*Flashback: 2 semanas atrás".
S/N- Barbecue ribs, mesa nove! — Grito entregando a bandeja para um dos garçons do meu restaurante.
- Oi, Sab. Precisa de ajuda? — Pergunto a Sabrina enquanto passeio pela cozinha, checando cada um dos outros cozinheiros.
- Mexe essa panela, Andrew, tá muito devagar esses movimentos. — Alerto ao novo cozinheiro.
- S/N!! — O garçom entra, chamando minha atenção.
- Reclamação na mesa cinco.
- Motivo? — Pergunto enquanto provo do molho.
- Cabelo na comida, estão chamando a gerente do estabelecimento. — Ele fala, cabisbaixo por ter entregado os cozinheiros.
- Não acredito. Tem alguém aqui sem touca?
- Gente pelo amor de Deus, estamos em terceiro ligar do ranking dos melhores restaurantes de Outer Banks. Esses vacilos são inaceitáveis. — Falo irritada, tirando o avental e me arrumando para ir conversar com o cliente da mesa cinco.
- Todo mundo reforçando na toca, por favor. — Falo saindo da cozinha.
- O que eles pediram? — Pergunto ao garçom que me responde de imediato "buffalo wings".Estou caminhando apreensiva até a mesa.
É um casal sentado, conversando e por estarem de costas para mim não consigo ver suas feições mas espero que sejam das melhores.
- Boa tarde, S/N. Gerente e dona do... — Estou terminando de falar e só então me dou conta de quem são as pessoas.
- Do restaurante que o meu filho comprou. — Ward conclui minha fala, dando um belo gole na taça cheia de vinho.
- Carla Limbrey, prazer. — A loira me estende a mão para eu cumprimentá-la.
É claro que eu a conheço, é dona empresa, chefe de Rafe e inimiga de Ward. O que diabo eles estão fazendo juntos?
- Sente-se por favor. — A loira pede gentilmente.
- Na verdade agora estou em horário de expediente. Me chamaram aqui para falar sobre o cabelo na comida, certo? — Falo atordoada demais com toda confusão que se passa na minha cabeça.
- Sentimos muito pelo acontecido, fiquem tranquilos que arcaremos com todo gasto. — Estou pronta para dá meia volta e ir embora mas infelizmente sua voz chama minha atenção.
- Você não é mais a empregadinha de dezenove anos, acho que está claro que temos outros assuntos para tratar. — Ward fala tranquilamente.
- Não tenho assunto com você, Ward.
- Eu acho que tem. — Ward tira do bolso do paletó o celular e posiciona em cima da mesa, amostrando uma foto.
- Veja só, se não é a minha querida netinha... O que será que aconteceria se eu, sem mais nem menos, mandasse apagá-la de circulação? Acho que não queremos isso, certo? — Sua fala instiga o pior de mim e sinto uma raiva se instalar no meu peito.
- Colocou espião dentro da escola da minha filha? — Faço o possível para não gritar mas sei que minha voz saiu mais alta do que o normal quando outros clientes olham na nossa direção.
- Como se você não soubesse que tenho olhos em todos os lugares. — Ele faz descaso da situação, se recostando na cadeira e preciso me controlar para não voar em cima dele.
- Temos realmente muito o que conversar, S/N. Você se importa? — Ela aponta para cadeira em sua frente e a contragosto, para acabar logo com isso, me sento.
- Fala logo o que você tem pra falar. — Digo rispidamente e Ward sorri de canto de boca.
- O que eu tenho pra falar? Pouca coisa. Agora o que você tem pra fazer? Milhares. — Ward aproxima o corpo e meu estômago se embrulha.
- Estou abrindo uma filial em São Petersburgo agora, no próximo mês... — Carla começa a falar e desvio o olhar de Ward para poder fixar em seus olhos.
- Você sabe, Rafe é o meu melhor funcionário... O que eu posso fazer por ele, farei e justamente por isso quero ele nessa comigo.
- Você tem um restaurante lindo, crescendo todo dia mais, uma filha que nasceu e se desenvolveu aqui... Você não tem condições de se mudar para outro país agora, certo? — Ela continua falando e não estou gostando nem um pouco do rumo da conversa.
- Podemos fazer do jeito fácil. Posso trazer aos seus pés os melhores avaliadores da gastronomia no seu restaurante, posso mexer os pauzinhos e torná-lo conhecido, te tornar reconhecida... — Carla segura minhas mãos e olha fixamente em meus olhos.
- Você ficou louca? Está sugerindo para eu abandonar minha família? — Pergunto incrédula.
- Não estamos pedindo. — A voz grave de Ward ecoa pelo ambiente, chamando nossa atenção.
- Não estou dependendo da sua resposta, sua vadia de quinta. Já chega, Carla. Não vou me rastejar aos pés dela. — Ward começa a falar e meus joelhos começam a tremer pelo nervosismo.
- Estou cansado de aturar a anos você sugando a energia do meu filho, usando e abusando do seu dinheiro, se dando ao luxo até de ter um restaurante.
- Já chega de brincar de casinha, já chega de ludibriar a cabeça do Rafe com toda essa idéia ilusionista de "Família feliz", já chega de aproxima-lo daqueles Pogues malditos e afastá-lo de mim.
- Acha que eu o afastei de você? VOCÊ FEZ ISSO SOZINHO. — Grito alto o suficiente mas me arrependo na mesma hora e diminuo o tom de voz.
- Quando você diminuiu, inferiorizou e banalizou os sonhos e conquistas do Rafe.
- Quando você excluiu, manipulou e humilhou ele a vida inteira.
- Quando decidiu não se aproximar da sua primeira neta, Ward. Uma criança inofensiva que NUNCA lhe fez nada, eu NUNCA fiz mal algum a você.
- Acha mais fácil transferir uma culpa que é SUA pra mim? Se isso te faz conseguir dormir mais leve, dane-se.
- Mas não vai chegar aqui colocando banca, desmandando na minha vida, insinuando coisas as quais você mal sabe.
- Não dependo do dinheiro do Rafe, NUNCA precisei nem que fosse de um centavo dele.
- Não sou a vadia que você tanto prega, Ward.
- Você não vai chegar aqui e tentar destruir a minha família, porque você mal sabe o significado de uma.
- Você vai levantar esse seu traseiro e essa sua cara de merda e dá o fora daqui, porque de uma coisa você está certo, Ward; Esse restaurante aqui é meu. — Termino de falar e levanto estressada o suficiente para derrubar o prato e fazer um estardalhaço no chão.
Não dou a mínima importância e continuo andando firme para longe da mesa, quando mãos seguram firme meu pulso.
- O que é, Carla? — Me viro para olhar em seus olhos.
- Sobre a proposta de emprego, é melhor você conversar diretamente com ele. Eu não me meto em seus assuntos.
- Realmente, não tenho a mínima condição de ir embora agora mas pode ficar despreocupada que daremos um jeito. Não seremos o primeiro casal em relacionamento a distância, certo? — Falo no automático, tremendo de raiva ainda pelo Ward.
- Você é mãe, certo? — Sua voz me tira do meu transe e me concentro em sua fala.
- Se imagina longe da sua filha? Consegue imaginar se em alguma outra realidade a tivessem tirado brutalmente de você?
- Consegue imaginar você perdendo sua primeira palavra, o nascimento do seu primeiro dentinho, a primeira vez que ela andou, suas apresentações escolares, os abraços, beijos e carinhos, as gargalhadas infantis, os momentos em família e todas as outras coisas as quais vocês viveram nesses sete anos?
- Porque foi o que aconteceu comigo. — Seus olhos se enchem de lágrimas mas Carla os seca com toda frieza.
- Já se perguntou o porquê de tanta rivalidade entre Os Limbrey e Cameron's? Eu te respondo.
- Rafe. Ele é o nosso pivô. Não porque ele é estabanado, as vezes decai as taxas de vendas e diminui os dados da empresa.
- Ele é o motivo de absolutamente tudo.
- Ele é o motivo pelo qual acordo todos os dias de manhã, ele é o motivo pelo qual preciso viver e faz a mínima idéia do porquê disso? — Carla olha no fundo dos meus olhos e dessa vez sinto os meus lacrimejarem.
- Porque ele é meu filho.
- Rafe Cameron, é o meu filho. Meu único filho.
- Perdemos muito tempo, S/N. Eu perdi muito tempo, exatamente 26 anos.
- E eu preciso recuperar o tempo perdido, eu preciso recuperar o meu filho.
- Você é mãe, assim como eu e espero que você entenda.
- Rafe não vai embora sem você e no fundo? Você sabe disso.
- Mas eu não estou aqui lhe pedindo bandeira branca, estou lhe afirmando. Você vai embora da vida do meu filho.
- Porque acredite, Ward sem um pingo de remorso mata sua filha.
- Então se você tiver nem que seja o mínimo de sensatez, ou se tiver o mínimo de amor ao Rafe, vai nos dá essa oportunidade sem ocasionar estragos maiores.
- Não precisa fazer muito, apenas entregue esse teste de paternidade, o mate por dentro e deixe que eu cuido do resto. — Ela termina de falar e sinto minhas pernas bambearem.
- Estamos conversadas? — É a última coisa que ela fala mas não preciso responder porque não demora muito para a mesma se afastar de mim.
Estou atordoada, meu coração acelera disparadamente dentro de mim, minha cabeça roda e minha visão embaça de imediato.
É muita informação de uma hora só.
Rafe tem uma mãe.
A vida da minha filha está em risco.
Eu preciso partir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Accident- Rafe Cameron
FanfictionApós conseguir vaga na universidade, S/N Heyward se muda para Outer Banks para cursar seu tão esperado curso de jornalismo. Em busca de melhores condições de vida e sua estabilidade financeira, aceita o emprego de cozinheira na mansão dos Cameron'...