CAPÍTULO 65 - PAUSA SECA

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No aiyê

COM QUAIS ARMAS LUTAR NUMA GUERRA DESIGUAL? QUAL A DESTREZA QUE TE FARÁ VENCÊ-LA OU AO MENOS SOBREVIVER A ELA ?

O QUE TE CALA DIANTE DO DOMÍNIO DA CARNE E DA MENTE SE TEU ÓDIO É MAIOR DO QUE TUA EMPATIA PELA FRAQUEZA OU TEU EGOÍSMO MATA TEU APEGO A VOCÊ E A TUDO QUE A COMPÕE?

NADA PASSA NA RAPIDEZ QUE VOCÊ QUER. SEMPRE É A CORRENTE. O FLUXO DA VIDA SERIA MISERICORDIOSO CONTIGO? QUEM É VOCÊ ALÉM DE MAIS UM GRÃO?

A VIDA É ACASO MATERIALIZADO, SEM ESCAPATÓRIA, SE ELA OLHA PARA VOCÊ, SORRIA, PORQUE SUAS GARRAS SÃO AFIADAS E SEUS FERIMENTOS NUNCA CICATRIZAM.

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Sua vontade escorria ainda em contato com o elemento da água, sentia-se reverter-se, despossuir-se, desumanizar-se. Oxum era êxtase e sua mente e vontade corria livre em direção aos subsolo, evaporando-se em nuvens que sumiam, deixando o Sol tocar a pele da terra.

Sua volta demorou mais do que imaginava, pois transitava em dois planos, porém quando a outra madrugada desceu, seu corpo deitava-se em seus aposentos.

Seus sonhos variavam entre o prata, o azul e o ocre e sua consciência refluiu sobrevivendo a experiência de amaldiçoar a vida. Quando seus olhos abriram-se, focalizaram devagar no ambiente ao redor até encontrarem-se com os olhos de seus pais, que a observavam.

Levantou-se devagar, ainda sem foco e saudou-os com respeito tocando o solo nos pés de cada um. Devagar ergueu-se e então esperou.

_ Não vai nos dizer nada? Onde esteve e o que fez nesses quase dois dias fora de casa? – Seu pai falava mansamente, mas ela entendia seu ânimo, ele estava furioso, no mesmo instante o ardor da revolta subiu e desceu por seu corpo e ela encarou-os, um de cada vez.

_ O Senhor quer dizer, depois que eu fui humilhada publicamente na frente da realeza de Ifè? Isso logo após receber do maior Irunmolé de todos a incumbência de ser a guardiã de seus emblemas no Aiyê e ter sido esbofeteada pelo homem que achou semelhante fato um insulto, como se eu fosse uma maldição por ter tocado no Iwá (bolsa da existência)?

_ Como ousa falar assim com seu pai filha? – Apetebi falou chocada.

_ Falei algo que não seja verdade mãe?

Apetebi ergueu sua mão, mas Oxum não recuou o rosto, seu pai agarrou o braço de sua esposa. Olhou sua filha e afiou seus olhos antigos e não a reconheceu, algo havia mudado. Esses dois dias foram intensos. Entre a procura por Oxum e os problemas que surgiram quase que imediatamente a seu desaparecimento, restou a ele o cansaço do corpo e da alma.

Diante do seu oráculo pela manhã, rezou para a resposta em forma de pergunta que recebeu de volta fosse infundada, mas ao aproximar-se dela e por suas mão em seus ombros e a puxá-la delicadamente para um abraço, sentiu ela repleta de abá (a essência do axé das Grandes Yás) e ao abraçá-la imagens desconexas dessa união o choca, Oxum retirou o líquido da vida do Aiyê!

Solta-a exasperado e a olha com tristeza.

_ Sabe o que fez com todos nós? Admite o que fez filha e o qual grave isso é?

Oxum balança a cabeça afirmativamente fria e distante, Aquela não é a sua adorável Oxum.

_ Sabe que terei que contar ao Conselho essa fato?

Sua mãe abaixa a cabeça envergonhada, mas Oxum está altiva e apenas responde:

_ Isso não me interessa. Não me acusaram de ser uma bruxa? Pois então! Nós mulheres somos diariamente dilapidadas, humilhadas e ainda devemos aceitar com um sorriso o que nos impõem. Meus pensamentos mudaram aos poucos e pude ver que o que tanto temem em nós é exatamente nossa maior força: ser mulher e criadoras de vida!

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora