Orun - Aiyé: Guerra Santa #Wattys2016 (EM REVISÃO)

CAPÍTULO 45 - CONTORNOS

OBSTÁCULOS SEMPRE SERÃO CONTORNADOS, ENFRENTADOS OU DESTRUÍDOS. ISSO É PARTE DA NATUREZA HUMANA. DESDE SEMPRE E PARA TODO O SEMPRE. HOMENS E MULHERES QUE SÃO TRAGADOS POR ELES, VIVEM DE FORMA INCOMPLETA, NUNCA ATINGINDO A ESPECIFICIDADE DE SUA VIDA, SUA PLENITUDE. MESMO QUANDO DIZ RESPEITO A NOSSA INTIMIDADE, AO LADO MAIS FORTE, DENSO E NEGRO DE NOSSO CARÁTER, ELES ESTÃO PRESENTES, POIS NOS AVISAM QUE SÃO NOSSOS GUARDIÕES PARA QUE POSSAMOS PROSSEGUIR, NÃO IMPORTANDO COMO FAREMOS ESSE CAMINHO. AS PEDRAS SÃO LIMADAS PELA ÁGUA E PELO VENTO, ASSIM SOMOS NÓS.

Nossas intenções nos acometem antes dos desejos, pois elas são nossos pontos cardeais por onde o caráter dita. Elas falam, digladiam-se entre si, cada uma querendo ser mais importante do que a outra, sem coordenação e sem equilíbrio. Nenhuma árvore nasce ao contrário, quando as raízes de uma planta assolam a superfície, ela geralmente tem um ápice e invariavelmente morre, por mais tempo que lhe reste. Arrancar nossas intenções da terra fértil de nossos desejos levaria qualquer homem a definhar, secar, numa vida insípida e sem gosto, bem distante das aspirações e desejos divinos que são o nosso germe.

No meio de nossa caminhada, somos sempre testados, não porque queremos, mas para nossa necessidade e ordenamento. Não se foge do que nos é caro.

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A semana continuou seu curso normal, como se uma teia de aranha envolvesse a todos devagar. Xangô conseguiu não ficar a sós com Oyá, pois temia que uma faisca entre eles se soltasse e o estrago ser enorme, precisava respeitar a casa de seu tio, mas mesmo assim, o corpo de Oyá não saia de sua lembrança, nunca uma mulher o tinha impressionado assim, ele estava febril. Da mesma forma, Oyá estava mais dedicada a Logun, o menino crescia cada vez mais rápido, assustando as criadas que tinham medo dele, em um dia parecia com uma criança de dois anos, no dia seguinte já parecia três, quatro, cinco anos. Se continuasse assim, ele logo chegaria a adolescência. Oyá devotava a ele cuidados especiais, fazia as oferendas propostas pelo Babalawô, bem como o alimentava seguindo os preceitos sagrados e lhe banhava em amacis especiais, para lhe proteger. Ogum a cercava, mas ela esquivava-se delicadamente dele, de satisfazer seus desejos de marido, a gota d'água aconteceu quando levou o menino para morar no seu quarto, o que o desagradou mais ainda, pois tudo o que ele queria era que ela assumisse seu papel de esposa e mulher dele. Mas, quando pensava no corpo masculino, era o de Xangô que aparecia em sua mente. Ela o enxergava como o tinha visto no riacho: nu em sua perfeição, nesses momentos o desejo a consumia fortemente e ela saia para esfriar sua cabeça e seu corpo.

Ambos não se encontravam constantemente, pois emitiam uma irritação comum entre ambos, sintoma de seu desejo reprimido. Omulu a tudo olhava sem falar nada, antes saia para conhecer os arredores da cidade e de vez em quando agia debelando uma ou outra enfermidade e surpreendia-se quando as pessoas lhe agradeciam, mesmo notando o medo e o asco em muitos rostos, muitas dessas pessoas lhe pagavam e ele recebia o pagamento quando notava que as pessoas podiam lhe pagar sem que o dinheiro lhes fizesse falta. Suas próprias dores deram-lhe uma trégua, o que ele agradecia, pois viver sempre suportando os lamentos de seu corpo, muitas vezes intensificados quando usava o seu dom de cura era um tormento constante que ele acostumou-se a conviver.

Num desses dias de caminhada, foi atraído pelo som selvagem de animais. Seguiu até sua origem e deu com um corredor por trás do estábulo, onde os cavalos eram cuidados, que levava até um quadrado rústico com quatro divisões. Curioso olhou pelo portão de madeira amarrada e sentiu o cheiro ferroso e adocicado, característico de sangue fresco. Dentro do local os sons eram furiosos, animais selvagens estavam brigando entre si por algum animal abatido.