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S/N

Estou dirigindo a Kombi de John a caminho da casa de Sarah. Kie está sentada no banco do carona ao meu lado e os meninos na parte de trás.
- Fiquei com saudades. — Uma voz rouca ecoa pelos meus ouvidos atrás de mim.
Olho pra trás e JJ está debruçado no banco com a cabeça no meu pescoço. Está arrumado e com um cheirinho de menta delicioso. Sorrio com o comentário dele, ele me retribui e volta a se sentar no banco atrás de mim.
  Chegamos ao palácio de Sarah e quando paro o carro parecem que todos eles se recusam a descer.
- O que foi gente? A gente não tinha combinado? — Pergunto.
- A família Cameron? Sério? — Kie grita comigo.
- E lá vamos nós... — JB suspira e passa a mão pelos cabelos.
- Kie... — Tento falar mas ela me corta.
- Não. Nem precisa vir com discursinho manso pra cima de mim, tá legal? Eu sou sua amiga, te acolhi aqui em Outer Banks, te apresentei aos meus amigos pra você me dá uma facada nas costas se juntando a Sarah Cameron? — Kie esbraveja comigo.
- Kie, tenta se controlar. — JJ tenta amenizar a situação.
- Kie, a gente não precisa nem falar com ela. Você não precisa nem olhar pra cara dela. — JB tenta convencê-la.
- Oi???? Quando foi que vocês se juntaram pra defender a Sarah??? Sarah Cameron???? — Kie grita conosco e seus olhos se enchem de lágrimas.
- Gente, vocês podem nos dá licença? — Falo baixo pedindo aos meninos que se retirem.
  Pope vai até Kie, deixa um selinho calmo em seus lábios e fala algo baixinho pra que somente ela escute para tranquiliza- la. Os meninos soltam da kombi um atrás do outro deixando somente eu e Kiara lá dentro.

- Como você pôde? — Kiara diz baixinho com a voz trêmula.
- Kie... Eu não estou entendendo. — Falo confusa.
Kie respira fundo e desaba enquanto conta a história da sua época de Kook, de quando era melhor amiga de Sarah, da forma como ela traiu Kie e sua confiança.
Um aperto no peito se forma ao pensar em tudo o que Kie teve que passar e agradeço mentalmente aos meninos por terem acolhido ela.
- Sabe que se eu estivesse aqui não teria deixado ninguém te tratar dessa forma, não sabe? — Digo segurando suas mãos trêmulas.
- Eu sinto muito, Kie. Eu não fazia ideia de que isso traria gatilho pra você. Eu nunca faria nada pra te machucar, você sabe, não sabe? — Pergunto e ela balança a cabeça afirmando.
- Eu te amo, Kie. Você é a minha irmã, ouviu? Minha irmã.
- Não vai deixar ninguém mexer comigo lá dentro, vai? — Kie pergunta com voz de choro.
- Não vamos. — Escuto a voz grossa de JJ ecoando pela kombi e quando olhamos em direção a porta os meninos estão encostados.
- Estão espionando a gente? — Kie pergunta incrédula.
- Só um pouquinho. — John B afirma rindo.
- E aí, vamos? — Levanto a mão direita pra ajudar Kie a se levantar.
- Com toda certeza. — Kie segura minha mão e entramos todos no palácio Cameron.

☀️

Entramos na casa e o grave do som bate junto com as batidas do meu coração. Corro o olhar pela casa e avisto vários kooks espalhados pela casa, vestidos todos com o mesmo estilo de roupa como marionetes.
- MEU DEUS VOCÊ VEI... — Sarah aparece e se joga em cima de mim em um abraço eufórico. No momento em que nos abraçamos seu olhar bate de frente com os meninos e seus olhos fixam no de John.
- Hã... Prazer, Sarah. — Ela diz sem jeito.
É impressão minha ou JJ está segurando uma risada? O filho da puta está tentando dá em cima de outra na minha frente???
- Aproveitem a festa, daqui a uns 30 minutos ligaremos o Karaokê. S/N, você é minha convidada de honra, vai ter que subir pra cantar ok? — Sarah diz e preciso me segurar pra não revirar os olhos.
Agora estou com raiva. Raiva pelo que ela fez com Kie, raiva pelo fato de JJ ter se interessado por ela, raiva pelo fato de que ela consegue ser tão linda e educada que não consigo ficar com raiva por muito tempo.
- É bom te ver, Kie. — Sarah diz tentando manter contato visual mas Kiara desvia.
- Senti sua falta. — Sarah diz baixinho mas tenho certeza que Kie escutou.
Sarah se afasta e escuto John B soltar a respiração como se estivesse prendido o ar por muito tempo. Caminhamos até uma das mesas e sentamos todos juntos.
JJ senta do meu lado e faz questão de depositar sua mão em minha coxa por debaixo da mesa. Em um momento de raiva, extrapolo e tiro sua mão bruscamente da minha perna. Sei que ele estranha e noto uma tristeza em seu olhar.
- Vou pegar uma bebida. — Digo e levanto antes que ele possa tirar satisfação.
- Vou junto. — JJ se levanta e me segue pela casa.
Como esperado, JJ acelera os passos até me alcançar e me puxa pelo braço pra que possamos ficar frente a frente.
- Está tudo bem? — JJ pergunta me olhando nos olhos.
- Algum problema? — Respondo cinicamente.
- Pelo visto sim. — Ele revida e eu desvio o olhar.
- Me solta. — Puxo meu braço pra baixo pra me desvincular de suas mãos.
- Qual a porra do seu problema? Você é bipolar? Esquizofrênica? — JJ pergunta.
- Você sabe muito bem o que eu sou. Só mais uma, não é isso JJ? — Pergunto olhando em seus olhos.
- Do que você está falando? — Ele pergunta confuso. Sonso.
- Você é um babaca JJ. Um babaca. — Enfatizo.
- Você quer saber de uma coisa? Eu realmente devia está louca quando deixei você me beijar. Eu quero que você se exploda, JJ. Quero você longe de mim. — Esbravejo e assim que as palavras saem da minha boca me arrependo amargamente do que disse.
JJ pisa forte e ao passar por mim seu ombro tromba no meu com toda brutalidade. Ele não se importa e continua andando sem olhar pra trás.
Sinto meus olhos arderem e quando dou por mim estou desabando de tanto chorar. Corro imediatamente procurando o banheiro com os olhos embaçados sem conseguir enxergar nada a minha volta.
Abro a primeira porta que encontro e entro em um dos quartos da casa. Sento na cama e abafo o choro no travesseiro macio e cheiroso que estava em cima. Não sei por quanto tempo fico assim mas acho que adormeço.

☀️

- Que porra é essa, caral... — Uma voz grave soa como um grito nos meus ouvidos.
- S/N? — A voz fala de novo em um tom confuso.
Abro os olhos pesados de tanto chorar e avisto Rafe dentro do quarto. Está vestindo uma calça jeans preta e uma camisa polo preta também, o cabelo loiro escuro estão bagunçados e suas mãos seguram um copo vermelho de cerveja.
- Oi Rafe. — Passeio os olhos pela primeira vez no ambiente e só então me dou conta de que estou em seu quarto.
- Desculpa, eu precisava... — Tento dizer mas Rafe me atrapalha.
- Se esconder. — Rafe tira as palavras da minha boca.
- Sim... — Digo fitando o chão.
- Não tem problema, eu sei como é. Só que as vezes é difícil se esconder dentro da sua própria casa quando o problema é justamente as pessoas que moram nela. — Rafe diz pensativo e tento entender sua fala.
- Você é bem birutinho da cabeça hein? — Digo.
- Você não faz ideia, gata. — Ele diz e suspira.
- Quer dividir? — Rafe pergunta.
- Digamos que eu me envolvi com babaca que... — Tento dizer mas um nó se forma na minha garganta e a falta de ar se instala no meu peito.
- Que tem olhos azuis, um cabelo loiro e uma marra de badboy absurda? — Rafe fala dando um sorrisinho de lado.
- Sim e que não se importa com o que eu sinto. Que me usou e ainda teve a cara de pau de da em cima de outra na minha frente, Rafe. Na minha frente. — Extrapolo e choro cada vez mais.
- Filho da puta. — Rafe fecha as mãos, cerra os pulsos e uma veia no seu pescoço começa a pulsar. Ele está tendo uma crise de raiva.
- Rafe — Tento chamar sua atenção.
- Rafe!!! — Grito mais alto pra tirá-lo de seu transe interno.
- Não, não, não. Temos que fazer algo. — Ele diz andando de um lado pro outro.
- Eu tenho que fazer algo. — Ele posiciona o dedo em seu peito, apontando pra si.
- Nós não temos que fazer nada, Rafe.
- Eu preciso, porque... — Rafe respira fundo antes de continuar falando.
- Porque te devo uma, S/N.
- Me deve uma? Do que você está falando, Rafe?
- Te devo uma porque você é a única pessoa que não me olha desviado, ou que me julga. Você me olha de verdade, sabe quando estou a um trisco de surtar e nem por isso foge de mim como se eu fosse uma aberração — Rafe fala quase sem ar.
- Você me ver como ser humano. — Conclui sua fala baixinho.
Nos abraçamos e os dois começam a chorar, cada um por causa de seus devidos problemas.
- Obrigada por isso. — Rafe fala quando consegue se acalmar um pouco.
- Amigos são pra essas coisas, não são?
- Não sei, nunca tive uma amiga. — Rafe diz com um sorrisinho irônico.
- Mas agora tem, meu bemzinho. — Digo e aperto sua bochecha.
- Vamos voltar pra festa?
- Agora.
Levantamos e abrimos a porta para voltarmos a festa. Nossas mãos estão entrelaçadas e sinto olhares em volta de nós por toda parte.
  Estamos chegando próximo ao grupo dos pogues e como sei que levar Rafe até lá será motivo de desconforto, me despeço dele e caminho até meus amigos.
  Chego na mesa e nem sinal de JJ. Percebo Kie melancólica encarado Sarah.
- Sabe que pode ir lá falar com ela, não sabe? — Digo sentando ao seu lado.
- Você ficou louca?
- Louca você vai ficar se não for lá resolver essa situação.
- Amiga, você acha? — Kie pergunta insegura.
- Com toda certeza. Vai lá amiga, não guarda esse sentimento tão ruim dentro de você não.
  Kie suspira e caminha até Sarah. Fico observando a cena. Kie está com vergonha e Sarah ficou emocionada ao ver Kie. Fico daqui mandando energias positivas quando uma voz me desconcentra.
- Obrigada. — Diz John trocando de cadeira e se sentando ao meu lado. — Será que todo mundo deu pra me agradecer hoje? Eu virei Irmã Dulce?
- Pelo que? — Pergunto confusa.
- Por ter estimulado a trégua entre as duas. — John aponta na direção de Kie e Sarah.
- Já tava na hora né!? — Digo.
- Sim, Kie é a minha melhor amiga e a Sarah... — John prende a respiração antes de falar.
- A sarah o que? — Pergunto confusa novamente.
- A Sarah é a mulher que eu amo.

Me ame ou me odeie- JJ Maybank Onde histórias criam vida. Descubra agora