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JJ

- MARRENTINHA! — Grito, ofegante, enquanto corro esbaforido para alcançá-la.
- Pelo amor de Deus, quando foi que ela conseguiu andar tão rápido?. — Sussurro baixo, comigo mesmo.
Acelero meus passos, os batimentos cardíacos, os berros e a velocidade do meu ritmo, até finalmente conseguir amparar seu corpo.
- Por favor, me escuta. — Sussurro.
Abraço-a por trás, e com os lábios colados na sua orelha, a respiração balançando seus fios por conta da proximidade de nós, explico a situação.
- Me perdoe por ter mentido. Ela de fato é familiar do meu aluno, Kevin Johnson.
- Após a estreia do seu filme eu não tive a quem recorrer e imprudentemente, busquei o meu nadador em casa e fomos surfar na praia.
- A irmã dele chegou mais ou menos umas duas horas depois, desesperada e com toda razão.
- Não sei como ela conseguiu o meu número porque eu juro marrentinha, por você e pelo nosso filho, não compartilhei nenhum dado pessoal.
- Muito provavelmente ela tenha ligado porque os pais dele exigiram que eu explique a situação para eles também.
- Não quero de forma alguma que restem dúvidas. Porque de todo o meu coração, estou sendo sincero. Não aconteceu nada, absolutamente nada.
  Seu corpo vira-se em minha direção. Agora ficando completamente de frente, com os olhos grudados nos meus e os lábios quase colados, ela pergunta o motivo de tudo isso.
- Por que você mentiu?.
  Respiro fundo e mesmo, sem a mísera coragem, ponho tudo para fora.
- Porque não queria te perder, de novo. — Sussurro.
- Estamos sempre cravando uma guerra um com o outro e eu sei, é divertido ao mesmo tempo que fere.
- Constantemente explodimos, machucamos e ferimos o que de mais bonito aconteceu conosco.
- Temos um sentimento tão puro e ao mesmo tempo tão conturbado... — Suspiro.
  Jogo a cabeça e permito que as lágrimas escorram pelos meus olhos.
  Não me importo se estamos na recepção ou de que talvez estejamos no meio do saguão e empatando a passagem das macas e médico desesperados e justamente agora agradeço mentalmente pelo corredor está completamente vazio.

- Isso aqui é doentio, você não precisa guardar isto a sete chaves porque eu sei... É completamente tóxico.
- Mas quando conseguimos, mesmo que por alguns segundos, esquecer toda desgraça que nos cerca... Você já viu como funcionamos excepcionalmente incríveis?
- Como se uma parte de mim precisasse de você para prosseguir adiante, porque desde a sua chegada tudo em mim tornou-se tão mágico quanto nossos dias repletos de doçuras. — Sorrio comigo mesmo e escuto sua risadinha abafada.
- Eu não queria, de forma alguma, estragar o momento em que estávamos tendo.
- Mas é sempre assim, não é? — Fungo o nariz e seco meus próprios olhos.
- A gente se tem e justamente por isso se perdoa independente de qual seja o peso do erro do outro.
- Mas qual o sentido de perdoar e machucar novamente? — Fixo meus olhos nos seus e observo suas lágrimas escorrerem excessivamente.
  S/n fica na ponta do pés, enlaça os braços por minha cintura, enterra a cabeça no meu pescoço, chora baixinho e sussurra, com a voz arrastada de choro.
- Me desculpe por não te escutar e todas as vezes, sem exceção, transferir a culpa quando na maioria das vezes... Você está tão ferido quanto eu.
- Tudo isto começou por minha culpa e desde então, eu tento te culpabilizado por erros ocasionados após os meus.
- Você tornou-se frio, uma parte sua morreu por minha causa e eu não sei de que forma carregar este fardo, porque acredite... — Sua voz enfraquece tanto quanto sua respiração.
- É doloroso demais admitir que eu matei a sua melhor versão com meus próprios atos.
  Aperto-a mais forte contra meu peito.
  S/n está tendo uma crise e agora eu não sei de que forma sarar suas feridas internas sem cicatrizar os machucados que eu mesmo causei.
  Não sei de que forma reconstruí-la sendo que nem eu ao menos consigo manter-me de pé.
  Todo discurso altruísta de que nos reergueremos juntos é lunático e completamente inacessível nesta ocasião.
  Juntos somos mais fortes e infelizmente, mais fragilizados.
  Nos tornamos vulneráveis e essa infelizmente é a munição perfeita para nossa ruína.
  O pesadelo de nós se iniciou após o aborto mas, quando chegará ao fim?.

- Construímos a nossa história juntos, princesa. O ponto final, eu coloquei sozinho. — Sussurro.
  Afasto seu corpo para olhar em seus olhos e transmitir tamanha veracidade pela nossa conexão.
- Não se encarregue de assumir a culpa sozinha porque por mais difícil que seja, eu preciso admitir... — Grudo a minha testa na sua.
- Errei tanto quanto você.
  Deslizo a ponta do meu nariz ao seu e mordo levemente seu lábio inferior.
- Há algo em você que me atrai e eu não consigo me manter longe por muito tempo.
- Na realidade... — Beijo sua bochecha.
- Eu nem ao menos quero.
  Ponho uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, seguro sua nuca com a palma da minha mão e aproximo um pouco mais, para sussurrar baixinho mas alto o suficiente para somente ela escutar.
- Caso fizessem um laudo médico do meu coração, seria perceptível o seu nome grifado em letras garfais, dentro dele.
- Porque ele é seu, marrentinha. O meu coração fragilizado, quebrado e sensível, é seu.
- Então se sinta no direito de quebrá-lo quantas vezes você achar que deve. Porque como eu disse antes... — Sorrio de orelha a orelha.
- É seu.
Os passos aproximam-se, o saguão enche-se novamente e só então me dou conta da nossa realidade.
Me perdi nesse espaço de nós que nem ao menos me lembrei de voltar.
Enxugo suas lágrimas com a ponta do meu polegar e estou apto, preparado e ansioso para selar meus lábios aos seus mas somos infelizmente interrompidos.

- Ah não, agora não. — Sabrina intromete-se entre nós, atrapalhando o nosso contato.
- Ela terminou com o Pope. — S/n balbucia, sem voz.
- Eu sei fazer leitura labial, ok? Engraçadinha.
- Vocês estão quinze minutos atrasados e estavam aqui dando uma foda no corredor do hospital? — Sabrina reclama, com toda razão.
- Desculpa. — Respondo, tentando controlar a crise de riso.
- Em minha defesa... — S/n tenta falar em meio as risadas.
- Não, vocês acabaram de perder qualquer mínimo direito. Agora querem fazer o favor de adiantarem? Eu quero conhecer a porra do meu sobrinho.
- Ok, Lalu... — Abraço-a pelos ombros.
- Vamos fingir que você só está agindo assim porque odeia casal feliz... — Empurro-a pelo corredor, enquanto viro-me para trás e chamo S/n com um aceno de mão.
- Desde quando vocês tornaram-se casal feliz novamente? — Sab's pergunta, intrigada.
- Desde que eu me dei conta de que a minha felicidade? — Olho-a pela parede de espelho do hospital.
- É essa garota. Especificamente, exclusivamente... — Sorrio abobalhado só por vê-la andando pelo hospital, com os olhinhos percorrendo por todo espaço.
- Unicamente essa garota. A minha.

Me ame ou me odeie- JJ Maybank Onde histórias criam vida. Descubra agora