Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)

CAPÍTULO 17 - O REI QUE SE VESTE DE SANGUE

NOS TEMPOS MÍTICOS, OGUM ERA UM GENERAL QUE TINHA COMO MISSÃO A CONQUISTA E A LUTA, SENDO TREINADO NAS ARTES MILITARES DESDE A MAIS TENRA IDADE, nasceu em Ilê-Ifé a cidade africana Iorubá da qual nasceu e estabeleceu-se tudo e se estendeu num Império que futuramente teria como capital a cidade de Oyó, num movimento de expansão que o tornaria um dos maiores de sua época.

Seu pai era Oduduwá o fundador da civilização, um Deus vivo, o responsável por trazer o progresso e florescer o comércio entre as cidades existentes. Sua vida foi dedicada sempre ao treinamento e a estratégia militar, seu pai estimulava esse dom natural que ele tinha, contratando os maiores e melhores lutadores e guerreiros para sua educação, Desde que teve idade suficiente, lançou-se em uma luta incessante contra os reinos vizinhos, seu lar era o campo de batalha, sua música favorita o som da luta, seu passatempo era a criação de novas armas, moldando a carne dura das ligas metálicas, num ofício que o notabilizou entre todos como Alagbedé (Ferreiro), aquele que transformava a terra em dinheiro. Sua odisseia em busca do aperfeiçoamento das armas que seriam usadas pelo seu exército, o levou a desejar uma forma de tornar-se mais poderoso e invencível.

Num de seus poucos momentos de paz, ele procurou um Babalawô para consultar o oráculo de Ifá. Seus desejos e sonhos o atormentavam e ele sentia que faltava pouco para a sua concretização: ter o seu próprio reino!

Ao chegar em seu cavalo cinza, com seu pequeno séquito direto a pé, pois só à nobreza era dado a arte da cavalaria, ele apeou na frente da casinha precária onde o adivinho atendia, entregou as rédeas de sua montaria para um de seus companheiros, olhou ao redor e caminhou em direção a sua entrada. Seus homens ficaram a sua espera.

À entrada do General na pequena casa, as mulheres que estavam conversando entre si e as crianças que brincavam calaram-se de súbito. Ogun era um homem justo, mas extremamente difícil de agradar, imediatamente elas pegaram as crianças e se dispersaram. Ele as olhou e sentiu o peso de sua importância e de sua fama letal entre os seus conterrâneos e entre os povos vizinhos. Um misto de solidão, temor e pesar nublaram seu rosto por um instante.

Era um homem de uns 1,75m de altura, a guerra tinha forjado seus músculos tornando-o dono de um vigor e robustez impressionantes, em comparação com seus companheiros de luta, que eram mais altos e menos musculosos que ele. Raspava sua cabeça sempre, mas por gosto, do que devido as constantes lutas em que via-se envolvido, seu corpo era repleto de cicatrizes de todos os tamanhos, sua testa era proeminente e larga, um pouco mais embaixo suas sobrancelhas grossas eram quase unidas, seus olhos eram pequenos, sempre a espreita e atentos, tinham um tom preto que chegava próximo ao azul petróleo, quando seu humor ficava sombrio ou em seus acessos de raiva. Dono de uma força descomunal, seus golpes geralmente decepavam ou aleijavam seus oponentes. Nesse dia ele estava vestindo uma túnica azul e levava amarrado em sua fronte um enfeite feito de dentes de leão e um colar do mesmo material.

Sem hesitar olhou a entrada da humilde residência e entrou sem mais solenidades. O velho estava sentado em uma esteira, com as pernas cruzadas e seus apetrechos dispostos ao seu lado, como se estivesse esperando-o. O general se deitou em seu solo poeirento e encostou sua cabeça no chão humildemente e pegou nas mãos manchadas de efun (pó branco feito de calcário) e as beijou solenemente. Ogum sempre guardava um respeito com relação as coisas que ele não podia entender, mas sabia existirem, e o destino era uma delas.

- Mojubá Babá (Apresento meus humildes respeitos!)

O homem sorriu e o abraçou do lado direito e do esquerdo.

- Mojubaxé! O Ifá me falou que o senhor viria falar comigo general. Estou aqui a sua disposição, pergunte-me o que quiser! - Exclamou o adivinho que se chamava Adisá.