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JJ

A primeira vez que peguei em um revólver, eu tinha apenas nove anos.
Minha casa foi invadida por um dos caras que apostavam com o meu e consequentemente, ele devia dinheiro.
Sua arma ficava sempre ao lado do botijão de gás, afinal o Luke sempre ameaçava que estouraria o mesmo com seu calibre doze e ascenderia o fósforo logo em seguida, caso eu não obedecesse suas ordens.
A sensação de poder, aptidão e coragem, me impulsionaram a firmar a mira e valentemente acreditar que não só tinha a situação na palma da minha mão, como também derrotaria traficantes muito mais habilidosos do que uma criança.
Me recordo do peso, do pulso latejando de dor ao ponto de mal conseguir manter-se erguido e ao mesmo tempo a bravura e afoiteza para enfrentar ferozmente todos eles e qualquer outra pessoa que ousasse bater de frente com a minha fúria.
Agora de frente para a porta do escritório, segurando a Glock G25, minhas mãos não tremem tanto quanto da primeira vez, nem muito menos ficam encharcadas de suor.
Ainda assim, depois de usá-la tantas vezes e da confiança instalar-se em meu ser, segurar um revólver ainda é uma adrenalina e tanto.
Um pulo no escuro, o qual estou ansiosamente esperando para dá.

- Abre logo. — Rosno baixo para Barry que ainda se pergunta o que fazer.
- Como assim 'abre logo'? — Ele remenda a minha voz.
- A porta, porra. — Esbravejo, baixo.
- Como, caralho?
- Arromba, Barry. Você é idiota?
- Eu não sei arrombar uma porta!. — Barry contradiz toda sua pose de bandido indestrutível.
- Ah, Barry... Você pegou dois anos de cadeia e não sabe arrombar uma porta? — Ironizo, puxando o gatilho do revolver, mirando em direção a maçaneta e atirando para destravar a mesma.
- Fica ai fora fazendo vistoria, caso ele acione seguranças ou até mesmo chame a polícia. — Relembro.
Arrebento a limiar e o afronte inicia.
Meus olhos cravam com outros azuis tão assustados, demonstrando o quão amedrontado Ward Cameron está.
- Hello, Sidney... — Arqueio a sobrancelha.
- It's an honor. — Sorrio escancaradamente.
- O - O que está acontecendo? — Ward não reage, apenas coloca as mãos na cabeça e fecha os olhos; Tão perturbado ao ponto de gaguejar em sua própria fala.
- Sempre quis falar assim. — Adentro o cômodo e aperto o gatilho com total normalidade, atirando em seu braço esquerdo.
- Você nunca assistiu pânico? — Arqueio a sobrancelha e encaro o seu corpo sangrento no chão, que se contorce incansáveis vezes e pressiona o músculo na expectativa de amenizar a dor.
- Devia assistir, é um clássico. — Sorrio divertidamente; Chega a ser hilário toda essa cena patética a qual presencio.
- O que você quer aqui, seu maconheiro de merda? — Ward rosna, impacientemente, com a voz carregada de dor.
- Oh meu Deus... — Agacho-me ao seu lado.
- Me desculpe... — Acaricio seu braço e quase, por um segundo, até parece que sinto uma mísera compaixão.
- Doeu? — Pergunto o óbvio, enquanto enfio meu dedo em sua ferida e sinto a bala enterrada em sua carne na ponta dos meus dedos.
  Instigo sua ferida, estancando seu ferimento e aumentando, em níveis absurdos, sua dor.
  Escuto seus berros, seus gritos de socorro e as lágrimas que escorrem por seus olhos que praticamente suplicam por compaixão.
- Eu nunca usei uma arma, entende?... — Enfio ainda mais fundo o indicador e meus ouvidos latejam após os gritos desesperados e as lamúrias infinitas.
  Atiro logo em seguida em sua perna esquerda e o barulho estende-se.
  O chão ensopado de sangue, sua carne exposta, massacrada e cruelmente dissipada após o impacto da munição Parabellum.
  Sua dor não se compara a raiva que se estende cada vez mais em meu peito e vê-lo agora implorando para manter a salvo sua vida, me relembro quantas outras ele destruiu e cada vez mais só quero matá-lo com minhas próprias mãos.
- Olha isso... Eu fiz de novo. — Sorrio ironicamente.
- E de novo... — Mais um tiro; Desta vez em sua coxa direita.
  Ward contorcendo no chão, vira-se de costas, tentando rastejar em direção a saída, com o sangue jorrando e espalhando-se por onde quer que seu corpo se instale.
- Para aonde você pensa que vai? — Pergunto em meio as gargalhadas.
- Você não quer que eu vá ai te pegar... Quer? — Minha voz mistura-se com o estrondo do tiro mirado simetricamente em meu alvo favorito.
  O projetil em direção ao seu anus me notifica de que este foi o pior golpe baixo possível.
- Po-Por... Por fa-fav-favor, Maybank... — Ward implora feito uma criança, em meio as lágrimas, fraco o suficiente para nem ao menos conseguir balbuciar uma frase.
  Seu soluço alto, às lágrimas escorrendo freneticamente por todo seu rosto, é sem dúvidas uma das cenas mais hilárias e patéticas já vistas.
  E então, ao ver seu estado devastado e figura completamente destroçada, tenho uma brilhante idéia.
- Quer sair vivo dessa, não quer? — Agacho-me ao seu lado e o seguro pelos cabelos, de forma que faça o desgraçado olhar diretamente para mim.
- Me livrei dos seus empregados, desativei as câmeras e os alarmes de segurança... Sua casa é completamente integrada por acústico, ou seja... — Esfrego a ponta do revólver em sua testa, enxugando a gota de suor que escorre pela mesma.
- Ninguém escuta os seus berros... — Desço a arma pela lateral, deslizando pela sua jugular.
- Ninguém vem fazer a vistoria para ter certeza de que você está bem... — Desta vez destravo o gatilho e quase, por um ímpeto de descontrole, aperto o mesmo.
- Seria impossível escutarem meus tiros... — Aproximo-me um pouco mais, intensificando nossos olhares.
- Eu poderia lhe matar agora mesmo, Ward Cameron... Tem noção disto? — Sorrio escancaradamente e nunca fui tão explicitamente feliz.
- O-O que... — Ward para de falar no exato momento em que necessita gemer de dor. Quase sou capaz de ouvir sua pulsação diminuindo por segundo.
- O que você quer? Se-seja... Seja rá-rápido ou... Ou, e-eu te-terei uma hemorra.... — Mais um grito de dor.
- Sim, você terá uma hemorragia.... — Tiro as palavras da sua boca.
- Eu atirei certeiramente no buraco do seu... — Faço o gesto com as mãos, sorrindo divertidamente e tenho certeza de que ele entende a referência.
- Ok, vamos logo com isto. — Tiro o smartphone do bolso e desbloqueio a tela.
- Você é triste de feio, sabia? — Falo enquanto futuco o celular em busca do aplicativo que tanto preciso.
- Não sei como pode ter contribuindo para a existência de uma mulher tão linda quanto esta... — Mostro a tela do meu celular para ele, que consta uma foto belíssima da minha garota e observo o cretino espremendo os olhos para enxergar.
- A questão é que... A essa altura do campeonato, você deve ser a pessoa que ela mais odeia neste mundo... — Volto ao menu principal na maior vagarosidade, afinal não estou com o mínimo de pressa, e vou em busca do que realmente desejo.
- E pelo fato dela está grávida eu não quero que a S/n passe a gestação inteira lhe odiando e o meu filho nasça com alguma semelhança sua, entende? Você me entende, até porque se enxerga no espelho todos os dias... Urgh, que visão do inferno. — Reviro os olhos.
- Ok, vamos lá? — Levanto, sorrindo de orelha a orelha; Realmente, estou me divertindo horrores neste exato momento.
- Diga 'xiiiiisss'. — Direciono a câmera do telefone em sua direção e tiro uma foto sua.
- Ah não, Ward... Você nem sorriu. Como quer que ela deixe de te odiar deste jeito? Vamos de novo.
- Você é doente. — Ele rosna, ainda se contorcendo no chão, chorando tanto quanto antes.
- Eu? — Agacho-me ao seu lado.
- Eu sou doente? — Soco seu maxilar.
- Você é um filho da puta que nem ao menos presta para se encarregar de conseguir o amor dos próprios filhos e por não tê-los, os machucam diariamente.
- E eu, logo eu, que ponho todos aqueles que amo no pedestal, sou o doente da história?
- Se manca, Ward. Sorria logo para esta droga de foto ou eu juro por Deus que vou atirar tanto nessa sua cara maldita ao ponto de desconfigurar o formato.
- E então? — Arqueio a sobrancelha novamente e aguardo sua confirmação.
- Tira logo essa porra. — O Cameron rosna, completamente possesso de raiva, o que alimenta ainda mais a minha felicidade.
- Bom garoto... — Acaricio sei couro cabeludo e me encarrego de tirar a foto.
- Obrigado, Ward. Foi ótimo fazer negócios com você.
  Caminho em direção a saída do escritório e dou de cara com um Barry sorrindo abobalhado, comemorando a nossa "vitória".

- CARAAAALHOOOO, TU MANDA MUITO BEM!!!!! — O bandido grita, feliz como um idiota.
- Nadadeira... — Barry bate sua mão na minha, me pegando completamente desprevenido.
- Cabeça. — Sua testa tromba com a minha e verdadeiramente me assusto após a sua atitude.
- Irmãoooooo! — Seus dedos remexem-se de forma engraçada e por alguns segundos me permito até gargalhar mais alto.
  A verdade é que, não teria conseguido sem ele.
  Barry pode ser realmente a pior pessoa existente na face da terra, depois de Ward Cameron, mas é uma boa pessoa.
  Fez do crime seu estilo de vida e das drogas o seu ganha pão? Sim, mas é uma boa pessoa e francamente? Um excelente criminoso.
- Ele é todo seu. — Aponto para o corpo ensanguentado do Ward.
- Você não vem? — Barry arqueia a sobrancelha, intrigado.
- Preciso buscar a minha garota, hoje vamos conhecer o nosso bebê. — Sorrio feliz da vida, ao me recordar do que me aguarda.
- Ah, maneiro. — Ele assente.
- Não o mate, ok? Rafe Cameron não me perdoaria nunca.
- E desde quando você se importa com o que Rafe Cameron pensa? — Barry pergunta algo que não sei se existe uma resposta exata.
- Não me importo, mas... Prezo pela minha vida. — Respondo enquanto desço as escadarias da mansão.
- Chame uma ambulância para o velho depois que terminar o serviço. Eu atirei bem naquele lugar... — Fico de costa e aponto diretamente para minha bunda.
- Ele precisará de um cirurgião.
- Você é foda, cara. — Barry sorrir.
- Obrigado, Barry. — Agradeço, enquanto abro a porta da frente.
- Você me paga depois. — Ele deita a cabeça de lado e sorrir disfarçadamente.
  Barry adentra o quarto e não consigo ver absolutamente nada, apenas ouvir.
  Escuto o choro, o desespero, os berros, as fúrias raivosas e principalmente, a vingança paga.
  Pela minha mulher, pela minha sogra, pelo meu irmão, pela minha melhor amiga, pela minha sobrinha, pela tia que virou babá não remunerada e até mesmo pelo meu filho.
  Ninguém merecia está ligado por vasos sanguíneos a alguém como este maldito.
  Todos foram vítimas de somente um culpado: Ward Cameron.

Me ame ou me odeie- JJ Maybank Onde histórias criam vida. Descubra agora