S/N
Entro na Kombi e é impossível não chorar. Na verdade, já estava chorando muito antes mas esses olhares de pena e a maldita pergunta: "tá tudo bem?" fazem as lágrimas escorrerem de novo.
- Rafe não vai assumir. — Digo enquanto estamos na estrada e todos estão em silêncio.
- ELE DISSE ISSO???? — JJ esbraveja e esmurra o banco da frente.
- Tenta entender o lado dele, s/n... Ele está com medo, est... — S/a começa a falar mas JJ a corta.
- O LADO DELE S/A? NÃO EXISTE O LADO DELE. Existe uma garota GRÁVIDA com um pai desorientado mas que é o único que tem e nem quer assumir a criança. Você não consegue enxergar isso?
- Ele tem razão, s/a. Dessa vez Rafe não tem nenhuma credibilidade. — Sarah fala enquanto me abraça forte.
- Ele disse mesmo que não iria assumir? — Pope se certifica.
- Na verdade ele não disse nada. Eu disse que estava grávida, falei tudo o que tinha pra falar e ele não me deu nenhuma resposta. Nada. Apenas ficou lá deitado no chão, chorando. — Falo tão frustrada que tenho vergonha de encarar meus amigos.
- Não é sua culpa, sabe disso, não sabe? —Kie olha nos meus olhos, segura minhas mãos e acaricia de leve meus dedos.
- Podemos ficar em silêncio até chegarmos na casa de John, por favor? — Peço baixinho me segurando para não chorar.Amo meus amigos e sou grata a tudo o que estão fazendo por mim mas a última coisa que quero agora é ter que falar e lembrar que Rafe me deixou na mão.
A dor em seus olhos como se eu estivesse acabado com sua vida fazem meu coração se partir mais uma vez, só hoje.
Estou tão decepcionada comigo, com nós, com a vida, com o universo, com o destino e com absolutamente tudo que diz respeito a esse acontecimento.
Não tenho como pular de alegria e agradecer a céus e terra pela dádiva de ter um bebê mas também não vou culpabilizar um serzinho que não tem absolutamente culpa de nada.- Vou ceder o outro quarto pra ela, vamos deixar ela quietinha. Eu sei, todo mundo aqui quer cuidar dela mas hoje, vamos respeitar o espaço porque é disso que ela precisa. — Escuto John B falando com os outros do lado de fora mas ainda não desci da Kombi.
Entro na casa e todos fingem como se nada tivesse acontecido, até evitam me olhar nos olhos já que estamos todos muito sensíveis a ponto de chorar.
- Separei toalha de banho, roupas minhas (eu juro que estão limpas), escova de dente nova, lençol e travesseiros limpos pra você, estão ali em cima da cama. — John aparece do meu lado quando estou quase entrando no quarto.
- Obrigada, John. — Falo baixinho fitando o chão e dou um passo pra entrar dentro do quarto mas John me puxa pelo pulso e me aperta em seu peito.
Estou desprevenida e não o retribuo, então John está apenas me apertando mas não desiste de tentar me abraçar.
- Você tem um batalhão inteiro pra enfrentar essa guerra do seu lado mas você não precisa de nós.
- Você é determinada, é corajosa e vai lutar por essa criança como uma leoa, eu sei que vai.
- Mas quando você estiver cansada de ser forte, saiba que pode desabar aqui. — Ele posiciona minha mão em seu coração e o aperta.
- Com cada um de nós. Estamos nessa com você. — John nem precisa terminar de falar porque já estou o abraçando forte de volta.☼
Estou deitada, chorando ( de novo) e meus olhos já estão ardendo do tanto que estão trabalhando hoje.
Já são quase 05h da manhã mas ainda consegui nem ao menos pregar os olhos.
Escuto leves batidas na porta e mesmo sem vontade nenhuma de falar com alguém, aviso pra que a pessoa possa entrar.
Quando JJ passa pela porta e se recosta na parede fico sem acreditar no que vejo.
Nunca fômos tão próximos ou íntimos então esperaria qualquer outra pessoa para vir aqui saber como estou.
- Posso? — JJ pergunta apontando pra mim.
- O que? — Pergunto confusa.
- Posso sentir? — Ele pergunta envergonhado.
Assinto com a cabeça e JJ senta na cama ao meu lado.
Estou deitada apenas sentindo o toque das mãos de JJ passeando pela minha barriga, ora ou outra ele coloca o ouvido na tentativa de ouvir algo e tenho quase certeza de que até está conversando com o bebê mas não consigo ouvir porque está falando extremamente baixinho.
- Tem um bebê aqui, né? — Ele pergunta e seus olhos brilham assim como o sorriso em seu rosto.
- Sim. Nem parece, né? — Respondo sorrindo também.
JJ continua passeando as mãos pela minha barriga e parece está mesmo se divertindo.
- Você seria um bom pai, JJ. — Falo e vejo seus olhos lacrimejarem.
- E sabe o que mais? Ela vai te dá um filho. — Falo esperançosa.
- Você acha? — Ele seca as lágrimas e me olha de novo.
- Acho. Ela te ama e quer ter uma vida do seu lado, com filhinhos, netinhos e tudo que estiver incluso no pacote. Mas precisa respeitar as decisões dela, J.
- Estou com essa criança aqui dentro de mim e ainda não fui capaz de abrir um sorriso por causa da sua chegada. Não porque não a quero mas porque não estou pronta e eu preciso está; Como um cronômetro, preciso está pronta porque de um dia pra noite a minha vida mudou.
- Acha que se eu pudesse escolher, estaria passando por isso? Não, de jeito nenhum.
- Porque preciso está preparada comigo mesma, financeiramente, profissionalmente e tudo o que mais for necessário pra que eu possa dá uma boa vida ao meu filho.
- Mas eu não tenho nada disso agora, J. Eu só tenho dezenove anos, a gente ainda tem a vida inteira. Dê tempo ao tempo e principalmente a s/a. Ela não está lhe dizendo que não quer um filho nunca, só está dizendo que não quer um filho agora e no fundo? Você sabe que ela tem razão. — Termino de falar e JJ está chorando como uma criancinha na minha frente.☼
- Sabe quem nunca vai te abandonar? — JJ pergunta baixinho enquanto está deitado na minha perna acariciando minha barriga a mais de trinta minutos.
- Os pogues, porque pogue nunca abandona pogue. — Falo já sabendo a resposta.
- Não. A gente pode se desencontrar, cada um seguir caminhos diferentes, a vida levar algum de nós, milhares de coisas podem acontecer com o nosso grupo. — JJ começa a falar.
- Mas sabe essa vida que está crescendo dentro de você? Ela sim, ela não vai te abandonar nunca. É uma parte de você, é o seu sangue, é o seu filho, s/n. E eu sei que as coisas parecem o fundo do poço agora e sabe? talvez sejam.
- Mas a gente dá um jeito. E eu posso ser o fósforo, Sarah a luz, John B o sol, Pope a lanterna, Kie o brilho, s/a o farol mas a gente vai clarear esse fundo do poço e vamos subir todos juntos, cada um fazendo pezinho pra você todo dia subir um pouquinho mais. As coisas vão ficar bem de novo, s/n. Eu prometo. — JJ termina de falar e agora quem está chorando como uma criança, sou eu.☼
RafePassei a noite em claro no chão e é por isso que assim que acordo sinto uma pontada de dor absurda na espinha.
Estou duro como pedra, parece que nenhum músculo meu foi mexido a mais de 150 anos, como se eu estivesse enferrujado.
Levanto de vagar, como um velho em fisioterapia, e me jogo na cama assim que consigo ficar de pé.
- BOM DIAAAaaa — A voz de Wheez diminui ao ver meu estado.
- Meu Deus, que trator passou por cima de você? — Wheezie me pergunta ao me ver parecendo um defunto no quarto.
S/n e um filho. Foram eles que passaram por cima de mim e me destroçaram por completo.
O meu filho, s/n está esperando o meu filho. Pouco me importa a marca da camisinha que usamos, o que a cidade inteira vai falar ou se estou dando adeus a toda a minha vida perfeitinha e completamente planejada por qualquer outra pessoa, menos por mim.
S/n está carregando o meu filho, o meu primogênito e muito diferente de ontem, meu coração vibra e comemora por essa notícia.
Sei que depois de ontem talvez ela não queira nunca mais olhar em minha cara mas preciso que ela se veja pelos meus olhos, pelo meu ponto de vista.
Ontem dei a entender que s/n está me levando para a sarjeta com ela, mas não é verdade. Está me dando a única coisa que sempre quis: uma família.
Não vou deixar essa oportunidade passar, não vou deixar ela ir embora, não vou desistir de reconquistar s/n e o nosso bebê nem por um segundo.
Estou me levantando da cama mas a porta do meu quarto é escancarada e batida com força na parede.
Olho pra Wheezie assustado mas não consigo dizer nada porque braços me pegaram desprevenidos e me jogaram no chão de novo.
Não consigo reagir de tão rápido que foi a situação, só consigo sentir um soco forte no meu nariz, outro na minha boca, no queixo e assim por diante.
- Está tendo Deja vu, filho da puta? — JJ para de me esmurrar quando já estou completamente sujo de sangue e só então consigo ver seu rosto.
- A um ano atrás você me apareceu com esse mesmo showzinho e você não sabe o prazer que é retribuir. — Ele soca de novo meu maxilar esquerdo.
- Vai assumir a porra do filho nem que seja a última coisa que faça, covarde. — JJ me dá um chute bem no local em que minhas costas está latejando de dor e eu grito tão alto que é capaz de ter acordado toda a vizinhança.
Tomo outro chute nas costas só que dessa vez mais fraco e agradeço pela compaixão do loiro.
- PENSOU EM NÃO ASSUMIR O FILHO? — Escuto Wheezie gritar e então entendo de onde veio "a compaixão" quando vejo ela e JJ comemorando juntos e até se abraçando.
- Caras como nós não recusam a chance de ter uma nova família, porra. Sabe a oportunidade que está jogando fora? Não estou lhe dando uma escolha, você só tem uma opção. Ou você assume o SEU filho, ou eu não vejo problema nenhum em te quebrar de novo, imbecil. — Ele soca meu rosto pela última vez e vai embora do quarto.Estou completamente fodido mas completamente certeiro do que preciso fazer.
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Accident- Rafe Cameron
FanfictionApós conseguir vaga na universidade, S/N Heyward se muda para Outer Banks para cursar seu tão esperado curso de jornalismo. Em busca de melhores condições de vida e sua estabilidade financeira, aceita o emprego de cozinheira na mansão dos Cameron'...