O RELEVO MUDAVA CONFORME PROSSEGUIAM, FLORESTAS FECHADAS, SAVANAS, ALDEIAS DE TODOS OS TAMANHOS APARECIAM E DESAPARECIAM NAS ESTRADAS QUE PERCORRIAM, OS DIAS ARRASTAVAM-SE. DEMORARAM MAIS DO QUE O PREVISTO PARA CHEGAREM A IRÊ. OMULU OS RETARDOU COM SEU CANSAÇO E SEU ESTADO DE SAÚDE SEMPRE FRÁGIL E FIZERAM PARADAS FREQUENTES PARA DESCANSAR. SEMPRE À PÉ, XANGÔ ATÉ GOSTARIA DE USAR SEU CAVALO, PORÉM TINHA MEDO QUE OMULU NÃO AGUENTASSE CAVALGAR, HAJA VISTO QUE CAMINHAVA COMO SE CARREGASSE TODO O PESO DO MUNDO, NESSES MOMENTOS XANGÔ QUASE SENTIA-SE DESUMANO, PORÉM ESSA SENSAÇÃO PASSAVA LOGO, POIS O CURANDEIRO ERA ANTISSOCIAL E GROSSEIRO.
A pressa de Xangô o angustiava, pois era muito ansioso de gênio,o jovem sentiu dores no estômago e o curandeiro receitou-lhe um chá de folhas amargas que catou na estrada. Ele melhorou bastante do incômodo e seguiu viagem com o homem mais velho.
A cidade era maior do que Xangô esperava. Ouvira falar muito nela, mas não estava preparado para o que estava diante de seus olhos. O que chamava sua atenção e a de quem chegava ali, era a sua prosperidade, suas ruas estreitas e empoeiradas estavam apinhadas de pessoas indo e vindo, artesãos, marcadores, escravos, soldados, homens, mulheres e crianças. Dava para se ver que fora muito bem estruturada, começando por seu enorme muro, encimado por estacas e parapeitos onde ficavam guardas vigiando tanto o lado interno quanto o externo, embora a fama de Ogum e sua selvageria propagada aos quatro cantos fizesse mais sentido do que qualquer amuleto.
Entraram pela rua principal, que levava diretamente ao grande mercado e ao palácio do Onilê. As casas eram construídas em blocos, águas corriam pelas ruas, formando áreas enlameadas, em alguns lugares o mal cheiro de dejetos humanos era absurdo. O burburinho das pessoas fez com que Omulu baixasse sua cabeça. Não gostava de multidões, pois ele atraia muita atenção, o que não fora diferente, pois as pessoas ao passarem por ele viravam o rosto assustadas. Xangô estava ao seu lado, era uma forma de protegê-lo e aos outros, pois não sabia o que o curandeiro poderia fazer se fosse atacado. Era melhor não arriscar.
As mulheres olhavam surpresas e encantadas aquele estranho tão lindo e enfeitado que era Xangô, que destoava do homem que seguia com ele, mascarado e coberto de um tecido de palha. Xangô era um galanteador contumaz, vivia sorrindo, seus olhos eram maliciosos ao passarem pelo corpo das mulheres.
Por fim chegaram ao mercado e era espantoso o número de escravos sendo vendidos e de mercadorias diversas. Pararam para comer um pouco. Omulu comeu um ensopado de porco e Xangô repetiu uma porção grande de amalá (pirão de inhame) e beguiri (ensopado de quiabo e carnes). Pagaram e perguntaram a quem deveriam se dirigir para falar com o Onilê. O vendedor indicou onde o Conselho da cidade se reunia e eles então encaminharam-se para lá a pé. Antes Xangô deixou seu cavalo branco aos cuidados de uma estrebaria.
Chegaram a porta indicada e perguntaram a sentinela se poderiam falar com alguém do Conselho. O homem olhou-os curioso e perguntou seus nomes:
_ Sou o príncipe Xangô, filho do Obálufé Oranmyam e venho acompanhado do curandeiro Omulu. Gostaríamos de falar com algum dos conselheiros e marcar uma audiência com meu tio o Onilê, Ogum.
A surpresa que passou pelo rosto do homem foi tanta que ele ajoelhou-se diante de Xangô desajeitadamente em respeito.
_ Babá! Irei agora mesmo anunciá-lo!
Xangô olhou o homem entrando todo atrapalhado e olhou para Omulu que estava sorrindo.
_ Humf! Nada como ser bem nascido. – E piscou o olho para o curandeiro e deu uns tapinhas amistosos e gargalhou.
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Ogum olhava o jovem a sua frente junto com o estranho curandeiro. Esperou encontrar traços seus no rosto do rapaz, mas não era muito atento a isso e desistiu. Ele tinha o riso franco e era debochado, talvez uma herança materna ele achava. Não conhecia muito Oranmiyam, pois depois da confusão amorosa entre ele, Lakanjé e seu pai, o falecido Rei Oduduwá, o albino, Ogum não quiz saber de discutir mais sobre a paternidade de Oranmiyam, o homem de duas cores. Esse fato lembrava a todos os envolvidos a natureza divina de seu pai e a humana dele, o que resultou na pele duplamente pigmentada de Oranmyan, fruto de ambos.
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Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)
Fantasía#Trailblazers #Wattys2016 Na África Mítica, uma conspiração ancestral, faz com que uma guerra fratricida sem precedentes irrompa entre os Brancos, os criadores do Universo e os Eborá, seus descendentes mantenedores e continuadores da cria...