72

841 107 107
                                    

S/n

  Sou ansiosa ao extremo e digo isto desde que me entendo por gente.
  Tenho pavor de inconstâncias, encerramento de ciclos, movimentos bruscos, perda familiar e qualquer outra coisa que desencadeie o meu pior lado.
  O nó na garganta, os olhos inchados, o suor que escorre e desliza pelas minhas mãos e encharca a minha pele, os batimentos cardíacos acelerados, a pulsação exasperada, o latejamento de um lado certeiro da cabeça que expõe a dor e desnorteia meus sentidos ao mesmo tempo em que enfraquece minha visão.
  Estou tendo uma crise, neste exato momento e não faço idéia do que fazer agora.
  O pior gatilho para uma aflição é a espera e infelizmente só me resta aguardar.
  Acabo de sair do banho e sinto as gotas de suor pingarem freneticamente; É absurdo o quão desesperador alguém pode ficar por se sentir impotente enquanto aguarda qualquer mísero sinal.
  Preciso de uma resposta, uma ligação, mensagem ou até mesmo um bombo correio, cartas demoradas de serem entregues pelo correio, um telefonema interurbano ou um cartão postal.
  Preciso saber se ele está vivo, morto ou na pior das hipóteses, atrás das grades.
  Necessito de alguma confirmação antes que eu mesma vá em busca de respostas pelo simples fato de não suportar a ausência delas.
  Odeio o fato de que JJ tenha saído pela porta da frente tão enfurecido ao ponto de esquartejar qualquer ser humano capaz de desafia-lo.
  Me assusta o modo como ele se foi e após tamanha demora ainda não tenha retornado.
  Não consigo lidar com o fato de que JJ faria qualquer coisa por mim e principalmente tudo com qualquer outro que tente abusar da minha boa educação.
  É tudo tão confuso e as incógnitas martelam incansáveis vezes, como se me obrigassem a insistir na surreal idéia de confronta-la e realmente descobrir pelos meus próprios meios aonde JJ está e o que aconteceu com ele.
As batidas na porta me sinalizam de que alguém aguarda a abertura da mesma e em somente um salto, levanto-me e corro em direção a mesma.

- Merda. — Esbravejo, baixo, assim que bato com o dedo mindinho do pé na quina da cadeira.
- Até que enf... — Digo enquanto destravo a maçaneta e dou de cara com outra pessoa, menos a que eu esperava e desejava.
- Ah, oi Pope. — Cumprimento, enquanto cedo passagem para o mesmo adentrar a residência.
- Decepcionada ao me ver? — Heyward arqueia a sobrancelha, enquanto deposita um beijo em minhas bochechas.
- Claro que não, eu só... — Suspiro.
- Estava esperando outra pessoa. É.... Eu entendo.
  Pope adentra o cômodo, com ambas as mãos enfiada nos bolsos, cabisbaixo, com os olhos percorrendo todo ambiente.
- Tudo bem? — Fecho a porta, apreensiva.
  Será que Pope veio me trazer alguma notícia ruim?  Está tão pesado, cheio de rodeios, com os olhos vermelhos e a respiração simplória, como se estivesse difícil até para respirar.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, nada.
  Ele senta-se no sofá, passeia a mão pelos cabelos e aperta fortemente os olhos.
- Pê... — Aproximo-me.
- Fala comigo, por favor.
  Agacho-me em sua frente e acaricio sua pele macia, até sentir algo molhado e compreender de que apesar de muito tentar segurar, Pope Heyward desabou em lágrimas.
- Você está machucado e caso não exponha para fora não vai sarar aonde dói, entende? — Enxugo sua bochecha molhada, apesar de quase não conseguir por conta da barreira de suas mãos firmes.
- Sabrina disse que estamos em frequências distintas, desejos opostos e destinos desligados. — Sussurra baixinho.
- Porque conosco tem que ser sempre, tudo tão difícil?
  Sento ao seu lado e puxo cuidadosamente seu corpo, até fazer o garoto deitar em meu colo.
- O amor é maremoto, Pê. — Cochicho em seu ouvido, enquanto faço cachinhos em seu cabelo.
- Nem todo mundo está no mesmo barco e justamente por isto, alguns se afogam...
  Pope entrega-se ao elo, me apertando um pouco mais forte e além do toque sou capaz de ouvir seu soluço e sentir sua dor.
- Eu sinto muito que a vida tenha separado vocês tão cedo e unido de uma forma tão desigual.
- A Sabrina não soube se reconstruir e por mais que você a ame e todas as pequenas partes, ela precisa ser inteira novamente.
- A gente se desencontra o tempo inteiro e isto dói. Eu só... — Pope suspira.
- Eu só queria que ela ficasse. Pelo menos uma vez, entende?.
- Vocês se encontraram por dez anos sem nem suspeitarem que eram sempre a mesma pessoa. — Sussurro em seu ouvido e um sorriso esboçado, fraco e muito bonito, forma-se em seus lábios.
- Ela pode virar Sabrina, Maya, Jules, Mary, Chris, Ivy e qualquer outra identidade... Mas você sabe que a Laura pertence a você e no fundo? — Seguro seu queixo e olho profundamente em seus olhos.
- Ela também sabe disto. — Grudo nossas testas e sussurro, enquanto enxugo seus olhos.
- Vocês foram predestinados.
  Beijo a ponta do seu nariz e permaneço acariciando seus fios, enquanto seus braços entrelaçam mais forte a minha cintura e descansa a cabeça no centro da minha barriga.
- Ei, baby... — Pope sussurra baixinho, com os lábios grudados no meu abdômen.
- Você tem a mamãe mais doce deste mundo.
- Ah, Pê...
   Desta vez eu que estou chorando, como um recém-nascido logo após ser removido do útero e concebido ao mundo real.
  Nos abraçamos em um elo só nosso, uma conexão única.

Me ame ou me odeie- JJ Maybank Onde histórias criam vida. Descubra agora