CAPITULO 5 - A FILHA DO VENTO E DOS RAIOS

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HORAS SE TORNAM DIAS, DIAS EM MESES, MESES EM ANOS E ASSIM A VIDA SEGUE CÍCLICA, RECOLHENDO, ESCOLHENDO, NOMEANDO E CEIFANDO. Respeitando o recomendado pelo Babalawô Ifagbayn, Olodurecê cumpriu a risca as recomendações prescritas pelo oráculo e realizou suas oferendas para proteger sua filha, sua aldeia e a si da maldição das Iyás Mi, ano após ano, marcando essa data tanto como aniversário como um aviso. O medo ainda subsistia, mas agora estava em segundo plano, pois sua filha crescia saudável e esperta. Protegida.

Iyalonni criou-a com o zelo esperado de uma mãe, mas sem amor, tinha medo da criança vivaz e esperta que Oyá era, temia o que ela poderia representar, tentava controlar o que sentia, esforçava-se, mas era mais forte do que o desejo da maternidade, tomara para si o que lhe pareceu um peso que não queria para sua vida, ensinara-lhe todas as artes domésticas, cozinhar, plantar, cuidar dos animais, bem como confeccionar as roupas que usavam e as artes do mercado, trocar, vender e comprar eram habilidades muito apreciadas e uma mulher tem que ser muito mais esperta do que tudo num mundo dominado por homens, a tudo Oyá aprendia rápido e tentava de todas as formas agradar sua mãe desde pequenina, mas sentia, que por mais que tentasse, não conseguia fazer Iyalonni se sentir orgulhosa, pior: quando olhava as famílias de seus amigos, percebia que somente seu pai lhe dedicava amor irrestrito. Sua mãe evitava qualquer tipo de aproximação mais afetiva e ela sofria com essa frieza, não entendia o porque dela ser desse jeito, só quando seu amado pai estava por perto é que ela sorria feliz, ele trazia a aventura, os abraços e o afago carinhoso.

Aprendia tudo que podia para agradar sua mãe e também para tornar sua vida mais fácil, Iyalonni era dura, severa. Oyá não gostava de apanhar ou levar reprimendas na frente dos outros e nem de castigos. Era alegre, comunicativa, tinha muitos amigos com quem gostava de brincar, mas sua mãe sempre que podia, a impedia de estar com eles. Não entendia o porque desse cuidado extremo Aos poucos foi ficando deslocada, andando sobre cascas de ovos. Sempre tensa, sem saber se agradava ou não.

A menina estava agora com doze anos incompletos e era ligeiramente mais alta que seus colegas de mesma idade, esguia e delgada, possuía cabelos sempre delicadamente trançados em desenhos circulares feitos por sua mãe, que sempre a deixavam cansada, pois demoravam muito, além disso exibia com altivez as marcas dos Ogbgeré (Cortes sagrados) de sua consagração no lado esquerdo do seu rosto, em seus braços e pernas longos e ligeiros. Ninguém corria tão rápido quanto ela, parecia uma corça. Seu pai observava seu crescimento junto com sua mãe e sempre conversavam com o Babalawô Ifagbayn sobre seu desenvolvimento e o seu futuro.

Seus pais brigavam as vezes por sua causa, como sua casa era pequena, ela muitas vezes escutava-os e nesses momentos seu humor turvava-se e ela tinha surtos de pânico, acordava agitada com pesadelos, acordavam-na e tentava controlar-se, retornar ao ritmo normal de sua respiração, de seu coração. Para relaxar, depois desses momentos angustiantes e tão logo o dia raiasse e sua mãe permitisse sair de casa, gostava de ficar no rio e colocar seus pés imersos na água, o efeito era quase imediato, controlava sua respiração, seu coração, sua temperatura.

Quando esses surtos de pânico aconteciam, ela esquentava estranhamente, todos pensavam e a tratavam como se estivesse doente, mas no dia seguinte tão inesperado como aparecera sua estranha febre desaparecia. Nesses momentos, percebia os olhares cúmplices e angustiados de seus pais.

Conforme sua febre e seu humor ficassem mais sombrios, tempestades ligeiras cobriam a região, um enorme contingente de trovões ensurdecedores e raios caindo por todos os lados, levavam pânico aos habitantes da tribo. Mas, como sempre os raios caiam longe, escutavam sua queda nas florestas, nunca na tribo. Atribuíam isso a boa sorte dos deuses. Aos poucos, conforme ela ia crescendo as tempestades violentas rarearam.

Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora