O CASAMENTO PARA OS IORUBÁS É UMA INSTITUIÇÃO SAGRADA, uma união vitalícia, para cuja estabilidade contribui, além do sentimento do casal envolvido, na busca da felicidade e harmonia, a existência dos filhos, esta considerada a maior riqueza para uma família ser constituída. A não existência de filhos é uma transgressão da natureza.
Em Irê, o casamento de Ogum com Oyá estava em evidente crise, sendo comentado a boca pequena entre o populacho e apimentado pela inimigas do casal real, ele estava ressentido com o comportamento dela e tentava de todas as formas procurar reconciliar-se com sua esposa favorita, queria que os mal-entendidos ou mal-estar que houvessem entre eles fossem esclarecidos e que tudo voltasse ao normal, o Onirê (Rei) ansiava pelo corpo rijo e pelo mel quente que escorria dela, deu-lhe presentes esperando que ela ficasse mais carinhosa e acessível, porém Oyá não era uma mulher qualquer, sua opinião era irremovível, mas as artimanhas femininas eram um terreno estranho e caudaloso para o Onirê, que era facilmente enrolado pelos ardis de suas outras esposas, que sob o jugo de Ajanni se via enredado cada vez mais em seus jogos de sedução. Ele pensava cada vez mais distante de sua esposa mais nova: "Se tivessem um filho as coisas seriam diferentes. Ela ficaria mais dócil." Os homens pensam praticamente, enquanto as mulheres refinam seus desejos.
A situação teve uma pausa quando uma comitiva chegou vinda de Ikiti com a jovem filha de Orunmilá. Dois meses tinham se passado e aquela visita estranha foi muito comentada. A jovem Oxum ficaria no templo das Geledés e Ajanni viu nisso um sinal positivo para que seu plano final de destruir Oyá se concretizasse. A filha do maior Babalawô de todos os tempos com certeza era iniciada nos mistérios da magia e se ela procurou abrigo entre as amazonas Geledés, com certeza ela estava nas graças das Iyá Mi. Precisava ter certeza disso e contactá-la para aprender mais, quem sabe assim com uma ajuda de fora ela não teria o que tanto desejava a seu dispor? Ela sentia o gosto do sangue de sua inimiga em antecipação em sua alma. Não era dada a comemorações devido a sua "discrição", mas sabia que se usasse a situação em seu favor, seria o lance final do jogo.
Oxum chegou numa manhã chuvosa para sua estadia entre as Geledés nos arredores de Irê. Foi recebida com todas as pompas necessárias que uma pessoa de importância requeria. Ogum, e suas esposas a receberam em seu palácio e ofereceram sua hospitalidade. Vestida com um túnica amarela grande, ornamentada com joias de ouro e cobre, suas formas estavam mais cheias, femininas, sedutoras, ela adentrou ao salão de audiências junto com suas escravas, antes tinha despachado suas bagagens para a casa das Geledés para onde iria tão logo as formalidades ali acabassem.
O palácio do Onirê era maior do que esperava, a cidade bastante desenvolvida, com comércio forte. Ela ajoelhou-se em respeito a família real e eles lhe abençoaram desejando-lhes boas vindas. Feitas as apresentações, passaram a um salão de refeições espaçoso e logo após foi oferecido um repasto a ela e a suas duas acompanhantes, senhoras que eram escravas de seu pai e que a seguiam na viagem longa que foi feita em meio a região, no meio do caminho contrataram ajudantes e guardas costas para que a levassem em segurança até Irê, onde era sabido que a sacerdotisa maior do culto das Geledés que fora desbaratado por Ogum a um tempo, tinha sido repatriada e tinha fundado o novo templo das Grandes Mães.
Ogum ficou encantado com o jeito coquete e engraçado de Oxum e em pouco tempo e conforme o vinho de palma lhe abria a fala, ele dirigia-se exclusivamente a ela, o que deixou Ajanni e as gêmeas Késia e Adanna em estado de alerta, pois a jovem era muito bonita e elas não queriam arriscar caso ele inventasse em resolver casar-se mais uma vez.
Oyá não estava presente a recepção, de uns dias pra cá, vinha ficando irritada e uma dor de cabeça sem trégua lhe acometia sem remédio que a conseguisse debelar e portanto preferiu ficar em seu quarto, pois vinha se sentindo muito mal. Mesmo preocupado com sua saúde, Ogum desculpou-se em nome dela para Oxum que agradeceu a cortesia. A conversa demorou ainda umas duas horas, onde ficou-se sabendo as notícias mais comentadas do Império, que Oxum comentava com graça, prendendo a atenção de todos, por fim ela agradeceu baixinho a todos eles a hospitalidade, dizendo que precisava chegar ao templo das Geledés para descansar de tal incômoda viagem. Ogum levantou-se e todo sem jeito falou:
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Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)
Fantasía#Trailblazers #Wattys2016 Na África Mítica, uma conspiração ancestral, faz com que uma guerra fratricida sem precedentes irrompa entre os Brancos, os criadores do Universo e os Eborá, seus descendentes mantenedores e continuadores da cria...