Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)

CAPITULO 26 - A ÁGUA QUENTE DO CÉU

QUANDO APARECEU PELA PRIMEIRA VEZ O BROTO DE UMA PALMEIRA NOVA DISSE QUE SEU OBJETIVO ERA CHEGAR AO CÉU. Da mesma forma não existe nada que impulsione o homem pelas adversidades do que a ambição. Sobreviver é um ato de ambição e só os fortes entendem isso. Faziam dez dias que a jovem filha de Orunmilá havia retornado para a casa de seu pai e encontrou a cidade onde sua família morava com notícias alarmantes da capital do Império: o Rei Oduduwá estava morto e seu filho Oranmiyan era o novo Obalufé. As fofocas do reino de Ilê-Ifé eram as mais excitantes, que o Onirê saiu antes do seu pai morrer, irritado com seus irmãos e as esposas do Rei, que quando o velho morreu iniciou-se uma guerra entre os irmãos pelo trono, que a Rainha queria morrer também, enfim, tudo era ar-re-pi-an-te e como ela gostaria de estar lá naquele momento, vendo os acontecimentos se tornarem parte da história.

Mas, como tudo tem um limite de apreensão, Oxum voltou sua atenção para o plano que tinha traçado em sua mente: seduzir Exu para que ele lhe entregasse o segredo do oráculo de Ifá. Se ela agisse conforme esperava, ele seria uma presa fácil para seus encantos e a ideia em si não lhe causava mal-estar como pensava que seria, muito pelo contrário, Exu era um homem deveras interessante, dono de uma beleza ardente, de um olhar que a tomava de assalto quando se entregava ao pensamento da imagem dele, intenso, ela notou, talvez pela primeira vez, que os olhos dele eram de cores diferentes cada um, um escuro, quase negro e o outro acobreado, com nuances fulgídias de vermelho, o corpo atlético, bem distribuído, forte, as pernas longas e grossas, ele possuía um charme que ela achava diferente, mas ao mesmo tempo sentia que o temia, pois ele tinha mais segredos do que era possível e isso a atraia, essa selvageria audaz dele.

Deixou esses pensamentos de lado e enfeitou-se com colares, brincos e pulseiras, vestiu um axó (vestido) violeta com detalhes em dourado e vermelho que realçava suas curvas e a sua cor azeviche, passou seu óleo aromatizado no colo de seus seios e em seus braços. Sorriu pensativa e seguiu em direção ao altar de seu pai, recitou suas preces diárias aos deuses e tão logo terminou, levantou-se e foi em direção ao cômodo de convivência familiar, onde seu pai e sua mãe estavam. Ajoelhou-se na frente de cada um e eles a abençoaram.

A refeição matinal estava posta numa mesa baixa por sua mãe, sentaram-se em esteiras e serviram-se usando as mãos para pegar diretamente das panelas de barro, conversando amenidades, logo Exu chegou pontualmente e juntou-se a eles no desjejum, Apetebi, a sua mãe, sabendo que o rapaz sempre vem fazer as refeições com a família e conhecendo o apreço de seu marido pelo rapaz, reservou uma porção generosa para ele. Oxum sempre achara o apetite descomunal de Exu engraçado, mas como já o vira usando seus "dons", pois ele era o único que ela sabia ir ao Orun e voltar, seu papel como transportador de oferendas era muito conhecido por todos, achava que esse apetite se devia talvez ao gasto de energia nessas tarefas. Ela o olhava com os olhos baixos, avaliando-o, ele o percebeu e a olhou inquisitivamente não entendendo sua atitude, ela sorriu sedutora.

Quando terminaram de comer, seu pai e ele saem para resolver os assuntos relativos a morte do Rei Oduduwá e de seus inúmeros clientes, ela ficou para ajudar sua mãe na arrumação da casa e na preparação das oferendas que seu pai pediu no dia anterior, antes saiu para comprar os produtos que precisaria no mercado, enquanto sua mãe prosseguia com o almoço.

Ela era uma pessoa muito conhecida pelos comerciantes, muito esperta, excelente negociadora, sabia como ninguém render o dinheiro, pechinchava, escolhia o melhor e com sua lábia conseguia descontos, muitas vezes até levava sempre a mais como brinde por parte dos vendedores. Animais, elementos usados para a confecção dos amuletos, legumes, frutas, sementes e alimentos diversos

Com as compras feitas, ela voltou para casa com dois carregadores que contratou no mercado para trazer os animais e os produtos mais pesados em cestos grandes que eram carregados presos em varas. Ela indicou o local onde colocá-los nos fundos da casa e agradeceu a todos com seu melhor sorriso. Oxum sabia que um sorriso radiante era capaz de desarmar qualquer um, lição que foi aprendida logo cedo.