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Rafe

  Não me dou conta de que estou com a testa colada na barriga de s/n e grudenta por causa do gel, chorando como um bebê até que a médica chame minha atenção.
- Ah muito tempo eu não me emocionava com a reação de um papai em anos de medicina. — Ela fala secando as lágrimas.
  Estou tão emocionado, distribuindo milhares de beijos no rosto de S/N, a agradecendo tanto e sorrindo de orelha a orelha como se tivesse conquistado o mundo e realmente conquistei.
  O som das batidas do coração da minha filha, do meu tesouro, é a minha dose de nicotina diária, é tudo o que preciso.
- Uma garotinha, baby. UMA GAROTINHA. — Falo segurando o rosto de s/n com as duas mãos enquanto seco suas lágrimas e sorrimos um para o outro.

  A consulta chega ao fim e estou pagando o estacionamento enquanto S/N está afastada observando algo que não faço idéia do que seja.
- Vamos? — Falo a abraçando por trás ainda sorrindo como um pai babão.
  Ela assente sorrindo mais ainda e caminhamos juntos até o carro.
  Estou dirigindo com uma mão no volante e a outra em sua cocha e não sei por qual milagre divino, S/N não está dormindo.
- A gravidinha mais dorminhoca não está dormindo por que? — Brinco mas s/n só responde com um sorriso fraco no rosto.
- Aconteceu algo, linda? — Pergunto com receio dela não está tão feliz quanto eu.
- A médica te deu uma notícia ruim? Tá sentindo alguma dor? Não está feliz por ser uma menina? — Faço várias perguntas uma atrás da outra e meu peito já fica apertado com receio das respostas.
  S/N joga a cabeça para trás no banco e sei que está se segurando para não chorar e justamente por isso paro o carro no acostamento para poder olhar em seus olhos.
- Rafe... — Ela tenta falar mas para pra respirar.
- Rafe, você precisa de ajuda. — Ela fala alisando minha mão e toca levemente nos meus machucados.
- Eu amo cada detalhe em você, todos os seus mínimos defeitos e acertos.
- Eu não quero te moldar mas precisamos ser francos uns com os outros, você precisa ser franco consigo mesmo.
- Não dá pra continuar vivendo no automático porque uma hora ou outra a bomba explode e o meu medo Rafe é que você seja o disparo.
- Estamos passando por cima das coisas, atropelando os acontecimentos, fazendo da gravidez nossa fonte de energia mas temos outros assuntos, outros problemas.
- Eu confio em você, sei que não faria nada comigo mas não posso viver com medo de que você extrapole em algum lugar ou com alguma outra pessoa.
- Seu pai cortou vínculo com você, Rafe e desde então você nunca mais tocou no assunto e eu preciso que você fale. Preciso que você se abra, ponha pra fora, verbalize. — Ela fala acariciando minha bochecha de leve e seus dedos deslizam pela minha testa.
- Eu não posso fazer isso com você? — Peço baixinho.
- Pode, você sabe que estou aqui por você sempre, mas você precisa de ajuda profissional e eu não tenho como lhe dá esse suporte. — Ela abre a bolsa e pega um panfleto e coloca nas minhas mãos.
- Na mesma clínica fazem atendimentos, psicólogos, auto-ajuda, grupo de apoio. — Ela tira o cinto e senta cuidadosamente em meu colo por conta da barriga.
- Por favor, Rafe. Por nós. — Ela descansa minha mão em cima da sua barriga e eu a puxo para perto de mim para poder abraça-lá.
  Não sei o que responder agora mas acho que não preciso dizer nada porque apenas em silêncio somos capazes de nos entendermos e sermos um só então apenas ficamos ali conectados em um abraço sincero enquanto tento absorver todas as coisas que acabei de ouvir.

- UMA MENINA? — John B grita e suspende S/N a girando em seus braços.
- MEU DEUS, JOHN B. — Sarah grita batendo para que o fedido solte minha namorada.
- E foi ai que tudo começou a rodar, rodar e rodar e eu disse, segura mamãe nós vamos morrer. — JJ fala rodopiando na sala, imitando o bebê.
- Pelo amor de Deus alguém desinstala o IFunny desse cara. — Falo e dou um tapa em seu boné para que caia no chão.
  Como de costume os Pogues estão lá em casa, uma partida de futebol americano passa na TV, John e Sarah se divertem com Mike na varanda e o restante de nós estão largados na sala esperando a pizza chegar.
- E aí Gabriella, qual seu tipo? — JJ pergunta alto em meio a conversa.
  De imediato sinto as mãos de S/N tapando a minha boca e uma gargalha abafada escapa dos meus lábios.
- Eu não tenho um tipo. — Ela fala dando de ombros.
- Não tem um tipo? — S/a pergunta confusa.
- Vai que é tua, irmão. — JJ impulsiona Pope que abre um sorriso escancarado no rosto fazendo com que o clima do ambiente pese completamente.
- Garotas morenas de cabelo cacheado é tudo o que eu quero. — Seus olhos encontram os de Kiara e de imediato olho para s/n com sorriso divertido nos lábios.
- Você me deve cinco dólares. — Falo baixinho e perto de seus lábios para que só ela possa escutar.
- Vai a merda. — Ela sussurra.
- Vai tu. — Sussurro de volta e selo nossos lábios.

  Os meninos já foram embora e estou colocando os pratos no lava-louça enquanto S/n já está lá em cima com Mike me esperando para dormir.
  Subo as escadas cuidadosamente com receio de acorda-la e quando entro no quarto S/n já está enrolada com nosso cachorro, dormindo.
  Sua respiração é leve assim como suas feições, suas pálpebras relaxadas, sua barriga fazendo um único movimento de respiração e expiração, subindo e descendo, os cabelos espalhados pelo travesseiro e sua boquinha está fechada no formato mais lindo que já vi.
  Amo essa mulher. Amo o que construimos, essa fase da nossa vida que estamos vivendo juntos. Amo tudo o que ela me proporciona e como torna a minha vida mais leve e feliz. Amo o som da sua risada, a sua comida, o seu cheiro, os seus beijos e carinhos. Amo tudo nela.
- Vou marcar as sessões. — Digo enquanto a abraço por trás, a trazendo para meus braços.
- Como assim? — Ela pergunta confusa por conta do sono.
- Vou fazer o tratamento e atendimento com a psicóloga, vou procurar ajuda, vou mudar. — Digo em seu ouvido.
- Não é mudar, Rafe. — Ela fala se virando para olhar em meus olhos.
- Vou ser melhor por nós. — Falo roçando nossos lábios.
- Precisa fazer isso por você também. — Ela fala deslizando os dedos pelos meus braços.
- Eu sei, mas deixa eu começar por vocês primeiro, porque... — Tento falar mas minha voz trava completamente.
- Porque eu te amo, s/n. Amo a nossa família e eu faço o que for preciso pra te fazer feliz. — Falo quase sem ar de tão nervoso que estou.
- Você me ama? — S/n me pergunta com a voz fraca e só então me dou conta de que essa é a primeira vez que falei isso pra ela.
- Te amo. Te amo porque o meu dia é muito mais feliz quando você aparece pra encher a porra do meu saco. — Falo sorrindo para descontrair e vejo seus olhinhos lacrimejarem.
- Te amo, Rafe. — S/N sela nossos lábios e sua língua enrosca na minha em um beijo calmo, lento, doce e gostoso o suficiente para acender todo o meu corpo.
- É uma crueldade ter uma mulher tão linda do lado e não poder encostar um dedo nela. — Falo quando paramos o beijo mas continuamos com os rostos próximos um do outro.
- Eu te amo, baby mas você podia agilizar o lado e sair daí logo né? — Falo segurando a barriguinha de S/N e falando diretamente com o bebê.
- AI MEU DEUS!!!! — S/N grita tão alto fazendo meus ouvidos doerem.
  Sinto que meu coração parou de bater por um segundo.
  Estou paralisado, imóvel e praticamente sem respirar depois do que acabou de acontecer.
- Receba essa no meio da cara, papai. — S/N fala com a voz manhosa de choro porquê estamos ambos emocionados.
  A minha filha, pela primeira vez, se mexeu com chave de ouro dando um chute na barriga da mamãe no exato lugar em que eu estava segurando, fazendo com que minhas mãos e meu coração suem e vibrem na mesma intensidade e felicidade no calor do momento.

Accident- Rafe Cameron Onde histórias criam vida. Descubra agora