S/N
Quase não consigo escutar todo o batalhão de comida que Sarah lista para que eu faça hoje.
Meu coração está acelerado, minhas mãos estão tremendo, minha boca está seca e tenho certeza de que estou gelada como um defunto.
O babaca do corredor, que me xingou de cachorro de rua e que eu fiz questão de derrubar um copo de 500ml de chocolate quente? É meu patrão.
Estou tão atordoada com as idéias se formando em minha mente que só consigo respirar novamente quando Rafe sai da cozinha.
- Tudo bem, amiga? — Sarah pergunta olhando confusa pra mim.
- Sim, claro. — Tento desconversar.
- Bruschetta de salmão e queijo gruyère, berinjela com molho tahine, risoto com queijo brie e torta de maçã caramelizada, certo? — Me certifico de que escutei todos os pratos.
- Isso e o chocolate quente do Rafe. — Ela me lembra.Filho da puta. Será que ele pediu justamente pra jogar em cima de mim também?
Estou com tanta raiva que se eu tivesse ao menos uma gotinha de veneno, derramaria no copo do desaforado.
Estou caminhando até seu quarto para entregar seu chocolate quente. Sua porta está entreaberta mas antes de entrar bato três vezes.
- Rafe, sou eu s/n — Tento chamar sua atenção.
- Rafe? Vir trazer seu Nescau... — Tento mais uma vez mas já estou sem paciência.
Que se foda. Entro no quarto com a intenção de deixar a bebida em cima de sua escrivaninha mas no exato momento em que adentro o cômodo, Rafe saí da suíte apenas com uma toalha amarrada na cintura.
Estou tão nervosa que não consigo respirar. Meu olhar decaí lentamente sobre seu corpo, seus músculos fortes e contraídos estão molhados da mesma forma que o seu cabelo loiro escuro.
- Ao invés de está cozinhando, você está me comendo com o olhar? — Rafe diz rispidamente olhando pra mim.
- Eu só vir trazer o chocolate quente que você pediu. — Digo desviando o olhar.
Ele não responde e caminha até a porta fazendo sinal pra que eu me retire.
- Preciso desse emprego, Rafe. Então se a gente puder conviver de forma civilizada, eu agradeço. — Digo antes de sair do quarto e escutar a porta bater com força.☼
Rafe- Eu vou falar só uma vez, Rafe. Fica longe da minha amiga. — Sarah grita pela milésima vez a mesmíssima frase.
- Acha mesmo que faço questão de ficar do lado de uma Pogue? Já não basta você? — Grito também.
- Não vai falar nada, nem ao menos triscar um dedo nela. Me ouviu, Rafe? — Ela se certifica.
- Não vou tocar em nenhum fio de cabelo dela. — Falo pra que Sarah saia logo do meu quarto.
- Ela trabalha aqui de segunda a sexta. De segunda a quarta ela entra 14h e saí às 06h e volta quinta 06h e saí as 22h. — Sarah me passa a planilha com os horários de s/n.
- Ela vai morar aqui? — Pergunto.
- Sim Rafe, como toda empregada que mora do outro lado da cidade pra que não precise se deslocar.
- Tá, agora vai embora. — Digo a puxando pelo braço e empurrando quarto afora.Agora no silêncio do meu quarto sem a voz de gralha da Sarah consigo pensar direito.
Me lembro do nosso momento de tarde, seus olhos deslizando sob cada parte do meu corpo, a forma como ela apertou cuidadosamente o lábio inferior sem nem ao menos se dá conta do que estava fazendo fez todo o meu corpo arder como se estivesse em chamas.
Levanto da cama, pego o copo descartável que ela deixou na minha escrivaninha e só então quando viro o lado oposto é que vejo o que ela escreveu atrás: "Espero que o líquido desça pela sua garganta e não sob meu corpo :)!"
Nem percebo mas estou com um sorriso escancarado no rosto.
Desço a escada da casa lentamente pra que não faça barulho, afinal são 01:35 da manhã e não quero acordar ninguém mas mal chego no final da escada e vejo meu pai sentado na mesa da sala.
- Rafe? — Ele pergunta estranhando.
- Tudo bem, filho? — Ele pergunta como se desse alguma importância.
- Não. — Respondo secamente.
- Estava fazendo as contas do quanto lucramos este mês, olha só a elevação das taxas das empresas Cameron's. — Ele fala me mostrando as planilhas.
"Eu faço faculdade de direito, acha que dou alguma importância pra isso?" É o que quero gritar, mas não consigo.
- Espero que quando chegue a sua vez você saiba administrar e não falhe como em todas as outras coisas da sua vida. — Ele diz sorrindo em tom de brincadeira.
Uma brincadeira que dói e sai de sua boca como se fossem facas em minha direção.
- Boa noite, Rafe. — Ele se levanta e caminha em direção a escada.
- Ah já viu a cozinheira nova? Até que pra uma Pogue ela é bem gostosa. — Ele diz e sobe escada a cima.Um nó em meu peito se forma e sinto as lágrimas querendo a todo custo escorrem. Aperto cada vez mais forte os olhos para que elas não caiam. Estou andando de um lado para o outro com as mãos trêmulas.
Sinto a ansiedade me invadindo como em um vendaval e não consigo me segurar mais, estou chorando como uma criança que precisa de colo.
Eu preciso de colo, eu preciso de carinho e amor do meu pai. Será que é tão difícil pra ele me enxergar como um filho ao invés de uma bomba relógio ou algo que literalmente deu muito errado?.
Estou pensando nisso quando braços entrelaçam minha cintura por trás e me apertam forte.
- Tudo bem, Rafe. Pode chorar. — Sua voz ecoa pelos meus ouvidos e ao sentir o toque me despedaço ainda mais.
Sinto meu corpo cair sob o chão e o de s/n vai junto e ampara minha queda. Estou quase em seu colo, com a cabeça enterrada em seu peito enquanto suas mãos acariciam meus cabelos e segura minhas mãos para amenizar as tremidas.
- Obrigada. — É a única coisa que consigo dizer com a voz abafada em meios as lágrimas.
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Accident- Rafe Cameron
FanfictionApós conseguir vaga na universidade, S/N Heyward se muda para Outer Banks para cursar seu tão esperado curso de jornalismo. Em busca de melhores condições de vida e sua estabilidade financeira, aceita o emprego de cozinheira na mansão dos Cameron'...