou se foi auxiliada por ele sem o perceber. O fato é que foi difícil se manter em silêncio absoluto e a pé enquanto ele se utilizava de montaria.
Aroni seguiu sem um destino certo, mas ela notou que ele fazia sempre uma volta em torno das entradas principais da floresta, onde o via sentir o cheiro característico para ele exalado dos caçadores desavisados que entravam no ambiente sem prestar as devidas oferendas aos espíritos que povoavam o Ibô (floresta). Quando ele encontrava alguém nessas condições ou um caçador esportista, que usava de suas habilidades apenas para matar por esporte, ele os perseguia e usando de seu cachimbo que exalava uma fumaça mágica que paralisava os homens, os açoitava cruelmente. Quando estavam estropiados o suficiente, furava um dos seus olhos. Vendo aquilo Oyá maldisse sua curiosidade e voltou para sua casa usando o vento para chegar o mais rápido possível, o que vira fora de uma ferocidade que pensou que ele não fosse humano e nem a criatura que ela conhecia tão bem.
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Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)
Fantasi#Trailblazers #Wattys2016 Na África Mítica, uma conspiração ancestral, faz com que uma guerra fratricida sem precedentes irrompa entre os Brancos, os criadores do Universo e os Eborá, seus descendentes mantenedores e continuadores da cria...