CAPÍTULO 66 - FOGO CONTRA AÇO

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NO AIYÈ

CONFLITOS DE QUAISQUER TIPO E GUERRAS NÃO SÃO LINEARES, MESMO COM SUAS ESTRATÉGIAS PARTICULARES A CADA LADO ANTAGONISTA, ELA SE RESIGNA AO VENCER OU AO DERROTAR.

POUCAS VEZES A INTELIGÊNCIA VOGA A INTERROMPER A LUTA E PROPOR O CESSAR DO IMBRÓGLIO, MAS MESMO ASSIM, OS DOIS LADOS SENTEM-SE EM DESVANTAGEM, POIS O ORGULHO TEM QUE SER SOBREPOSTO A SUA SOBREVIVÊNCIA.

NINGUÉM VIVE ABAIXO DOS CÉUS SEM FOME. ELA DEMONSTRA ATÉ ONDE VOCÊ IRÁ PARA SACIÁ-LA, O LIVRE ARBÍTRIO É USADO PARA JUSTIFICAR OS MEIOS USADOS E A JUSTIÇA É SÓ O MODO DE VER E INTERPRETAR ESSA VISÃO.

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A peleja entre Oyá e Ogum já durava algumas horas. O homem não entendia como uma mulher podia ter tanta tenacidade e resistência, reconhecia que ela tinha capacidades de entendimento de batalha que o rechaçava com desenvoltura, mas não menos mortalmente. Ele movia-se como um bólido, usava sua solidez investindo continuamente contra o corpo esbelto de sua ex-esposa, porém, o dom que ela possuía defendia-a como seu fosse uma sombra, seus golpes encontravam os golpes dela, amplificados pelos raios e os ventos que se tornavam armas letais.

Seus pés fincados na terra eram magnetizados ao elemento do qual tirava seu axé. Ele lançava-se sobre o solo, usando-o como seu corpo, tentando através de dardos atingi-la, mas a rapidez da mulher era mais um ponto a seu favor, sua fúria confundia-o e atordoava-o. Puxou então mais terra, cobrindo-se cada vez mais, seu tamanho agora era de um morro, enquanto ela rodopiava ao redor dele como uma abelha, lançando raios e rajadas concentradas de vento, que só o irritavam cada vez mais.

Por fim ele parou, fechou seus olhos e tentou senti-la com antecedência, antecipar seus golpes e então para surpresa dela ele juntou suas mãos num golpe que quebrou seu elo momentâneo com o vento e Oyá foi jogada de encontro ao chão, nesse momento o solo prendeu-a através de elos que se fecharam em torno de suas pernas, braços, abdomem e cabeça. Por mais que se esforçasse, estava presa, indefesa, o terror e a adrenalina aceleravam seu coração a ponto de explodir, pensou em seu amor, Xangô, ainda desacordado e esperou.

Ogum desmanchou-se diante dela como monstro e andou como o homem que conheceu. Sempre soube que sua união estava fadada ao fracasso, quando entrou no seu castelo e deparou-se com as intrigas de suas outras esposas, mas como ele sabia de sua real origem e de seus dons, ela sempre esperou que ele retribuísse com confiança, mas para cada ação, mais Oyá sentia-se distante e por fim, ao encontrar com Xangô, teve a certeza: não amava e nunca amara Ogum! Sua fome de liberdade e impetuosidade encontraram o parceiro ideal e portanto estava ali, terminando essa história, que já deveria ter acabado a muito tempo.

_ Porque me trais-te de forma tão vil? – O homem ajoelhou-se ao lado dela inesperadamente. Havia ternura e uma incompreensão que a atordoaram, seu coração bateu mais devagar ao olhar o rosto de seu ex-marido. Compaixão talvez?

_ Como ousa me julgar ou falar em traição? Se formos por numa balança nossos erros, a sua "confiança" destruiu a minha aos poucos, correndo! – Responde a mulher presa a seus pés. O fogo de sua impetuosidade ardia em seus olhos.

_ Tente se colocar no meu lugar mulher! Erros não justificam ... – tentou justificar-se Ogum.

_ É impossível o que me pede!

_ Você matou o amor que eu sentia, cada gesto covarde seu, enquanto eu estava cego, e para que? – Olha para Xangô estendido e balança a cabeça tristemente. – Para nada! Dois ingratos, isso sim! Um capricho de mulher que se sente injustiçada!

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⏰ Última atualização: Mar 09, 2018 ⏰

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